Compaixão
O homem está tão habituado aos próprios problemas e
aflições que se fecha a uma existência medíocre de
satisfação dos sentidos físicos, não percebendo as
necessidades do seu próximo, resguardando-se numa
couraça de indiferença a fim de, também, poupar-se de
dores maiores. Lutando por títulos, dinheiro,
reconhecimento social, deposita a felicidade na ilusão,
na adoração às coisas materiais, experimentando certa
apatia em relação ao bem que poderia edificar,
encarcerando-se num egocentrismo infeliz.
O individualismo é uma barreira que impede o
desenvolvimento das potencialidades da vida e por isso
mesmo não poderemos nos tornar indiferentes quando
pudermos ser úteis, pois o Pai de infinita misericórdia
nos pedirá contas do bem que não tenhamos feito.
Não faltam avisos convocando-nos à observância da nossa
participação no mundo, alertando-nos quanto à
necessidade de transcender a nós mesmos e desenvolvermos
a compaixão. É mediante o hábito dessa virtude, que
aprendemos a sacrificar os sentimentos inferiores e
abrir o coração. Pouco importa se o outro, o beneficiado
pela compaixão, não a valoriza nem reconhece ou sequer
venha a identificá-la. O essencial é o sentimento de
edificação, o júbilo da realização por menor que seja,
naquele que a experimenta.
Expandir esse sentimento é dar significação à vida, pois
ela está acima da emotividade desequilibrada e vazia; a
compaixão age, enquanto a outra lamenta; realiza o
socorro, enquanto a outra sente pena. É a virtude que
mais nos aproxima dos anjos. Ela é a irmã da caridade.
Bem sentida é amor, o sentimento mais apropriado para
dominar o egoísmo e o orgulho. A compaixão nos comove
aos sofrimentos de nossos irmãos e nos impulsiona a
estender-lhes as mãos.
Grande, porém, é a compensação quando damos coragem e
esperança a alguém infeliz, necessitado de amparo,
porque estamos todos mergulhados em regime de
interdependência de uns para com os outros. E
considerando que tudo está ligado a tudo e todos os
seres ligados entre si, então o sofrimento do próximo é
o nosso sofrimento e a felicidade do próximo é a nossa
própria felicidade.
Quantas são as vezes que nos preocupamos mais com o
reconhecimento e com a gratidão do que com o nosso ato?
E quantas são as vezes em que julgamos a quem estender
as mãos...?
Jesus nos convida ao trabalho, porque esta é a nossa
herança na jornada evolutiva. O trabalho é ação sem
julgamentos e a compaixão é que provoca a ação.
Se queremos um mundo melhor para a nossa próxima
existência, para os nossos filhos e netos, o que estamos
fazendo para isso? Se a lei é de ação e reação, plantio
e colheita, o que estamos plantando agora para colhermos
na próxima existência? O Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo 13 item 17, diz: “A
compaixão garantirá a felicidade na Terra fazendo
finalmente reinar a concórdia, a paz e o amor”.
Podemos fazer muito mais do que estamos fazendo, isso é
certo.
Não se conhece nenhuma conquista que chegue ao espírito
sem estar apoiado na prática. Prossigamos, assim,
atentos aos sofrimentos dos nossos semelhantes e
trabalhemos sempre, baseados nos princípios do amor.
A excelência da compaixão é viver impregnado pelo amor
do Cristo, sabendo que amor é devotamento e este é
esquecer-se de si mesmo, e esse esquecimento, essa
abnegação em favor dos necessitados é a virtude por
excelência, é aquela que Jesus praticou em toda a sua
caminhada, deixando-nos essas sementes benditas para que
possamos fazê-las germinar e florescer em cada coração.
Bibliografia:
KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos –
182ª edição – Editora IDE – Araras/SP/ questão 657 –
2009.
KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. 13, item 17 – 365ª edição -
Editora IDE – Araras/SP/ – 2009.
XAVIER, F.C. – Encontro Marcado –
ditado pelo Espírito Emmanuel – 13ª edição – Editora FEB
– Brasília/DF – lição 16.
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