O divórcio
Há um descompasso entre a quantidade de uniões
(casamentos) e divórcios dos brasileiros.
Outrora, havia um fortíssimo preconceito e uma
pressão social para a manutenção do matrimônio,
ainda que os cônjuges fossem infelizes. Antes, o
instituto do desquite vigia no país e,
apesar de possibilitar a separação, não ensejava
nova união formal.
Com o advento da Lei de Divórcio e
modificações legais subsequentes, houve maior
liberdade das pessoas e, consequentemente, os
divórcios tornaram-se mais fáceis de serem
executados. Há casos específicos de que é
possível fazê-lo diretamente no cartório, sem a
morosidade e burocracia inerentes ao campo
judicial.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) demonstram que de 1984 a 2016 o
aumento de divórcios foi vertiginoso.
A este respeito, em “O Evangelho segundo o
Espiritismo” encontramos a preciosa
assertiva: “[o divórcio] é lei humana que tem
por objeto separar legalmente o que já, de fato,
está separado. Não é contrário à Lei de Deus,
pois que apenas reforma o que os homens hão
feito e só é aplicável nos casos em que não se
levou em conta a Lei divina”.
Portanto, não há que se propalar entre os
espiritistas certos absurdos relacionados ao
casamento como sendo uma “união eterna”;
ou “ele ou ela é meu carma do passado e eu
devo resgatar”; “vou até as últimas
consequências porque quero me ver livre dele ou
dela na próxima vida”; “tenho que
aguentar firme, porque o bônus-hora será maior”,
entre outros disparates.
É óbvio que se deve fazer o possível para manter
o equilíbrio do lar; do matrimônio. Não é
qualquer motivo que vai separar uma união
forjada no amor. Entretanto, não se pode ser
conivente com agressões físicas e/ou verbais em
nome de uma instituição assentada, em verdade,
numa máscara social, porque tenta transparecer
uma harmonia para o mundo exterior, mas no
cadinho doméstico há muita violência e agressões
acerbas.
A propósito deste tema, Gibran Khalil Gibran,
poeta libanês, ensinou-nos por meio de seus
belos versos sobre o Matrimônio:
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um
grilhão:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias
de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas não bebais na
mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do
mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas
deixai cada um de vós estar sozinho,
Assim como as cordas da lira são separadas e, no
entanto, vibram na mesma harmonia.
Dai vossos corações, mas não confieis a guarda
um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos
corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em
demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se
separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra
um do outro.
É curioso o pensamento deste homem que
desconhecia os ensinamentos espíritas. Em
verdade, ele estabelece as bases de uma relação
harmoniosa e em perfeita consonância com o
Espiritismo. Deve-se respeitar a
individualidade, o particular, o momento e o
espaço de cada um dos cônjuges.
Lamentavelmente, ultimamente, as relações estão
calcadas em atrativos superficiais e
temporários: a beleza física; os aparentes
recursos materiais; o status social...
Todos elementos pueris e que não servem de base
para a construção de um relacionamento sólido.
Quando eles se acabam, o encanto acaba. E advém
a dissolução do casamento.
Felizmente, é possível dissolver a união de
maneira civilizada e tentar nova etapa com mais
responsabilidade, comprometimento e amor. Sem
desejar que o (a) preterido (a) tenha insucesso,
infelicidade, enfim. É possível fazer tudo com
base na civilidade e respeito. E nunca se pode
olvidar que as lesões afetivas são dívidas
pesadíssimas para as próximas experiências
reencarnatórias, logo, “brincar” com o
sentimento alheio, jamais!
Casamento é etapa importante da vida que não
pode ser malbaratada. Não pode, igualmente, ser
levado às últimas consequências. Não deu certo,
o melhor a ser feito é cada um trilhar seu
caminho e manter a amizade e o respeito.
Referências:
GIBRAN, Khalil Gibran. O
Matrimônio. Disponível em < https://goo.gl/rqQkmu.
Acesso em 06/12/2018.
VEJA. “Um a cada três casamentos
termina em divórcio no Brasil”. Disponível em https://goo.gl/UgRu6B . Acesso
em 06/12/2018.
KARDEC, Allan. O Evangelho
segundo o Espiritismo. 131. ed. 1. imp.
(Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2013.