Artigos

por Marcos Paulo de Oliveira Santos

 

Não julgueis


Não julgueis, a fim de não serdes julgados; porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros. (Mateus, 7:1 e 2.)

Então, os escribas e os fariseus lhe trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e, pondo-a de pé no meio do povo, disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em adultério; ora, Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?” — Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar. Jesus, porém, abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. Como continuassem a interrogá-lo, Ele se levantou e disse: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. — Em seguida, abaixando-se de novo, continuou a escrever no chão. Quanto aos que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar daquele modo, se retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a sós com a mulher, colocada no meio da praça. Então, levantando-se, perguntou-lhe Jesus: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” — Ela respondeu: “Não, Senhor”. — Disse-lhe Jesus: “Também Eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar”. (João, 8:3 a 11.)


Extremamente profícua esta passagem do Evangelho.    

Jesus, o Psicoterapeuta por Excelência, empreende um novo olhar para a situação. Primeiro, ao ser indagado sobre a Sua interpretação acerca do adultério da moça, ele se pôs a escrever com o dedo na terra. O que será que Ele estava a escrever?

Vi e ouvi de uma palestrante, que Jesus escrevia com o dedo sobre a terra, palavras nada aleatórias como "venal"; "lascivo", entre outras. Que na verdade eram características dos presentes. E, cada um, curioso, ao ver a sua própria imperfeição e tomado de uma reflexão, pensava sobre a própria ação violenta contra a moça.      

Depois de provocar essas profundas autoanálises nos presentes, o Mestre ordenou: "Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra". Esta afirmação foi a responsável pela retirada de todos que desejavam punir a pobre mulher. Curioso que os homens nunca eram punidos. Apenas as mulheres. Como se a traição fosse possível sozinha.

Ademais, após avaliarem a situação, terem consciência do que seus atos poderiam causar, os presentes concluíram que era uma penalidade desproporcional, fruto dos instintos primitivos que dominavam as nossas ações outrora.

Por fim, numa situação hipotética, se houvesse alguém que não tivesse pecado e decidisse lançar uma pedra contra a senhora, esta pessoa já teria, por este ato, cometido um pecado. Porque Deus, somente Ele, pode julgar alguém. E fazer justiça com as próprias mãos é um equívoco.

Por meio de uma pedagogia do amor, do exemplo e da reflexão, Jesus provocava mudança na tessitura d´alma e fazia com que a pessoa buscasse corrigir as próprias imperfeições, olvidando os defeitos alheios.

Infelizmente, com o advento das redes sociais e do seu poder de divulgação/propagação de informações, muitos julgamentos prévios têm surgido e, depois que se apuram as notícias e se observam que a pessoa é inocente de qualquer ato, aí já é tarde. Porque o poder de destruição da Internet é muito grande. Ainda que a pessoa fosse culpada de qualquer coisa, não compete a nós julgarmos, tampouco alardearmos sobre a situação. Os seus familiares ficariam tristes com a situação; e poderíamos causar danos morais irreparáveis. É preciso ter muita cautela em qualquer julgamento, seja de quem for.

Jesus amplia a questão. Provoca uma autorreflexão. E, por silogismo, concluímos que na condição de imperfeitos não podemos julgar a ninguém.   

 

Referência:

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo: com explicações das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida [tradução de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa, revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866.] – 131. ed. 1. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2013.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita