Os rejeitos e os efeitos brumosos
Aprendi com a Doutrina Espírita – e também com o
ritmo da vida – que existe algo chamado lei de
causa e efeito. Até com os desenhos animados eu
aprendi isso. Lembro bem de um episódio da
“Caverna do Dragão” em que o Mestre dos Magos
diz aos protagonistas que tudo o que fazemos de
bom ou ruim acaba voltando para nós, cedo ou
tarde.
Também aprendi com o Espiritismo que existe um
estado intermediário entre o corpo e o espírito.
Chama-se perispírito (o prefixo “peri” vem do
latim e significa em torno). O
perispírito é uma espécie de indumentária do
espírito e serve de ponte para comunicar ao
corpo sensações que o Espírito sente. Além
disso, no perispírito ficam registradas todas as
nossas ações. Se eu prejudico ou beneficio a mim
ou a outra pessoa, o perispírito registra. Por
isso, quando morremos, somos imediatamente
defrontados com nós mesmos por meio do que está
carimbado nesse sutil corpo espiritual. Se nossa
semeadura foi calcada no respeito, na ética e no
bem comum (apesar de nossos altos e baixos),
beleza! Se, contudo, me pautei por
mau-caratismo, arrogância, egoísmo, ganância,
falta de respeito aos semelhantes etc., lá vou
eu arcar com as consequências de tanta sujeira.
Falando em sujeira, dá para limpar o
perispírito? Claro! Para tanto, seria melhor
sabonete, detergente ou um bom removedor? Nenhum
deles. Nesses casos, apela-se para a
reencarnação. O novo corpo que irá abrigar o
espírito a partir da união entre óvulo e
espermatozoide irá fazer o download dos
arquivos do perispírito. Vai baixar essas marcas
todas. As consequências são doenças, limitações,
problemas psíquicos e congêneres. E também
potencialidades desenvolvidas, realizações
materiais e espirituais, no caso de boas
semeaduras. Dessa forma, o perispírito vai se
livrando das escaras por nós mesmos buscadas e
também fazendo as virtudes virem cada vez mais à
tona.
Estou dizendo isso tudo porque li no jornal
“Folha de São Paulo” uma matéria que diz que a
cidade de Brumadinho, recentemente vitimada pelo
rompimento de uma barragem de rejeitos minerais,
“pode ter surtos de dengue, febre amarela e
outras doenças”, segundo a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz).
Dias antes, no programa “Encontro com Fátima
Bernardes” (TV Globo), o jornalista e
ambientalista André Trigueiro chamou atenção
para o mesmo problema. Além das doenças já
citadas, decerto, segundo André, virão
depressão, doenças cardiovasculares, problemas
respiratórios devido aos moradores estarem
respirando poeira tóxica... Isso sem falar nos
danos ambientais à fauna, flora e águas
fluviais.
Tragédias como as de Brumadinho e Mariana
(2015), ambas em Minas Gerais, não foram
acidentes. Foram crimes resultantes de descaso,
lobbies financeiros e jurídicos, inépcia etc..
Portanto, há responsáveis que devem arcar com as
consequências.
Geralmente, quando falamos em resgate de débitos
contraídos em vidas passadas, tendemos a isolar
o fato cometido. Ou seja, se eu matei alguém com
um tiro no coração, na próxima encarnação terei
um problema cardíaco que irá aparecer lá pelos
50 anos, irá me incomodar por um bom tempo e me
levará a óbito. Com isso, ao regressar ao plano
espiritual, o perispírito estará limpo. Só que,
analisando-se as consequências materiais do
assassinato, depreende-se que a questão é mais
complexa. Se um pai, mãe, cônjuge ou filho da
pessoa que eu matei adoeceu, passou necessidade
ou até mesmo morreu devido ao assassinato por
mim cometido, isso também ficará registrado no
meu perispírito e requererá o concurso do tempo
(talvez várias encarnações) para que a faxina
perispiritual seja completa.
Fico, portanto, imaginando a situação espiritual
dos advogados que vivem de jatinho para lá e
para cá defendendo os interesses escusos das
mineradoras; dos políticos que afrouxam a
legislação; das autoridades que fazem vista
grossa quando o assunto é fiscalizar e também
dos donos das mineradoras, que passam por cima
de quesitos básicos de segurança para auferir
mais lucros.
E ponho-me a imaginar também na situação dos que
desviam verba da saúde, educação e merenda
escolar; dos que se locupletam em manter as
pessoas ignorantes e mal informadas; dos que
financiam o crime, o tráfico, a devastação
ambiental e por aí vai. E como vai!
É por essas e outras que muitos seres humanos
não saem do círculo vicioso das reencarnações
dolorosas.
Bibliografia:
1- ESTARQUE,
Marina – Brumadinho pode ter surto de dengue,
febre amarela e outras doenças, diz Fiocruz.
Disponível emhttps://goo.gl/KURjWv
2- Encontro
com Fátima Bernardes, TV Globo, 31 de janeiro de
2019.