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por Bruno Abreu

 
Individualidade ou desapego?

 
Jesus Cristo deixou-nos, como ensinamento principal, o Amor a Deus acima de tudo, e ao próximo como a nós próprios. Na verdade, o primeiro mandamento contém o segundo, ninguém chega ao Pai sem amar os filhos, mesmo em condição humana, mas, por uma questão de compreensão nossa, deixou-nos claramente que deveríamos amar o próximo.

No decorrer de seus ensinamentos na Terra, formou uma “coletânea “de amor ao próximo, com a sábias palavras que serviram de escrituração do Novo Testamento, levando-nos ao impensável para a época, de amar o próprio inimigo. Na realidade, ainda nos é difícil perceber este ensinamento, temos uma tendência natural humana de o afastarmos de nós na prática, pela agressividade que vivemos diariamente. 

Outros, no entanto, pelo menos na teoria, felizmente nos parecem mais simples, tais como “que atire a primeira pedra quem não tem pecados…”, embora, na prática, a forma condenatória de medirmos nossos irmãos é uma realidade constante pelo formato de dualidade mental que analisamos a vida e os outros, entre o certo e o errado, com base em critérios pessoais.

No amar o próximo está contido o caminho da felicidade, quer dizer que, no contrário, está contida a infelicidade, será isto real?

Amar o próximo é trabalhar para um todo, em suma, para o que vulgarmente chamamos de trabalhar para a Obra de Deus. Madre Teresa de Calcutá deixou-nos uma linda frase que diz “as mãos que fazem valem mais que os lábios que rezam”.

Para vivermos em prol da totalidade da obra de Deus, não é necessário abandonarmos nossos afazeres, nossos trabalhos ou casas. A constituição social correta é a forma coletiva de banir os podres sociais, embora ainda vivamos uma época com demasiados podres que se salientam ao bem social, mas o princípio dos hospitais públicos, dos subsídios de desemprego, das próprias organizações dos sem-abrigo, que não existiam a uns séculos, são as provas que precisamos para ver claramente que a organização social pode e deve levar um rumo de trajeto em direção a uma sociedade livre e de interajuda aos mais necessitados, acabando com a fome e todos os outros podres humanos. Cabe-nos a nós a construção de um mundo feliz.

Partindo deste princípio, se numa balança colocarmos a nós e do outro lado o planeta, ou seja, as pessoas, os animais, a natureza, tudo o que é natural que não somos nós, o que deve pesar mais? Se o prato da balança em que nós estamos for o mais baixo, então estamos a olhar para nós. O ideal é que só um prato fique cheio, tornamo-nos unos com o Universo, passando a nossa importância a ser a importância deste.

Quando é que nós, isolados, pesamos mais na balança?

Quando damos mais interesse aos nossos desejos e aos nossos impulsos do que ao bem global.

O que isto é na prática?

Quando os meus pensamentos se afunilam no “eu”, então temos uma estrada para o Egoísmo, o Orgulho, a Vaidade, na generalidade para o fortalecimento da individualidade que se opõe ao Universo. 

A individualidade é a mãe das diferenças visíveis pela humanidade, que apenas existem em sua mente. Jesus nos aconselhou “se o teu olho te escandalizar, arranca-o…”, claro que estas diferenças se dão no pensamento, mas como poderíamos arrancar o cérebro? As diferenças levam-nos a ser agressivos para com os outros, ser prepotentes, superiores, criar todo o tipo de imaginação doentia humana para sobressair o valor do orgulho e a sensação do poder, que nos levam às guerras e às lutas, às ideias da diferença envolvidas pelo apego. Para nos zangarmos com outro temos de ter indignação pela “estupidez” ou “parvoíce” do outro, ou não?

O que causa a individualidade e consequentemente toda a sua agressividade? O mal que o outro me fez ou a indignação com que eu recebo seu ato por pensar que ele não deveria fazer diferente do que tenho como certo? Principalmente, se me atingir. 

Então aqui dá-se uma bifurcação em que temos de escolher o nosso caminho. 

Para um lado, o caminho que nos leva a uma espera esperança de que todo o mundo irá agir da forma que eu penso ser correta para que não me sinta indignado, e, consequentemente, irritado, zangado, agressivo, com ódio, egoísta, e por aí afora, que não haja trânsito para me frustrar, que os hospitais melhorem, em suma, que tudo fique como eu quero e se adapte às minhas vontades, o caminho da individualização, a totalidade de um Universo em uma Mente. 

Ou, por outro lado da bifurcação, o caminho do desapego à individualização, no qual posso me dirigir à resignação perante o movimento do Universo, quando as coisas não correm como eu quero, à paz interior pelo desapego ter-me oferecido a compreensão da pluralidade de feitios e desejos, e a maior das ofertas, a consciência de que este caminho é natural na humanidade e que aqueles que se mantêm firmes nos desejos individuais, chocando de um lado e do outro, estão ainda presos nas amarras da ilusão do “eu”. 

Qual a dificuldade de escolher um caminho que parece tão simples e nos leva à felicidade?

Não podemos simplesmente dizer “eu” quero, porque a forma que estamos acostumados a pensar e a viver há milhares de anos leva-nos a acreditar que é mais saborosa uma aquisição pessoal do que uma oferta ao mundo sem reconhecimento. Fazemos questão de ser reconhecidos até nos atos de bondade, enaltecendo a nossa individualidade, não percebendo que o ato de caridade não deveria ser um orgulho pessoal, mas uma tristeza, porque aquela necessidade “é filha” da sociedade humana à qual eu pertenço.

O caminho do desapego, estrada mostrada por Jesus, tem como maior adversário o “eu”, o desejo «de sermos algo”, porque “… o maior dentre vós será aquele que vos serve, pois quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado”. (Evangelho de Mateus, cap. 23, vv. 1 a 12.)

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita