Adversidade
Indagar quanto ao porquê das dificuldades que a vida
oferece ao homem será o mesmo que perguntar
relativamente aos motivos pelos quais o homem corta a
pedra para que a pedra venha a servir.
Abandone-se a enxada ao repouso permanente e, a breve
espaço, se fará imprestável.
Negue-se a fonte a transitar sobre os percalços do solo
e, a tempo curto, se transformará em tristeza do charco.
A rigor, a adversidade não existiria no mundo se
considerássemos as tarefas da existência física por
lições. Fizéssemos isso e todas as provas assumiriam as
dimensões que lhes são características, passando à
função de testes indispensáveis ao exame dos valores que
adquirimos.
Antes de nossa própria reencarnação, muito
frequentemente sabemos que se tomará novo berço para a
recapitulação de experiências em que não fomos felizes,
seja para ressarcir débitos que largamos à retaguarda,
com o objetivo de extinguir enganos perpetrados por nós
mesmos, a fim de nos entregarmos à execução de
compromissos alusivos ao burilamento íntimo ou no
sentido de reencontrar antigos desafetos para
transfigurá-los em laços de amor.
Reestruturadas, porém, as possibilidades de ação e
renovação a nosso benefício, habitualmente vestimos em
pessimismo as melhores oportunidades de melhoria e de
progresso, sem extrair delas o proveito preciso.
Reflitamos em semelhante realidade para facearmos as
lutas do caminho sem ilusões. Aceitemos construtivamente
os desafios e problemas que a vida nos proponha,
empenhando-nos a solucioná-los com segurança, sem a
volúpia de retê-los indefinidamente no coração.
Certifiquemo-nos, sobretudo, de que ninguém evolui sem
mudanças e de que não existem mudanças sem atritos ou
deslocamentos, conflitos ou desajustes.
À vista disso, reconheçamos que as crises da vida
aparecem na estrada de todos em auxílio de todos. E de
toda grande dificuldade, cada criatura, conforme as
reações que demonstre, se retirará maior para receber
encargos sempre maiores ou novamente ajustada às
dimensões de espírito em que ainda se encontra, a fim de
entrar outra vez, em ocasião oportuna, no clima da
adversidade educativa, para realizar renovados tentames
de elevação própria, em cujo trabalho se obriga a
revisar-se e recomeçar.
Do livro Abençoa sempre, obra
mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido
Xavier.
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