Brasil
por Paulo Salerno

Ano 12 - N° 612 - 31 de Março de 2019

 

Divaldo Franco: “O trânsito no bem exige renúncia aos apelos do mundo e adoção de atitudes de autodoação”


O orador foi um dos conferencistas que participaram da XXI Conferência Estadual Espírita realizada de 15 a 17 de março em Pinhais, estado do Paraná


A XXI Conferência Estadual Espírita, promovida pela Federação Espírita do Paraná, foi realizada no período de 15 a 17 de março de 2019 no Expotrade Convention Center, Rodovia Deputado João Leopoldo Jacomel, 10.454, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. O tema deste ano foi: Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.

O evento foi transmitido por vários órgãos e meios de comunicação. O momento artístico esteve sob a responsabilidade do Coral Centro Espírita Ildefonso Correia, encantando o público sobremaneira. Adriano Lino Greca, presidente da Federação Espírita do Paraná, coordenou a abertura fazendo a apresentação de todos os expositores que atuaram nas atividades da XXI CEE no interior do Estado e dos demais que iriam participar da culminância desde grandioso e produtivo evento, bem como de lideranças espíritas de outros Estados, da Federação Espírita Brasileira e do Senador Flávio José Arns.

Jorge Godinho Barreto Nery, Presidente da Federação Espírita Brasileira, apresentou suas considerações iniciais, proferindo motivadora prece. Divaldo Franco, após ter sido apresentado belissimamente pela menina Sofia Maria Garcez, discorreu sobre o tema proposto: o vazio existencial.


A conferência inicial

Com base na obra O Estrangeiro, de Albert Camus (7 Nov 1913-4 Jan 1960), escritor, filósofo, romancista, jornalista francês e Prêmio Nobel de Literatura, nascido na Argélia, Divaldo Franco traçou o perfil psicológico do escritor como sendo alguém que não sentia emoções; sua vida era um vazio. Rollo May (1909-1994), asseverou o ínclito orador, afirmava que o individualismo, o sexismo e o consumismo contribuem fortemente para o estabelecimento de um vazio existencial. Por outro lado, Viktor Frankl (1905-1997) médico psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência, encontrou na condição e nas dificuldades de um prisioneiro de guerra o significado para a vida: viver! Ele entendia que o vazio existencial seria a própria morte. O sentido psicológico profundo para a vida, como meta essencial, é amar e servir ao próximo.

Percorrendo a história moderna, Divaldo Franco enumerou os malefícios do marxismo/comunismo, retirando dos indivíduos as aspirações mais nobres, levando-os a uma desvalorização humana, a negação da família e de Deus. As guerras na Coreia e no Vietnã e suas consequências para os nacionais e para os norte-americanos, cujos efeitos ainda permanecem, levou muitos a perderem o sentido da vida, seja pelos traumas, pelas drogas, ou pelo modo de viver. A criatura humana, ao contemplar exclusivamente os prazeres, as sensações, defrontou-se com o aparecimento da “AIDS”. Afadiga-se na busca da aparência social, desenvolve o hedonismo, esquecendo-se de que o trabalho em favor do próximo é o verdadeiro sentido da vida.

Jesus, o incomparável Mestre, viveu e ensinou que o amor é o sentimento que preenche qualquer vida vazia. Todos os que buscaram servir o seu semelhante, - os exemplos são inumeráveis -, jamais sentiram qualquer vazio em suas vidas, pois que estavam plenificados de amor ao próximo, tratando-o como gente. A Doutrina Espírita, um manancial filosófico, embasado nos ensinamentos morais de Jesus, é estruturadora de caracteres nobres e amorosos. A educação e a família são bases que precisam ser preservadas - apesar de sofrerem todo o tipo de ataques vis -, dignificando o ser humano, seja feminino ou masculino, que deve viver com ética, respeito ao outro, cumprindo os seus deveres, colhendo os direitos que lhe são inerentes.

O amor é a proposta de Jesus que Allan Kardec soube colocar em forma de caridade para preencher a vida com valores elevados. Ninguém morre, a vida prossegue e, no suceder dos evos, a família, o lar, é a escola dignificadora e educadora apregoada pelo Espiritismo, contribuindo para a formação do mundo regenerador. Todo o indivíduo que se melhora, ética e moralmente, é um construtor de um mundo novo de mais paz e amor, vencendo o mundo – as paixões, as negociatas -, como Jesus o fez.

Finalizando a brilhante conferência, Divaldo Franco asseverou que herói é o que dilui as suas más inclinações em seu mundo íntimo, exercitando o amor, valorizando a vida, que é cheia de bênçãos e é imortal. Aconselhou que cada um se conceda uma chance, que se ame, que se perdoe, pois que ninguém morre. Após declamar o Poema de Gratidão, de Amélia Rodrigues, o preclaro orador foi amplamente aplaudido de pé por milhares que o escutaram com profunda atenção.


Entrevista à TV e aos jovens

Em continuidade às atividades inerentes ao magno evento, no sábado, dia 16 de março, Divaldo Franco concedeu à Rede Massa de Televisão – SBT – uma entrevista comentando os valores humanos externos e internos, os éticos, a transição para o mundo regenerador, o afastamento da criatura humana de Deus e suas consequências nefastas, o vazio existencial, o sentido da vida, os valores éticos da mediunidade e, finalizando, deixou uma mensagem de amor, de otimismo, afirmando que a verdadeira felicidade é amar, e que através do amor poderá se tornar um servidor.

Na sequência, semeando a Boa Nova nos corações juvenis, Divaldo Franco respondeu a diversas perguntas adrede preparadas pelos jovens nos encontros em seus Centros Espíritas. O evento foi designado como: Momento - Jovens com Divaldo. Os temas giraram em torno do suicídio, notadamente entre os jovens, o livre-arbítrio, a ética, as obsessões, os impulsos avassaladores experimentados na juventude, os pensamentos e sua importância, a dinâmica para substituir pensamentos negativos pelos positivos.

Divaldo alertou que as situações mudam sistematicamente, recordando orientação de Emmanuel para Chico Xavier, quando instou o médium mineiro a escrever a seguinte sentença levando em consideração os aspectos positivos ou negativos da vida: “Isto também passa”. Asseverou ser necessário lutar contra as inclinações más, e que o amor ao outro deve se fundamentar nos valores de ordem superior e não nas aparências, sempre frágeis. Frisou que o amor é para sempre e que as ilusões sexuais são passageiras.

Sobre as influências dos Espíritos maus, o médium baiano destacou que eles costumam constranger, submetendo as suas vítimas, exigindo-lhes obediência. É necessário, frisou, não se deixar contaminar pela violência nem pelas tragédias, pois que são de todos os tempos e acompanham o homem que ainda não se moralizou o suficiente. Quando o amor se estabelece na base da sexualidade é sempre abrasador e fugidio.

Exortou os jovens a se tornarem cidadãos dignos, responsáveis, bons, testemunhando com tranquilidade os atos violentos e a própria violência. A criatura humana é a mesma, independente de lugar. É importante honrar a Pátria, desenvolvendo valores educacionais, aprendendo a tornar o País pacífico, próspero, cumprindo seus deveres para com a Pátria e a sociedade, desenvolvendo valores éticos, forjando caráter ilibado.

As relações familiares devem ser cultivadas em bom nível, diminuindo ou extinguindo os conflitos entre pais e filhos, lembrando que há, hoje, muitos pais que são ausentes nas vidas de seus filhos, quando deveriam se dar aos filhos, pois que o amor requer contato físico e que o respeito deve ser por amor e nunca por temor.

O papel dos pais, salientou o nobre médium, é o de educador, de desenvolver e estimular os bons hábitos, acolhendo seus filhos, antes que se percam nos desvãos da sociedade humana. Como educador por mais de setenta anos, Divaldo que já educou mais de cento e trinta mil, disse que pais e filhos têm sede de amor e que necessitam de carinho mútuo.

Finalizando o proveitoso encontro, Divaldo discorreu sobre as artes e a música, orientando para o discernimento entre o que é bom e belo e o que é pernicioso ao homem, o que é ético e estético. Estimulando os jovens presentes, disse-lhes que o futuro já chegou, pois que o futuro são os jovens da atualidade, ávidos por informação de qualidade e de alto nível.

 

“Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, de que esse Deus, soberanamente Justo e Bom, nada de injusto pode querer; e que o mal vem não dele, mas dos homens; todos se considerarão filhos do mesmo Pai e estenderão as mãos uns aos outros.” (Allan Kardec)

 

Seminário Luz nas Trevas

Antes do Seminário Luz nas Trevas desenvolvido por Divaldo Franco, Wagner de Assis, cineasta, apresentou dados sobre o filme que retratará a vida de Allan Kardec, seu legado, a importância na história da humanidade, e que deverá ser lançado em 16 de maio de 2019, bem como destacou a ação dos benfeitores espirituais viabilizando o filme.

Divaldo Franco, com eloquente verve, traçou os acontecimentos preparatórios para o evento que massacraria os huguenotes, - protestantes - e que foram perpetrados pelos soberanos católicos da França. O evento, que ficou conhecido como a Noite de São Bartolomeu, ocorreu em 24 de agosto de 1572,  e suas repercussões se estenderam no tempo. Em sua narrativa, Divaldo detalhou os preparativos, as vilanias, as tramas e manobras, sempre atendendo e visando o poder temporal de reis e rainhas, de religiosos e leigos. O massacre dos protestantes tingiu de sangue o rio Sena.

Foi uma das páginas mais negras da intolerância e das paixões humanas e que se desdobrou no tempo. Em 14 de julho de 1789, novamente em Paris, outra revolução aconteceu. Foi a tomada da Bastilha, um castelo medieval transformado em um paiol de pólvora, o maior da Europa. Os guardas, desatentos, foram dominados e a revolução se alastrou, apresentando resistência por parte da nobreza, sem contudo oferecer qualquer impedimento maior.

Os inimigos, aprisionados, julgados e condenados foram submetidos ao suplício na guilhotina, decepando um sem-número de cabeças. O terror tomou conta da França. A revolução preconizava a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Os ideais franceses ecoaram em Minas Gerais, e Tiradentes, o Mártir da Independência, pela sua postura ousada e desafiando as autoridades meramente temporais, foi enforcado e esquartejado. A Inconfidência Mineira aconteceu no mesmo ano da Revolução Francesa, 1789. Buscando a pacificação francesa, Napoleão Bonaparte tornou-se imperador em 2 de dezembro de 1804, ao mesmo tempo em que desmoralizou o Papa Pio VII.

A História é caprichosa, e em 3 de outubro de 1804, portanto dois meses antes, nascia em Lyon um menino de nome Hippolyte Léon Denizard Rivail. que mais tarde se tornaria influente educador e anos depois, sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo. Hippolytefoi dedicado discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi, emérito educador.

As luzes de Jesus alcançaram novamente a Terra, e a Doutrina Espírita se tornou realidade através do trabalho hercúleo de Allan Kardec sob inspiração de um grupo de Espíritos de escol, no histórico 18 de abril de 1857. O mundo estava em grandes transformações. Uma nova revolução se iniciou. Era a revolução filosófica espírita, lançando luzes sobre as sombras da ignorância e do radicalismo.

Os Benfeitores deram a sua assistência e acompanhamento à novel doutrina. Era o Espírito da Verdade, o Paracleto, a acolher o povo súplice e carente de afeto e amor. As manchas sociais vão sendo dissolvidas pelos doces e amorosos ares da caridade.

Diversas catástrofes continuaram a ocorrer, e a miséria humana estorcega, resistindo à ação saneadora que chegava aos homens através da Doutrina Espírita. Havia resistências, mas o amor do Cristo vivia no coração de muitos, testemunhando fé e confiança. As paixões estertoram, porém, com o pensamento em Cristo, aquele que é o Caminho da Verdade e da Vida, abre-se ao homem a possibilidade de encontrar Deus em seu interior, pois que a presença de Deus na sua criatura é um fascículo da luz divina em cada um. É a Era Nova.

O Consolador se apresenta em Paris, ainda com cicatrizes, porém, mais pacificada. Nem tudo está pacificado, há resistências. Jesus convoca o Espírito Ismael, preparando o Brasil para receber o Consolador Prometido. Assim, os franceses protagonistas da Noite de São Bartolomeu e da Queda da Bastilha, cerca de dois milhões, deveriam reencarnar em terras brasileiras, onde encontrariam receptividade ao Espiritismo. Tudo preparado, com a miscigenação de europeus, africanos negros e índios nativos e as bênçãos de Espíritos de escol, o Espiritismo floresceu na Pátria do Cruzeiro em meio às almas generosas.

Mais um passo haveria de ser dado, isto é, levar o Espiritismo de volta para a Europa e outras partes da Terra, confirmando o Brasil como Pátria do Evangelho, o coração generoso do Mundo.

Encerrando a notável conferencia, Divaldo Franco ressaltou a assertiva que Allan Kardec cunhou: Trabalho, Solidariedade, e Esperança, significando que é necessário possuir coragem para viver os postulados da Doutrina Espírita nos embates diários com as sombras. O homem, para que possa espelhar e expressar Jesus em sua alma carente de Sua presença, terá que resistir aos arrastamentos, construindo o mundo de regeneração dentro de si primeiramente.

Declamando o poema Meu Deus e meu Senhor, de Amélia Rodrigues, Divaldo foi efusivamente aplaudido pelo considerável público, cerca de 10.000, que envolvido em bênçãos, se movimentava paciente e calmamente demandando seus locais de repouso. O amplo ambiente estava tomado de vibrações benfazejas, atendendo cada presente.


Adendo

A partir do dia 15 de agosto de 1967, pelas ações corajosas de Divaldo Franco, o desbravador, secundado por outros brasileiros radicados no estrangeiro, o Espiritismo passou a ser difundido através de ações doutrinárias, divulgando a Doutrina Espírita, consolando e enxugando lágrimas, fundando instituições espíritas em várias cidades ao redor do Planeta, apresentando Jesus de Nazaré, aquele das Bem-Aventuranças. Países de regimes totalitários foram sendo conquistados amorosamente, pacientemente.

Eis alguns dados sobre as atividades de Divaldo Franco, conforme pesquisa realizada pelo Dr. Washington Luiz Nogueira Fernandes até o ano de 2010: - Desde a primeira palestra (28/03/1947) em Aracaju/SE, Divaldo percorreu 13.702.687 Km (treze milhões, setecentos e dois mil, seiscentos e oitenta e sete Km) (...) correspondem a dar ¨342¨ voltas ao redor da Terra (...) e ir ¨41¨ vezes até a lua (...). 976 foram as localidades (visitadas): (397 delas no Estrangeiro). (Proferiu) 7.793 palestras no Brasil e 3.410 no Exterior. (nos cinco Continentes)

Divaldo não dispõe da mínima estrutura e logística para viajar, nem mesmo abertura cultural, ou local para falar; tem atuado por puro idealismo, arrojo, intrepidez e desprendimento, muitas vezes às próprias expensas, contando com a colaboração voluntária de amigos residentes no exterior). Em 1967, ele foi convidado a ir por primeira vez a Lisboa/Portugal para palestras e, na volta, sozinho (por inspiração espiritual), ele foi a Madrid/Espanha, por conta própria, sem conhecer ninguém e nem ter sido convidado; os Espíritos indicaram pessoa na cidade para ele procurar e deram endereço (e tudo se desdobrou e as oportunidades aconteceram!). Interessante que ambos países (Portugal/Espanha) viviam Ditaduras e o Espiritismo era proibido (as reuniões que fez foram às escondidas; com perseverança incansável Divaldo tem viajado para lá ininterruptamente desde 1967, e hoje eles se tornaram os países mais espíritas da Europa!).

A história do Espiritismo na Europa, nas Américas e outras regiões da Terra, deverá ser contada com a inclusão desse homem singular: Divaldo Pereira Franco, o Arauto do Evangelho de Jesus Cristo, alma brasileira que acendeu a chama do Espiritismo nos cinco continentes e que é mantida acesa pela ação de muitos brasileiros residentes no Exterior. É o esforço missionário de Divaldo Franco na construção de um mundo novo, regenerador.

“A história é a pedra de toque que desgasta o erro e faz brilhar a verdade”. (Marco Túlio Cícero – Filósofo Latino).

“Uma filosofia superficial leva a mente humana ao materialismo, mas uma filosofia profunda conduz a mente humana a verdadeira religião (Lord Bacon).

São duas límpidas e profundas sentenças, enaltecendo o amor que canta um hino à beleza e à verdade.


Sandra Borba Pereira

Oradora e professora, do Rio Grande do Norte, apresentou a sua contribuição desenvolvendo o tema: Reencarnação como processo pedagógico. Após buscar os conceitos antigos sobre a reencarnação, a oradora destacou que o conhecimento facilita o avanço no progresso intelectual e moral. O verdadeiro significado de reencarnação é um mecanismo ou processo que o homem experimenta com vistas ao progresso humano. Não é um castigo de dor, mas oportunidades de crescimento.

A Doutrina Espírita descortina e revela a reencarnação como um mecanismo da providência divina que oferece oportunidades de crescimento espiritual. Discorrendo sobre o processo da expiação, disse que é responder ou receber o efeito de uma causa escolhida para o melhoramento da humanidade. A reencarnação envolve três grandes processos pedagógicos: a expiação para reparar segundo as escolhas feitas: a aquisição de maturidade espiritual; e a depuração da sociedade humana através do exercício da experiência.

Para bem aproveitar a reencarnação é necessário ter clareza sobre as próprias responsabilidades, sobre esse processo de aprendizado com a finalidade de alcançar o progresso. Na visão espírita não há retrocesso no processo, no máximo há estacionamento até que desperte, empregando o esforço próprio desde já. Sandra Borba alertou que a educação é responsabilidade dos pais, e o que mais dificulta é o conjunto das dificuldades pessoais e o entorno na criatura, onde o egoísmo, o orgulho e a vaidade vicejam. A reencarnação é oportunidade evolutiva e educacional.

Na reencarnação, jamais esquecer os compromissos assumidos, protelando ações no campo espiritual, a acomodação ante os desafios da vida e as escolhas. Finalizando deixou as seguintes inquirições: qual é o programa, o roteiro espiritual da tua atual experiência reencarnatória? O esforço realizado está à altura da tua necessidade evolutiva?

Em outro momento da XXI CEE, Sandra Borba discorreu sobre a reencarnação na codificação espírita. Esclareceu que a reencarnação permeia a Doutrina Espírita como mecanismo evolutivo crescente. Tomando como base mais ampla, a oradora se fixou em O Livro dos Espíritos, comentando e analisando diversas questões, principalmente as que apresentam e discorrem sobre os objetivos a serem alcançados através desse processo, até a conquista da perfeição relativa. A cada nova existência, o ser humano se melhora, progredindo paulatinamente, indeterminadamente, até depurar-se de suas imperfeições. A reencarnação é um processo que faculta o recomeço com justiça e se dá na Terra e em diferentes mundos.


Haroldo Dutra Dias

Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei foi o tema apresentado por Haroldo Dutra Dias, de Minas Gerais. Ao descrever a evolução antroposociopsicológica do homem na Terra, Haroldo destacou que no processo evolutivo passou a refletir e compreender os movimentos dos corpos celestes, ou a falta deles. Descobriu os ciclos da natureza, concluindo que há uma ordem cíclica perfeitamente ordenada.

Nômade, o homem, para sobreviver foi caçador e coletor de alimentos, passou, mais tarde, para a agricultura, a cuidar de animais, e na medida em que se fixava passou a observar os elementos da natureza, manipulando a matéria, o desenvolvimento dos elementos. Cidades foram construídas e a vida em comunidade foi outro fator de progresso, rico de experiências diversas, conforme o destino de cada um. Na esteira evolutiva dos renascimentos físicos, o homem foi aprendendo a fazer certo no tempo certo.

Na senda evolutiva, o ser humano buscou nas religiões e nas filosofias a explicação para as diversas diferenças humanas. A predestinação, a fatalidade, o desafio do céu e do inferno, a construção de Deus e da religião que os homens construíram, foram e são desafios que têm levado a criatura humana a manipular a matéria, criando elementos novos, como o grafeno, na química.

Como o homem não se encontra isolado na Terra, Espíritos mais evoluídos decidiram auxiliar a humanidade terrestre, apresentando o Consolador Prometido na forma de uma doutrina, o Espiritismo. Na Doutrina Espírita, o homem passou a compreender que a felicidade plena somente é experimentada com a conquista da plenitude. Aprendeu que não deve reclamar da colheita, mas sim se ocupar com o plantio. A evolução espiritual e a Doutrina Espírita revelam um Deus perfeito e justo, cujos postulados divinos são diversificados.

No domingo, 17 de março, Haroldo Dutra Dias retornou à tribuna para discorrer sobre reencarnação e renovação. Tomando por base o diálogo entre Nicodemos e Jesus, o expositor frisou que quem faz uma pergunta como a que está exarada em João, Capítulo 3 vv. 1 a 15, com aquele conteúdo, é capaz de responder. Assim, o tribuno indagou aos que lhe assistiam: “O que você está fazendo para viver melhor com o que já sabes compreender?” Colocando mais dúvidas sentenciou: “Se não sabes sobre as coisas terrenas, como falar das espirituais?” Para dirimir, explicou que todos os que se encontram reencarnados conhecem o mundo espiritual.

Na abordagem inquiridora, forçando reflexões, em outras palavras, indagou sobre quais são os sinais de Deus na própria vida, no cotidiano, na personalidade, destacando que quando Deus assina tem amor, justiça e caridade. Portanto, é fundamental identificar em si o que não está conseguindo renovar. Para alguns, as reencarnações são etapas que visam auxiliar o resgate de dívidas para com a Justiça Divina.

Deus não é manipulável, não apoia as atrocidades que o homem comete. Deus não compactua, porém, se aproxima ainda mais do filho equivocado, é misericordioso com o filho que errou, não com o erro. Ele está ao lado para ajudar na renovação de cada ser humano. Assim, pelas tendências, o ser humano saberá porque sofre, pois a sua luta maior é consigo mesmo. Segue e confie em Deus e Ele te ajudará, se desejares a renovação.


Sandra Della Pola

Escolhendo o progresso (Buscai e Achareis) foi o tema apresentado pela oradora espírita do Rio Grande do Sul que destacou as opções entre o buscar e o futuro que será construído com alegria ou tristeza, com o bem ou o mal que haja feito, isto é, a partir das ações do presente encontrará e formará o futuro conforme a causa atual. Os eventos da vida atual fazem parte das próprias escolhas e não dos eventos externos. Toda decisão gera um efeito correlato.

As escolhas são promotoras do futuro. É importante entender o processo evolutivo a partir de sincera análise sobre a realidade experimentada, descobrindo as viciações, as imperfeições morais, despertando para uma vida de paz e alegria. Assim, ressaltou: “As ações produzem resultados conforme as escolhas.” O conhecimento do bem e a sua prática possibilitarão fruir a felicidade, pois que terá a consciência tranquila. Ressaltando os apontamentos de Allan Kardec, Sandra Della Pola frisou que todo o pedido deve ter características de sinceridade, de humildade e de confiança na Providência Divina.

Há necessidade de aprender a escolher o progresso a ser realizado, bem como utilizar o conhecimento, elegendo os bens verdadeiros, com discernimento para bem pedir, definindo o que seja mais adequado. O resultado da vida está depositado nas mãos de cada um. Toda a aquisição no bem é investimento na alegria e na paz.

Outro tema abordado pela oradora gaúcha dentro da programação da XXI CEE foi: Conquistando o Progresso (Sede Perfeitos). Analisando as influências sutis, destacou que o desleixo para que as ocorrências se realizem, geralmente as negativas, os adiamentos, são brechas para que elas se instalem. Por outro lado, conhecer a importância de construir bons hábitos, com disciplina, realizando esforços para solidificar os pequenos progressos, vigiando as próprias condutas, as escolhas cotidianas, são escudos contra as influenciações sutis. O homem, pelos seus próprios esforços é capaz de vencer as imperfeições, no nível que lhe seja possível, empregando a disciplina de pensamento, a vigilância e o emprego da vontade.


Alberto Almeida

Natural do Estado do Pará, o expositor discorreu sobre a reencarnação, regressão de memória e Espiritismo. Foi enfático ao frisar que a Doutrina Espírita deve ser estudada e praticada com rigor em cada momento da vida. Os mecanismos da memória estabelecem as lembranças do passado e constroem o futuro. Os neurocientistas têm realizado esforços em determinar a sede da memória. Os estudos estão apontando para uma memória cerebral e outra extra cerebral, que transcende o corpo físico.

Hemendra Nath Banerjee (1929-1985), Ian Stevenson (1918 - 2007) e Hernani Guimarães Andrade (1913 - 2003) tiveram seus estudos apresentados pelo orador paraense, destacando que o cérebro é a expressão orgânica de um ser transcendente. Não é o corpo que sente as emoções, mas a consciência transcendente. O corpo é uma consequência da alma, é o instrumento do Espírito. A memória não está no cérebro, embora se expresse por ele, ela transcende a existência atual expressando-se desafiadoramente.

Alberto Almeida discorrendo sobre a regressão de memória, ou terapia de vidas passadas - TVP -, esclareceu que é uma experiência da ciência e a ciência estuda o homem, enquanto o Espiritismo estada a alma, e se fixa na progressão do ser humano, não na sua regressão. A regressão, destacou, deve ser utilizada para equacionar traumas, dores, não para fugir das consequências atuais. O Espiritismo se reveste de lucidez ímpar para não fazer da TVP uma panaceia. Enganam-se todos os que pensam que mergulhar no passado, as dores estarão resolvidas. Não é possível. Para tal, há que mudar as atitudes atuais para resolvê-las.

A Doutrina Espírita é um instrumento hábil para o desenvolvimento do autoconhecimento e para a autorrealização. É uma doutrina incomparável que colabora com a ciência, apesar de Allan Kardec não estar no panteão dos famosos homens comprometidos com o progresso da humanidade.

Em continuidade ao programa da Conferência, Alberto Almeida discorreu sobre o tema: Renasça, nesta existência, curando a sua criança interior ferida. Narrando uma história comovente e emocionante de uma família desestrutura emocionalmente, destacou o quanto o ser humano pode se endividar, ou se libertar, frente a Lei Divina. O personagem principal, cometendo um crime, foi sentenciado e preso. Refletindo na prisão, ele concluiu que aquele período vivido na penitenciária lhe ensejou descobrir um homem diferente, que embora não merecesse o perdão, compreendia que era um ser humano que estava se redescobrindo.

Assim, quando o ser humano reencarna, necessita ser amado pelo lar que o acolhe com amorosidade, compondo-se dignamente, sendo nutrido alimentar e afetivamente. É papel da família acolher e aceitar a criatura como ela é para poder educá-la, respeitando e trabalhando as sombras, dando-lhe oportunidade de renovação. A pior dor é a da rejeição, o abandono por parte dos pais. O rejeitado imagina não ser aceito, embora cumulado de presentes, não recebe o afeto. A fórmula é: menos presentes materiais e mais presentes afetivos, isto é, ser mais presente na vida dos filhos.

Há em qualquer ser humano a presença divina. A atenção dispensada ao membro da família fará, que aos poucos, o reajustamento aconteça na medida que receba o amor, sem distinção. Isso não significa validar o erro. Os pais devem aprender a distinguir o erro, tanto quanto distinguir o filho de seus comportamentos. Ao estabelecer uma relação de confiança com os filhos, que são Espíritos reencarnados, desde as fases iniciais do processo reencarnatório, passando pela gravidez e se desdobrando nas fases infantis e juvenis, é possível construir elos de amor e afetos profundos, curando almas enfermas.

A divindade é a realidade espiritual do ser humano. Para um crescimento espiritual é necessário resgatar a criança interior, dando-lhe o que faltou, resgatando o autoamor, conforme Jesus se apresenta na vida de cada um. A ação exterior é reflexo do interior da criatura humana. Aquele que é amado é capaz de vencer os obstáculos da reencarnação cumprindo a sua missão.


Encerramento

A XXI Conferência Estadual Espírita foi encerrada em 17 de março com a presença de cerca de dez mil participantes. Estiveram presentes 112 caravanas de quase todos os Estados, uma do Paraguai e outra do Uruguai. Foram 462 cidades conectadas, totalizando 230.000 conexões em 35 países dos cinco continentes. Após belíssima apresentação musical com os músicos Cristiana e Marcelo e a participação especial de Juan Danilo Rodríguez, Adriano Lino Greca, Presidente da Federação Espírita do Paraná, agradeceu o profícuo trabalho realizado pelos funcionários, voluntários e empresas parceiras, viabilizando o grandioso trabalho doutrinário.

Divaldo Franco, abordando o tema Jesus e Vida, destacou que na velha Palestina, na baixa Galileia, junto ao lago Genesaré, Jesus contemplava o outro lado, formado por uma cadeia de montanhas, em cujo topo se encontrava a cidade de Gadara. Ali, naquela região se localizava a Decápolis, detestada pelos judeus, haja vista que seus habitantes criavam porcos. Foi nesse cenário, no mês de Nissan (março/abril) com temperatura amena e o ar perfumado pelas rosas, que o Mestre Galileu, tomando o barco de Pedro, atravessou o lago, desembarcando em singela praia, no contraforte da montanha. Aqueles eram tempos difíceis.

O Mestre intentava visitar a comunidade malsinada e odiada pelos judeus. Subindo a escarpa, no primeiro platô havia um pequeno cemitério abandonado. De uma sepultura saltou alguém desgrenhado, gritando, - o que tens contra nós? E Jesus indaga: - e tu, quem és? Ao que recebe como resposta: - Legião, nós somos muitos, não nos mande para o Hades, deixe-nos, ao menos, ficar junto aos porcos. Não nos mande para as Geenas!

Jesus, então, ordena: - Legião! Sai dele! E o possesso, aturdido levanta-se, perguntando: - Senhor! Que queres que eu faça? Deixando livre o subjugado, aqueles Espíritos perversos se imantaram aos porcos, que aturdidos, se atiraram do alto daquele precipício. Aquele homem, possesso, estava há vinte anos sob o domínio ultrajante, vivendo no cemitério. Foi curado, e sorrindo, dizia a todos que havia sido Ele, Jesus, que o havia curado.

Ao mesmo tempo os gadarenos, que cuidavam os porcos, O amaldiçoaram por terem perdido seus animais, dizendo que não O queriam em Gadara, pois que o Mestre era judeu, recomendando que não voltasse mais, suplicando que os deixassem em paz. Alguém mais exaltado lançou uma pedra que raspou uma face do rosto de Pedro. Ide de volta, vociferaram, que Te vá, deixa-nos em paz, já perdemos os nossos porcos. Alguns gadarenos curiosos perguntavam-se entre si, quem era Aquele homem. Não sabiam responder, não haviam indagado sobre o visitante, nem mesmo procuraram saber o que viera ali fazer. Expulsaram-No sem consciência do ato.

Ele, acompanhado pelo recém-liberto e os demais, embarcam de volta. Os gadarenos haviam trocado Jesus pelos porcos. É um exemplo de obsessão coletiva, e a legião, também, se apossou dos demais criadores de porcos, desperdiçando a oportunidade de ascensão vertical, preferindo a horizontal, a que contempla os bens materiais.

Na atualidade, destaca o tribuno Divaldo Franco, o homem experimenta a mesma situação, ou seja, a opção pela evolução horizontal, apegando-se aos bens e serviços oferecidos pela ciência e a tecnologia, desprezando o crescimento em sentido vertical, o que conduz a Deus. Assim se dá com os que, conhecendo o Mestre, O admiram, porém não dão o testemunho da ação e do trabalho praticando o bem, doando-se ao próximo, como fizeram Francisco de Assis, Tereza D’Ávila, Madre Teresa de Calcutá e muitos outros.

Divaldo Franco ensejou reflexões profundas, levando o público a realizar uma autoanálise sobre o comportamento com o próximo, ao viajar na vida e nas ações daqueles que tendo conhecido Jesus, mudaram radicalmente suas vidas, doando-se aos necessitados, em nome Dele. O exemplo do Mestre é marcante, capaz de transformar vidas.

Nestes dias tumultuados, o ser humano não pode trocar Jesus pelos porcos, uma representatividade da iniquidade dos indivíduos. Ele é o que consola, que alivia a fadiga, que diminui as dores e os sofrimentos. Os maus desejam submeter os incautos. O trânsito no bem exige renúncia aos apelos do mundo e adoção de atitudes de autodoação.

Divaldo Franco, parafraseando Chico Xavier, disse que contempla a cada um e os toma por irmãos do arco-íris, agradecendo em nome daqueles cujas vidas tinham por cobertura os seres do arco-íris. Quero te agradecer porque são luminosos os dias que estamos vivendo.

Neste momento, Bezerra de Menezes, Espírito, assim se manifestou pela psicofonia de Divaldo Franco:

É muito difícil a travessia do abismo sem a ponte do amor. A grande noite de estrelas luminíferas vai cedendo lugar à estrela máxima do dia. É a noite que precede o amanhecer da Nova Era. Jesus, filhas e filhos do coração, espera que cumpramos o nosso dever, e este dever é o de nos darmos uns aos outros, com fidelidade, com ternura. Não vos preocupeis com os espinhos da estrada, nem com as dores. Se não tivesse havido a morte não existiria a ressurreição. Então, é necessário que morram as paixões inferiores para que resplandeça a luz da verdade em nossos corações. Este é o momento de festival do ego, e as forças tenebrosas de ontem, de hoje e um pouco de amanhã enfrentam Aquele que é o caminho da verdade, que é a vida pelos caminhos da luta. Exultai porque conheceis Jesus, e exultai mais ainda porque Ele está anotando os vossos nomes no Livro do Reino dos Céus. Não vos deixeis aturdir pelo tumulto, mantei-te na paz a qualquer preço. Não vos preocupeis com aqueles que se vos fazem inimigos. Que vos cuideis de não ter inimigos, de não ser, porque muitos outros passarão pelo caminho para vos esbordoar em nome Daquele que recebeu a bofetada tendo as mãos atadas as costas, porque o Evangelho é o renascer da vida que nos chega na segunda volta de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ide e vivei o Evangelho, avançai no rumo certo da verdade e amai a qualquer preço. Não há outra alternativa senão o amor para este momento de total integração no espírito da vida. Que nos abençoe o Mestre de todos nós e recebei o abraço afetuoso dos Espíritos espíritas que aqui estamos convosco nestes dias de conquista da plenitude espiritual. Muita paz, meus amigos, e o carinho do servidor humílimo e paternal de sempre. Bezerra.

Cumulados de muitas bênçãos, os que ali se encontravam, saíram usufruindo de bem-estar, alegria, confiança e esperança, cientes de que tudo é possível aos que trabalham amorosamente na seara divina, desfrutando dos investimentos espirituais aplicados concomitante a novas aplicações lastreadas no amor a si, ao próximo e a Deus.

 

Nota do Autor:

As fotos que ilustram esta reportagem são de Jorge Moehlecke.


 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita