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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 
Desconforto e progresso espiritual: há relação?


Muitas pessoas têm uma visão muito pálida a respeito do que significa evoluir espiritualmente. Não conseguem atinar com as implicações advindas da busca de tal meta. Imaginam ingenuamente que tamanha decisão não terá muito impacto no seu dia a dia ou na sua maneira de viver. Ledo engano! Na verdade, abraçar o ideal da autoiluminação não prescinde, em hipótese alguma, de ingentes esforços e extrema dedicação.

Semelhante ao pianista virtuose que toca o seu instrumento diuturnamente, o aspirante à evolução do espírito necessita de foco e prática constantes no terreno da solidariedade, fraternidade e amor ao próximo, de modo a vencer as suas imperfeições. Posto isto, o candidato ao progresso espiritual deve ter em mente que mudanças profundas em sua personalidade, modo de ver, conduta e atitudes deverão ser alcançadas.

Afinal de contas, o indivíduo que não almeja se desenvolver neste aspecto, pouco ou nenhuma atenção dá às consequências dos seus atos. Devido à excessiva sedução pelos prazeres materiais, os temas transcendentais não lhe repercutem no consciente. Pode-se dizer que a sua vida mental é superficial, aliás, como tudo o que lhe cerca. Falta-lhe, enfim, vontade e desejo de conhecer a verdade no seu sentido mais amplo.

Em essência, a sua existência é repleta de distrações e passatempos, nada sobrando para algo mais sólido ou contemplação. De maneira geral, acalenta certo temor em descobrir ou se aprofundar nas sutilezas do ser. Receia, por assim dizer, em ser apresentado aos deveres e responsabilidades intransferíveis da própria espiritualização. No íntimo, perpassa-lhe a ideia de perda, já que enxerga a vida pelo limitado prisma da transação comercial.

Respondendo à indagação que intitula o presente artigo, há, sim, considerável desconforto em seguir a agenda do espírito. Com efeito, consideremos que mudança sempre pressupõe revisão e enfrentamento das dificuldades, óbices e desafios sob novas premissas. Mudar significa ainda alterar o funcionamento das coisas, que passam de um estado geralmente controlável para outro desconhecido. Dito de outra maneira, não dominamos o que está por vir. Assim sendo, a única grande certeza que temos é que nada será como antes...

A propósito, o Espírito Emmanuel, autor do livro Caminho, Verdade e Vida (psicografia de Francisco Cândido Xavier), analisa que “Num plano onde campeiam tantas glórias fáceis, a do cristão é mais profunda, mais difícil. A vitória de seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vê-lo com olhos mortais.

“Entretanto, essa glória é tão grande que o mundo não a proporciona, nem pode subtraí-la. É o testemunho da consciência própria, transformada em tabernáculo do Cristo vivo”. 

Ainda neste diapasão, o Espírito Joanna de Ângelis esclarece, na obra Em Busca da Verdade (psicografia de Divaldo Pereira Franco), que “... a existência humana é construída de forma a ensejar crescimento emocional, destemor e renovação constantes. Aquele que não se renova de dentro para fora não consegue o desenvolvimento do self, sempre emaranhado na sombra, deixando que tudo aconteça à revelia”.

Pondera ainda a benfeitora que “Há contínuos desafios no processo criativo do ser espiritual que busca o numinoso, a vitória sobre a ignorância e o demônio do mal interno”. Revelar tal disposição é um ato de coragem pelo qual todos os indivíduos haverão de passar um dia. É o despertar do Espírito, provisoriamente em trânsito pelas paisagens materiais, para uma realidade maior à qual começa a se curvar. No final, ele se habilitará a vencer as suas próprias imperfeições milenares através de experiências depuradoras.

Mas seja lá o que vier adiante, atendamos às recomendações de Paulo: “Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.  Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram; Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes” (Romanos 12, 11-16).

Seguindo tal receituário, o indivíduo poderá efetivamente avançar nas sinuosas estradas do progresso espiritual. 
 

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita