Impossível sustentar a paz sem a
observância das Leis de Deus
Rememoremos Jesus: "Deixo-vos
a paz, a
minha paz vos dou; não
vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o
vosso coração, nem se atemorize". (1) Hoje
expande-se a cultura de guerra (violência) e não de paz
(fraternidade). Os heróis da infância cibernética, em
sua maioria, são guerreiros, saqueadores e sanguinários.
As “historinhas” infantis em quadrinhos e os games
sempre estão superlotados de sensualismos e de
inimagináveis violências. É urgente criarmos uma cultura
de não violência, de bom senso, de tranquilidade, de paz
(não essa "paz" conquistada por convenções legais ou
diplomáticas), mas uma paz proveniente de uma convicção
profunda, íntima, que o verdadeiro homem de bem externa
em cada gesto, cada palavra, cada pensamento ou cada
decisão.
O Século passado foi o período histórico mais sangrento
de todos os anteriores. Após (isso mesmo, APÓS!) a
Segunda Guerra Mundial, já ocorreram quase 200 conflitos
bélicos, resultando em mais de 40 milhões de mortos. Se
contabilizarmos os resultados dessas calamidades morais
desde 1914, estes números sobem para mais de 400
conflitos belicosos e quase 200 milhões de mortos, numa
projeção bem superficial.
Para o dicionarista Aurélio Buarque, a paz pode ser
definida como ausência de lutas, de violências ou de
perturbações sociais; pode ser tranquilidade pública.
Pode ser, ainda, ausência de conflitos íntimos, ou seja,
tranquilidade de alma. O filólogo também conceitua paz
como situação de um país que não está em guerra com
outro, ou, ainda, restabelecimento de relações amigáveis
entre países beligerantes com a cessação de hostilidades
etc.
Como se observa, para o dicionarista, a paz é
tranquilidade pública, sem perturbações sociais, porém
é, além disso, a ausência de conflitos íntimos, é
equilíbrio interior, e aí está a definição mais
importante.
Jesus declarou que nos daria a sua paz, que deixaria
para nós a sua paz, e, neste instante em que a
humanidade tanto se desentende, a busca da paz tem sido
um delírio constante. Em verdade, a nossa paz, quase
sempre, é construída com a infelicidade alheia. Por
isso, temos de dar a nossa paz para o semelhante e não a
reter, sendo o único beneficiado.
Enquanto não distribuirmos o supérfluo, ou mesmo parte
do necessário, deixando de beneficiar quem está em
piores condições, por maior que seja a nossa "paz", ela
será aparente e nada produzirá de útil. Jesus nos
deixou, há 2.000 anos, a grande lição do amor, a fim de
que chegássemos ao estágio de perfeita harmonia
interior. O Mestre Galileu avisou: "Um novo mandamento
vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos
amei" (2) e, logo adiante, acrescentou: "Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns
aos outros". (3)
Dentre as possibilidades da conquista da harmonia
íntima, é na "caridade que devemos procurar a paz do
coração, o contentamento da alma, o remédio para as
aflições da vida". (4) A caridade bem compreendida é
mais importante do que os fenômenos mediúnicos, do que
as pesquisas científicas, do que a fé, do que a esmola,
do que o sacrifício. Quem diz isso é Paulo de Tarso,
ouçamo-lo: "Ainda que eu falasse línguas, as dos homens
e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como
um bronze que soa ou como um címbalo que tine. (...)
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos
famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se
não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria". (5)
Ao Espiritismo está reservada a tarefa de alargar os
horizontes das propostas de pacificação nos domínios da
alma, contribuindo para a solução dos enigmas que
atormentam o homem contemporâneo, projetando luz nas
questões, quase que indecifráveis do destino e do
sofrimento humano.
Por oportuno, evocamos um trecho do Espírito Neio Lúcio
que cita, no último capítulo do livro Jesus no Lar:
"(...) Após o último culto doméstico na casa de Simão
Pedro, nas vésperas de embarcar para a cidade de Sidon,
o Mestre abriu o livro de Isaías e comentou-o com
sabedoria, após o que, proferindo a prece de
encerramento, advertiu: - Pai, ajude os que não se
envergonham de ostentar felicidade ao lado da miséria,
do infortúnio e da dor. (...). Ergue aqueles que caíram
sob o excesso do conforto material". (6) A felicidade é
mediata, vazada na elaboração das fontes vitais da paz
de todos, a começar hoje e nunca terminar, até porque a
alegria de fazer alguém feliz é a felicidade em forma de
alegria.
Jamais olvidemos que é impossível deter a paz em
abundância sem a máxima observância dos desígnios
divinos, sintetizados no Evangelho e desdobrados ao
nível da cultura contemporânea pela Terceira Revelação.
Referências bibliográficas:
(1) (Jo 14:27).
(2) (João, 13:34-35)
(3) idem
(4) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo
o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 2006, Cap. 13, item 11.
(5) (1 Cor 13,1-3).
(6) XAVIER, Francisco Cândido. Jesus
no Lar, ditado pelo Espírito Neio Lúcio, RJ: Ed. FEB
1999.
Jorge Hessen é
membro do Conselho Editorial desta revista.
|