Todos vamos morrer
Bukowski registrou: “Todos vamos morrer, todos nós.
Que circo! Só isso deveria nos fazer amar uns aos
outros, mas não. Ficamos apavorados e somos esmagados
pelas trivialidades da vida; somos consumidos pelo nada”.
Curioso este pensamento de tamanha profundidade vindo,
justamente, de um boêmio e mulherengo. O interessante é
que ele tinha consciência da efemeridade da vida e, por
isso, conformar-se com a realidade da morte o fazia
viver cada dia de maneira intensa.
Sim, caro leitor, somos animais. Conforme-se com isso. E
temos limitações, imperfeições que precisam ser
trabalhadas em nossa curta existência. E a finitude da
vida é a nossa única certeza.
Só sabemos do fim, porque somos um animal especial,
temos a capacidade de refletir, fazer projeções,
mentalizar cenários, hipóteses, temos uma inteligência
que nos permite compreender a nossa vida e a nossa
morte.
Entretanto, o medo dela (a morte) faz com que nos
apeguemos demasiadamente a pessoas, a objetos e a
situações, tornando-nos escravos da matéria.
Dar pouca importância às questões materiais e se
preocupar mais com o que realmente é relevante, como uma
consciência profunda da realidade espiritual,
tornar-nos-ia muito mais felizes e menos preocupados com
o evento da morte.
A morte é um instante, inexorável. Não pensar sobre ela
não impedirá que ela não ocorra.
Viver cada dia como se fosse o último seria a meta mais
racional para termos uma vida mais factível e feliz. Não
demandaríamos muita energia em questões materiais; não
criaríamos laços de dependência emocional, vivendo
relacionamentos doentios e tóxicos; não discutiríamos
por questões de pouca monta; nem esbravejaríamos nas
redes sociais por causa de política (a perder tempo
precioso da vida, enquanto poderíamos fazer atividades
mais edificantes).
O velho e boêmio Bukowski tinha razão. Não podemos nos
perder nos emaranhados das trivialidades da vida.
A magna doutrina espírita já nos insta a essa reflexão
profunda. Ou seja, a dar menos importância aos aspectos
materiais e nos firmarmos em tesouros que a traça não
come e que o ladrão não rouba. Aos tesouros
espirituais...
Penso, honestamente e sem qualquer laivo de arrogância,
que as casas espíritas deveriam ofertar cursos,
reflexões, seminários sobre a morte e o morrer.
Embora a própria doutrina espírita seja uma constante
reflexão sobre o mundo espiritual, direcionar os estudos
para essas questões seriam relevantes para que as
pessoas (sobretudo espíritas) não tivessem temor da
morte.
Pensar sobre ela é a saída mais fácil de se diminuir o
medo. Assim, algumas dicas importantes:
1) Conversar
com os parentes sobre a possibilidade ou não de doação
de órgãos;
2) Falar
com os parentes sobre o testamento ou doações em vida
(muito mais prática juridicamente e rápida, na minha
opinião);
3) Comunicar
sobre o velório e se deseja ser cremado ou inumado;
4) Informar
sobre os procedimentos a serem feitos com os bens
pessoais (doar, vender, rifar);
5) Resolver
pendências administrativas/jurídicas que estejam ainda
vinculadas a órgãos do Estado;
6) Se
possível, tentar resolver as inimizades, desavenças
criadas com outras pessoas;
7) Criar
o hábito da oração como ferramenta de refrigério da alma
e de culto da saudade, com equilíbrio e amor.
Vamos morrer. E encarar este fenômeno natural é o
melhor caminho.
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