Desconforto e progresso
espiritual: há relação?
Muitas pessoas têm uma
visão muito pálida a
respeito do que
significa evoluir
espiritualmente. Não
conseguem atinar com as
implicações advindas da
busca de tal meta.
Imaginam ingenuamente
que tamanha decisão não
terá muito impacto no
seu dia a dia ou na sua
maneira de viver. Ledo
engano! Na verdade,
abraçar o ideal da
autoiluminação não
prescinde, em hipótese
alguma, de ingentes
esforços e extrema
dedicação.
Semelhante ao pianista
virtuose que toca o seu
instrumento
diuturnamente, o
aspirante à evolução do
espírito necessita de
foco e prática
constantes no terreno da
solidariedade,
fraternidade e amor ao
próximo, de modo a
vencer as suas
imperfeições. Posto
isto, o candidato ao
progresso espiritual
deve ter em mente que
mudanças profundas em
sua personalidade, modo
de ver, conduta e
atitudes deverão ser
alcançadas.
Afinal de contas, o
indivíduo que não almeja
se desenvolver neste
aspecto, pouco ou
nenhuma atenção dá às
consequências dos seus
atos. Devido à excessiva
sedução pelos prazeres
materiais, os temas
transcendentais não lhe
repercutem no
consciente. Pode-se
dizer que a sua vida
mental é superficial,
aliás, como tudo o que
lhe cerca. Falta-lhe,
enfim, vontade e desejo
de conhecer a verdade no
seu sentido mais amplo.
Em essência, a sua
existência é repleta de
distrações e
passatempos, nada
sobrando para algo mais
sólido ou contemplação.
De maneira geral,
acalenta certo temor em
descobrir ou se
aprofundar nas sutilezas
do ser. Receia, por
assim dizer, em ser
apresentado aos deveres
e responsabilidades
intransferíveis da
própria
espiritualização. No
íntimo, perpassa-lhe a
ideia de perda, já que
enxerga a vida pelo
limitado prisma da
transação comercial.
Respondendo à indagação
que intitula o presente
artigo, há, sim,
considerável desconforto
em seguir a agenda do
espírito. Com efeito,
consideremos que mudança
sempre pressupõe revisão
e enfrentamento das
dificuldades, óbices e
desafios sob novas
premissas. Mudar
significa ainda alterar
o funcionamento das
coisas, que passam de um
estado geralmente
controlável para outro
desconhecido. Dito de
outra maneira, não
dominamos o que está por
vir. Assim sendo, a
única grande certeza que
temos é que nada será
como antes...
A propósito, o Espírito
Emmanuel, autor do
livro Caminho,
Verdade e Vida (psicografia
de Francisco Cândido
Xavier), analisa que
“Num plano onde campeiam
tantas glórias fáceis, a
do cristão é mais
profunda, mais difícil.
A vitória de seguidor de
Jesus é quase sempre no
lado inverso dos
triunfos mundanos. É o
lado oculto. Raros
conseguem vê-lo com
olhos mortais.
“Entretanto, essa glória
é tão grande que o mundo
não a proporciona, nem
pode subtraí-la. É o
testemunho da
consciência própria,
transformada em
tabernáculo do Cristo
vivo”.
Ainda neste diapasão, o
Espírito Joanna de
Ângelis esclarece, na
obra Em Busca da
Verdade (psicografia
de Divaldo Pereira
Franco), que “... a
existência humana é
construída de forma a
ensejar crescimento
emocional, destemor e
renovação constantes.
Aquele que não se renova
de dentro para fora não
consegue o
desenvolvimento do self, sempre
emaranhado na sombra,
deixando que tudo
aconteça à revelia”.
Pondera ainda a
benfeitora que “Há
contínuos desafios no
processo criativo do ser
espiritual que busca o numinoso,
a vitória sobre a
ignorância e o demônio do
mal interno”. Revelar
tal disposição é um ato
de coragem pelo qual
todos os indivíduos
haverão de passar um
dia. É o despertar do
Espírito,
provisoriamente em
trânsito pelas paisagens
materiais, para uma
realidade maior à qual
começa a se curvar. No
final, ele se habilitará
a vencer as suas
próprias imperfeições
milenares através de
experiências
depuradoras.
Mas seja lá o que vier
adiante, atendamos às
recomendações de Paulo:
“Não
sejais vagarosos no
cuidado; sede fervorosos
no espírito, servindo ao
Senhor; Alegrai-vos na
esperança, sede
pacientes na tribulação,
perseverai na oração;
Comunicai com os santos
nas suas necessidades,
segui a hospitalidade;
Abençoai aos que vos
perseguem, abençoai, e
não amaldiçoeis. Alegrai-vos
com os que se alegram; e
chorai com os que
choram; Sede
unânimes entre vós; não
ambicioneis coisas
altas, mas acomodai-vos
às humildes” (Romanos
12, 11-16).
Seguindo tal
receituário, o indivíduo
poderá efetivamente
avançar nas sinuosas
estradas do progresso
espiritual.
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