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por Marcos Paulo de Oliveira Santos

 
O divórcio


Há um descompasso entre a quantidade de uniões (casamentos) e divórcios dos brasileiros. Outrora, havia um fortíssimo preconceito e uma pressão social para a manutenção do matrimônio, ainda que os cônjuges fossem infelizes. Antes, o instituto do desquite vigia no país e, apesar de possibilitar a separação, não ensejava nova união formal.

Com o advento da Lei de Divórcio e modificações legais subsequentes, houve maior liberdade das pessoas e, consequentemente, os divórcios tornaram-se mais fáceis de serem executados. Há casos específicos de que é possível fazê-lo diretamente no cartório, sem a morosidade e burocracia inerentes ao campo judicial.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que de 1984 a 2016 o aumento de divórcios foi vertiginoso[1].

A este respeito, em “O Evangelho segundo o Espiritismo” encontramos a preciosa assertiva: “[o divórcio] é lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato, está separado. Não é contrário à Lei de Deus, pois que apenas reforma o que os homens hão feito e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a Lei divina”.

Portanto, não há que se propalar entre os espiritistas certos absurdos relacionados ao casamento como sendo uma “união eterna”; ou “ele ou ela é meu carma do passado e eu devo resgatar”“vou até as últimas consequências porque quero me ver livre dele ou dela na próxima vida”; “tenho que aguentar firme, porque o bônus-hora será maior”, entre outros disparates.

É óbvio que se deve fazer o possível para manter o equilíbrio do lar; do matrimônio. Não é qualquer motivo que vai separar uma união forjada no amor. Entretanto, não se pode ser conivente com agressões físicas e/ou verbais em nome de uma instituição assentada, em verdade, numa máscara social, porque tenta transparecer uma harmonia para o mundo exterior, mas no cadinho doméstico há muita violência e agressões acerbas.

A propósito deste tema, Gibran Khalil Gibran, poeta libanês, ensinou-nos por meio de seus belos versos sobre o Matrimônio:

Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:

Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.

Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.

Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho,

Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.

Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.

E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;

Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,

E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.

É curioso o pensamento deste homem que desconhecia os ensinamentos espíritas. Em verdade, ele estabelece as bases de uma relação harmoniosa e em perfeita consonância com o Espiritismo. Deve-se respeitar a individualidade, o particular, o momento e o espaço de cada um dos cônjuges.

Lamentavelmente, ultimamente, as relações estão calcadas em atrativos superficiais e temporários: a beleza física; os aparentes recursos materiais; o status social... Todos elementos pueris e que não servem de base para a construção de um relacionamento sólido. Quando eles se acabam, o encanto acaba. E advém a dissolução do casamento.

Felizmente, é possível dissolver a união de maneira civilizada e tentar nova etapa com mais responsabilidade, comprometimento e amor. Sem desejar que o (a) preterido (a) tenha insucesso, infelicidade, enfim. É possível fazer tudo com base na civilidade e respeito. E nunca se pode olvidar que as lesões afetivas são dívidas pesadíssimas para as próximas experiências reencarnatórias, logo, “brincar” com o sentimento alheio, jamais!

Casamento é etapa importante da vida que não pode ser malbaratada. Não pode, igualmente, ser levado às últimas consequências. Não deu certo, o melhor a ser feito é cada um trilhar seu caminho e manter a amizade e o respeito.

 

Referências:

GIBRAN, Khalil Gibran. O Matrimônio. Disponível em < https://goo.gl/rqQkmu. Acesso em 06/12/2018.

VEJA. “Um a cada três casamentos termina em divórcio no Brasil”. Disponível em https://goo.gl/UgRu6B . Acesso em 06/12/2018.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131. ed. 1. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2013.


 

[1] A este respeito ver: https://goo.gl/UgRu6B

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita