Rever conceitos
A alegria não está nas coisas, está em nós. Goethe
Para muitos pais, criança não sofre, não guarda mágoa ou
ressentimentos de situações dolorosas vividas. Muita
gente pensa que a criança vive num mundo de
brincadeiras, fantasia, alienadas dos acontecimentos
cotidianos. A realidade de um terapeuta, no entanto,
revela o contrário: a criança está articulada ao mundo,
ao seu contexto diário, e todo sofrimento percebido nos
entes queridos (ou causado por eles) a afeta
profundamente, suas emoções, seu comportamento, sua
maneira de pensar/sentir a si mesma e ao entorno que a
cerca.
Por ter uma forte sensibilidade sensorial e afetiva, a
criança é capaz de captar estados emocionais e as
alterações de humor das pessoas com quem convive
diariamente e, já na infância, toma isso para si como se
ela fosse a origem da infelicidade ou dos problemas dos
pais.
Uma criança pode, por exemplo, desenvolver medos
persistentes como uma forma de enfrentar um pai
violento, ou ser muito responsável, assumindo tarefas em
casa para proteger os irmãos, solidarizando muitas vezes
com uma mãe submissa.
Nós, adultos, embora nem sempre reflitamos de maneira
profunda, carregamos uma história pessoal e ensinamos
nossos filhos de acordo com nossa própria biografia,
valores e crenças. Se acertamos muitas vezes, de outro
lado cometemos também muitas falhas e que podem fazer
muito mal às crianças.
Qual é o existir natural de uma criança? É ser a criança
alegre, aventureira, cheia de ânimo. No dia a dia,
movida por curiosidade, brincar, sorrir, espantar-se.
Também é natural uma criança sentir frustração,
colocar-se bastante triste com a perda de seu bicho de
estimação, com a mudança de escola, com a morte de um
ente querido… No entanto, quando a tristeza perdura em
uma criança, guiando seu modo de estar no mundo
(atitudes em casa, atividades na escola…), essa criança
pode estar a sofrer, no contexto do seu lar,
negligência ou desvalorização, por exemplo.
Por sua vez, uma criança que é compreendida, escutada e
valorizada, está fortemente conectada com suas emoções e
em consequência contará com uma rotina mais harmônica.
Por isso, pais, é necessário avaliarmos sempre nossas
emoções, nossas ações, ou seja, refletir com cuidado
sobre nosso comportamento doméstico e rever conceitos,
atitudes, sempre que isso for necessário. Se os adultos
sabem como cuidar uns dos outros, as crianças crescem
nesse ambiente e, de maneira espontânea, aprendem a
amar, entender e fazer uns aos outros felizes…
Não há perfeição, sabemos disso, e não há uma receita.
Além disso, generalizar implica dar espaço para
injustiças, pequenos ou grandes sofrimentos. Contudo,
com disposição e atenção, sempre podemos refletir a
eficácia de nossos métodos ou nossa forma de educar as
crianças, buscando ajuda se for útil à harmonia da
própria dinâmica familiar. Afinal, já dizia Maria
Montessori, “a prova de sucesso da nossa ação educativa
é a felicidade da criança”.
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