Individualidade ou
desapego?
Jesus Cristo deixou-nos,
como ensinamento
principal, o Amor a Deus
acima de tudo, e ao
próximo como a nós
próprios. Na verdade, o
primeiro mandamento
contém o segundo,
ninguém chega ao Pai sem
amar os filhos, mesmo em
condição humana, mas,
por uma questão de
compreensão nossa,
deixou-nos claramente
que deveríamos amar o
próximo.
No decorrer de seus
ensinamentos na Terra,
formou uma “coletânea
“de amor ao próximo, com
a sábias palavras que
serviram de escrituração
do Novo Testamento,
levando-nos ao
impensável para a época,
de amar o próprio
inimigo. Na realidade,
ainda nos é difícil
perceber este
ensinamento, temos uma
tendência natural humana
de o afastarmos de nós
na prática, pela
agressividade que
vivemos diariamente.
Outros, no entanto, pelo
menos na teoria,
felizmente nos parecem
mais simples, tais como
“que atire a primeira
pedra quem não tem
pecados…”, embora, na
prática, a forma
condenatória de medirmos
nossos irmãos é uma
realidade constante pelo
formato de dualidade
mental que analisamos a
vida e os outros, entre
o certo e o errado, com
base em critérios
pessoais.
No amar o próximo está
contido o caminho da
felicidade, quer dizer
que, no contrário, está
contida a infelicidade,
será isto real?
Amar o próximo é
trabalhar para um todo,
em suma, para o que
vulgarmente chamamos de
trabalhar para a Obra de
Deus. Madre Teresa de
Calcutá deixou-nos uma
linda frase que diz “as
mãos que fazem valem
mais que os lábios que
rezam”.
Para vivermos em prol da
totalidade da obra de
Deus, não é necessário
abandonarmos nossos
afazeres, nossos
trabalhos ou casas. A
constituição social
correta é a forma
coletiva de banir os
podres sociais, embora
ainda vivamos uma época
com demasiados podres
que se salientam ao bem
social, mas o princípio
dos hospitais públicos,
dos subsídios de
desemprego, das próprias
organizações dos
sem-abrigo, que não
existiam a uns séculos,
são as provas que
precisamos para ver
claramente que a
organização social pode
e deve levar um rumo de
trajeto em direção a uma
sociedade livre e de
interajuda aos mais
necessitados, acabando
com a fome e todos os
outros podres humanos.
Cabe-nos a nós a
construção de um mundo
feliz.
Partindo deste
princípio, se numa
balança colocarmos a nós
e do outro lado o
planeta, ou seja, as
pessoas, os animais, a
natureza, tudo o que é
natural que não somos
nós, o que deve pesar
mais? Se o prato da
balança em que nós
estamos for o mais
baixo, então estamos a
olhar para nós. O ideal
é que só um prato fique
cheio, tornamo-nos unos
com o Universo, passando
a nossa importância a
ser a importância deste.
Quando é que nós,
isolados, pesamos mais
na balança?
Quando damos mais
interesse aos nossos
desejos e aos nossos
impulsos do que ao bem
global.
O que isto é na prática?
Quando os meus
pensamentos se afunilam
no “eu”, então temos uma
estrada para o Egoísmo,
o Orgulho, a Vaidade, na
generalidade para o
fortalecimento da
individualidade que se
opõe ao Universo.
A individualidade é a
mãe das diferenças
visíveis pela
humanidade, que apenas
existem em sua mente.
Jesus nos aconselhou “se
o teu olho te
escandalizar,
arranca-o…”, claro que
estas diferenças se dão
no pensamento, mas como
poderíamos arrancar o
cérebro? As diferenças
levam-nos a ser
agressivos para com os
outros, ser prepotentes,
superiores, criar todo o
tipo de imaginação
doentia humana para
sobressair o valor do
orgulho e a sensação do
poder, que nos levam às
guerras e às lutas, às
ideias da diferença
envolvidas pelo apego.
Para nos zangarmos com
outro temos de ter
indignação pela
“estupidez” ou
“parvoíce” do outro, ou
não?
O que causa a
individualidade e
consequentemente toda a
sua agressividade? O mal
que o outro me fez ou a
indignação com que eu
recebo seu ato por
pensar que ele não
deveria fazer diferente
do que tenho como certo?
Principalmente, se me
atingir.
Então aqui dá-se uma
bifurcação em que temos
de escolher o nosso
caminho.
Para um lado, o caminho
que nos leva a uma
espera esperança de que
todo o mundo irá agir da
forma que eu penso ser
correta para que não me
sinta indignado, e,
consequentemente,
irritado, zangado,
agressivo, com ódio,
egoísta, e por aí afora,
que não haja trânsito
para me frustrar, que os
hospitais melhorem, em
suma, que tudo fique
como eu quero e se
adapte às minhas
vontades, o caminho da
individualização, a
totalidade de um
Universo em uma Mente.
Ou, por outro lado da
bifurcação, o caminho do
desapego à
individualização, no
qual posso me dirigir à
resignação perante o
movimento do Universo,
quando as coisas não
correm como eu quero, à
paz interior pelo
desapego ter-me
oferecido a compreensão
da pluralidade de
feitios e desejos, e a
maior das ofertas, a
consciência de que este
caminho é natural na
humanidade e que aqueles
que se mantêm firmes nos
desejos individuais,
chocando de um lado e do
outro, estão ainda
presos nas amarras da
ilusão do “eu”.
Qual a dificuldade de
escolher um caminho que
parece tão simples e nos
leva à felicidade?
Não podemos simplesmente
dizer “eu” quero, porque
a forma que estamos
acostumados a pensar e a
viver há milhares de
anos leva-nos a
acreditar que é mais
saborosa uma aquisição
pessoal do que uma
oferta ao mundo sem
reconhecimento. Fazemos
questão de ser
reconhecidos até nos
atos de bondade,
enaltecendo a nossa
individualidade, não
percebendo que o ato de
caridade não deveria ser
um orgulho pessoal, mas
uma tristeza, porque
aquela necessidade “é
filha” da sociedade
humana à qual eu
pertenço.
O caminho do desapego,
estrada mostrada por
Jesus, tem como maior
adversário o “eu”, o
desejo «de sermos algo”,
porque “…
o maior dentre vós será
aquele que vos serve,
pois quem se exaltar
será humilhado e quem se
humilhar será exaltado”.
(Evangelho
de Mateus, cap. 23, vv.
1 a 12.)
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