De cá
Que amargo era o meu destino!…
Tristezas no coração,
Tateando dificilmente
No meio da escuridão…
Viver na Terra e somente
Remando contra a maré,
Com receio de ir ao fundo…
Nem tão boa coisa é.
Esta vida de sofrer
Trinta dias cada mês,
Entremeados de prantos,
Há quem estime? Talvez…
Mas para mim que só fui
Galeno sem nó, galé,
Tantas dores em conjunto
Nem tão boa coisa é.
Sentir as disparidades
Das vidas cheias de dor,
O mal sufocando o mundo,
Marchando com destemor:
Ver o rico andar de coche
E o pobre correndo a pé,
Tantas misérias sentir…
Nem tão boa coisa é.
O pranto ferve na Terra,
Salta aqui, salta acolá,
Nas guerras de toda parte,
Nas secas do Ceará;
Meus irmãos de Fortaleza,
Do Crato, do Canindé,
Ver uns rindo e outros chorando
Nem tão boa coisa é.
Ah! morrer e ainda sentir
Saudades da escravidão,
Da carne, do desconforto,
Da treva, da ingratidão…
Não é possível porque
Pobre filho da ralé
Casar-se com a desventura
Nem tão boa coisa é.
Mas falar demais agora
Já não é próprio de mim,
Não vou gastar minha cera
Com tanto defunto ruim;
Patetice é ensinar
Verdade aos homens sem fé.
Jogar pérolas a tolos
Nem tão boa coisa é.
Do livro Parnaso de Além-Túmulo, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.