As
tragédias se avolumam na
Pátria do Evangelho
Temos de reconhecer,
independentemente do
nosso credo, que algo
muito tenebroso assola
presentemente esta
pátria. Acordarmos para
o enfrentamento de mais
uma jornada na matéria e
ouvirmos – quase sempre
- alguma notícia
negativa ou no mínimo
embaraçosa para nós
brasileiros.
Infelizmente, tem sido
assim nos últimos
tempos. Chamamos a
atenção mundial, cada
vez mais, por
protagonizarmos coisas
macabras e sinistras.
Para nós, que aqui
vivemos, significa
tempos difíceis e
dolorosos em termos
individuais e coletivos.
É também muito raro
alguma família passar
incólume aos males e
dificuldades que
assombram o país. O
certo é que estamos
vivendo um grave
momento.
Muitos dos males que nos
golpeiam dolorosamente
advêm – não há como
negar – do fato de que
somos muito
comprometidos perante as
leis de Deus. Ao que
tudo indica, o Pai
alocou para essa parte
do planeta almas
excessivamente
desalinhadas com os
objetivos celestiais,
isto é, fazer o bem,
buscar a coisa certa,
agir com ética e
cidadania etc. Cogitamos
que talvez seja por isso
que os escândalos e
tragédias estão
presentes, praticamente,
em todos os setores da
sociedade. Nem os
clamorosos erros
recentes parecem comover
certos personagens da
vida pública.
Chega a ser desdenhosa a
atitude dessas pessoas
diante da vida humana e
da natureza. A tragédia
de Brumadinho, por
exemplo, é fruto da mais
absoluta servidão aos
interesses de César. Não
sobra nem sequer
respeito a Deus e aos
semelhantes. Parece que
atingimos um novo
patamar de
irracionalidade ao
desconsiderarmos perigos
iminentes ou
experiências
malsucedidas. Nada toca,
assim deduz-se, o
coração desses
indivíduos frios e
calculistas. Desse modo,
a indagação de Jesus
permanece bem refletir o
dilema dos tempos
atuais: “E o que tens
ajuntado para quem
será?” (Lucas, 12:20).
Longe de compreender a
posição de destaque e o
poder temporal como
concessões provisórias e
passageiras, o indivíduo
divorciado do Evangelho
– a bússola moral mais
perfeita cedida à
humanidade – continua
arregimentando o que não
poderá carregar
além-túmulo. Refletindo
sobre essa realidade, o
Espírito Emmanuel
observa, no livro Caminho,
Verdade e Vida (psicografia
de Francisco Cândido
Xavier): “Por trás do
sepulcro, ponto de
chegada de todos os que
saíram do berço, a
verdade aguarda o homem
e interroga: - Que
trouxeste?”
Como poucos se dão conta
desse momento delicado,
responde o mentor:
“Examinada, porém, a
bagagem, verifica-se,
quase sempre, que as
vitórias são derrotas
fragorosas. Não
constituem valores da
alma, nem trazem o selo
dos bens eternos”. Em
outras palavras,
percebem que as vitórias
obtidas no corpo
perecível não passaram
de vitórias de Pirro.
Diante dos seus olhares
aflitos, provavelmente
quadros dantescos se
desdobram, no qual eles
tiveram papel
preponderante.
Voltando à terrível
tragédia de Brumadinho,
o jornalista Roberto
Pompeu de Toledo, com
muita propriedade
escreveu: “[...] Hoje,
Brasil afora e além, é
identificado com a lama,
e se fosse só a lama
seria pouco, pois sob a
lama há os corpos. As
imagens do exato momento
em que a barragem se
rompeu vão ficar para a
antologia universal das
imagens de terror como a
dos aviões a destruir as
torres gêmeas. Numa,
avançando de lado, a
lama é a língua de um
réptil gigante a buscar
humanos como se fossem
insetos: noutra vista de
frente, é monstro a
expelir vômito de
sujeira, veneno e morte.
O Brasil não tinha
terremoto nem tsunami.
A Vale encarregou-se de,
numa tacada, corrigir a
dupla falha”.
Tenho apenas uma
correção a fazer ao
brilhante comentário
acima: a tragédia foi
produzida por gente
abrigada sob o manto da
referida corporação.
Empresas não tomam
decisões por si mesmas.
Elas precisam de pessoas
para fazê-lo por elas.
Desse modo, as pessoas
que dirigem esse gigante
do minério mundial
subestimaram – como
aconteceu igualmente no
episódio anterior de
Mariana – todos os
perigos subjacentes ao
seu negócio, que, por
sinal, não são poucos.
Nesse caso, nem sequer
tiveram o bom senso de
proteger os seus
próprios funcionários,
que tinham o seu
refeitório adjacente à
montanha de resíduos de
ferro. Nenhum relatório
de potencial dano ou
risco foi suficiente
para a tomada de uma
ação minimamente
preventiva. Ou seja,
essa tragédia é
vergonhosa por qualquer
ângulo que se avalie.
Ela depõe contra a
inteligência e o senso
de empatia.
É claro que a omissão de
órgãos públicos, a
complacência de
políticos e a ganância
de executivos têm peso
considerável na dimensão
dessa tragédia.
Lamentavelmente, o que
resta é a certeza de que
a vida humana e o meio
ambiente ainda têm pouco
valor para muitas
organizações humanas e
os seus executivos nesse
dealbar de novo
milênio.
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