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por Marcos Paulo de Oliveira Santos

 

Todos vamos morrer


Bukowski registrou: “Todos vamos morrer, todos nós. Que circo! Só isso deveria nos fazer amar uns aos outros, mas não. Ficamos apavorados e somos esmagados pelas trivialidades da vida; somos consumidos pelo nada”.

Curioso este pensamento de tamanha profundidade vindo, justamente, de um boêmio e mulherengo. O interessante é que ele tinha consciência da efemeridade da vida e, por isso, conformar-se com a realidade da morte o fazia viver cada dia de maneira intensa.

Sim, caro leitor, somos animais. Conforme-se com isso. E temos limitações, imperfeições que precisam ser trabalhadas em nossa curta existência. E a finitude da vida é a nossa única certeza.

Só sabemos do fim, porque somos um animal especial, temos a capacidade de refletir, fazer projeções, mentalizar cenários, hipóteses, temos uma inteligência que nos permite compreender a nossa vida e a nossa morte.

Entretanto, o medo dela (a morte) faz com que nos apeguemos demasiadamente a pessoas, a objetos e a situações, tornando-nos escravos da matéria.

Dar pouca importância às questões materiais e se preocupar mais com o que realmente é relevante, como uma consciência profunda da realidade espiritual, tornar-nos-ia muito mais felizes e menos preocupados com o evento da morte.

A morte é um instante, inexorável. Não pensar sobre ela não impedirá que ela não ocorra.

Viver cada dia como se fosse o último seria a meta mais racional para termos uma vida mais factível e feliz. Não demandaríamos muita energia em questões materiais; não criaríamos laços de dependência emocional, vivendo relacionamentos doentios e tóxicos; não discutiríamos por questões de pouca monta; nem esbravejaríamos nas redes sociais por causa de política (a perder tempo precioso da vida, enquanto poderíamos fazer atividades mais edificantes).

O velho e boêmio Bukowski tinha razão. Não podemos nos perder nos emaranhados das trivialidades da vida.

A magna doutrina espírita já nos insta a essa reflexão profunda. Ou seja, a dar menos importância aos aspectos materiais e nos firmarmos em tesouros que a traça não come e que o ladrão não rouba. Aos tesouros espirituais...

Penso, honestamente e sem qualquer laivo de arrogância, que as casas espíritas deveriam ofertar cursos, reflexões, seminários sobre a morte e o morrer. Embora a própria doutrina espírita seja uma constante reflexão sobre o mundo espiritual, direcionar os estudos para essas questões seriam relevantes para que as pessoas (sobretudo espíritas) não tivessem temor da morte.

Pensar sobre ela é a saída mais fácil de se diminuir o medo. Assim, algumas dicas importantes:

1) Conversar com os parentes sobre a possibilidade ou não de doação de órgãos;

2) Falar com os parentes sobre o testamento ou doações em vida (muito mais prática juridicamente e rápida, na minha opinião);

3) Comunicar sobre o velório e se deseja ser cremado ou inumado;

4) Informar sobre os procedimentos a serem feitos com os bens pessoais (doar, vender, rifar);

5) Resolver pendências administrativas/jurídicas que estejam ainda vinculadas a órgãos do Estado;

6) Se possível, tentar resolver as inimizades, desavenças criadas com outras pessoas;

7) Criar o hábito da oração como ferramenta de refrigério da alma e de culto da saudade, com equilíbrio e amor.

Vamos morrer. E encarar este fenômeno natural é o melhor caminho. 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita