A que velocidade vou?
A forma que vivemos mentalmente é através do movimento
incessante do pensamento, com base no passado,
elaborando o futuro.
Esta caixa mental, onde somos prisioneiros, é a nascente
criativa que nos guia ao longo da vida terrena. É
através desta ferramenta que somos muitas vezes
dirigidos pelas influências energéticas e mentais que se
impõem escondidas dos sentidos.
Jesus aconselha-nos a um vigiar constante deste fluxo
mental de forma a aprender a criar tempo entre o
pensamento e a ação, para que possamos impedir os atos
errados, eliminando a forma impulsiva de funcionarmos, o
que nos leva a uma vida mecanizada dirigida pelos liames
terrenos. A falta de consciência do funcionamento mental
exerce em nós uma cegueira autodirigida, inconsciente,
levando-nos a campos inesperados de uma vida que, temos
a sensação, fugiu ao nosso controle.
No caso da obsessão, facilmente poderemos perceber que
este estado de funcionamento inconsciente é o terreno
mais fértil à manipulação de um obsessor, não se
apercebendo o obsidiado da influência exercida sobre si,
de tal forma que, por vezes, é dirigido.
Voltando ao conselho do Mestre Jesus, vigiar nossa
cabeça é de extrema importância para que o nosso
livre-arbítrio seja exercido. Abdicarmos disto, pela
falta de atenção, não faz com que sejamos ilibados da
responsabilidade por seguir atrás de um impulso mental
entrando em tentação; toda a responsabilidade é nossa
porque escolhemos exercer nosso livre-arbítrio mais
cedo, não nos preocupando com o que é gerado nesta
oficina de pensamento, onde sabemos que muitos nem são
de nossa autoria.
Sabemos o quanto é difícil estarmos conscientes do
funcionamento mental; diz a ciência psíquica que geramos
entre quarenta mil a sessenta e cinco mil pensamentos
por dia. Nossos irmãos das Doutrinas Orientais, como o
Budismo, dedicam-se à meditação há dois mil e quinhentos
anos, tentando desta forma compreender a mente e
diminuir seu fluxo de funcionamento. Para eles, o
caminho do Nirvana ou Iluminação é a conquista da
liberdade das amarras do Ego ou pensamentos.
Os benefícios desta prática são tão fortes que ela se
espalhou pelo globo, passando a ser incentivada no mundo
ocidental através da sua forma original ou com novas
técnicas como o Mindfulness, criado por alguns
psicólogos norte-americanos há duas décadas. No fundo é
uma adaptação dos exercícios meditativos do Oriente e um
caminhar em direção à atenção plena.
Na Doutrina Espírita, vemos Joanna de Ângelis a apontar
nesta direção através da sua série psicológica.
Na verdade, o que é chamado de meditação são simples
exercícios que nos levam a estar atentos a determinado
objeto, sendo a mais conhecida a da atenção na
respiração, prendendo a nossa mente àquele movimento,
obtendo uma diminuição do fluxo mental de pensamentos. A
intenção é ficar livre de pensamentos, em silêncio
mental.
Muitos dos mais experientes e Mestres destas doutrinas
que utilizam a meditação dizem-nos que meditar não é um
exercício, mas uma forma de estar mental de plena
atenção ao presente, sendo transportado para o dia a dia
em todas as ações, o que poderíamos traduzir com uma
única palavra: “Vigiai”.
Por que motivo pensamos tanto, de forma tão intensa?
Passamos o tempo em construções mentais em relação ao
nosso futuro, mesmo quando olhamos para trás; se
gostamos do que relembramos, então, fazemos planos para
repetir, e, se nos trouxe sofrimento, construímos
mentalmente uma forma de fugir a este no nosso futuro.
Raramente estamos no presente tempo.
Podemos ver em Mateus 6:25 que Jesus Cristo
aconselhou-nos “não vos preocupeis pela vossa vida, pelo
que comereis, nem por vosso corpo…”, nós temos muitas
dificuldades em perceber este conselho de valor
inestimável. Será que o Mestre nos aconselhava a
inércia?
Claro que não: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho
também”. Esta frase demonstra claramente a importância
do trabalho; o que Jesus nos aconselha é não nos
preocuparmos, ou seja, não vivermos tão aflitos com o
futuro, ocupando a nossa mente com o fluxo desorganizado
e desmedido de pensamentos, mas manter a Fé do silêncio
sobre os desejos de amanhã.
Esta forma “sossegada” de viver, baseada na Fé da
certeza que Deus tudo sabe e gere, trará uma diminuição
clara do movimento dos pensamentos, tornando mais
simples a tarefa de “Vigiar” para que não caiamos em
tentação, evitando os dissabores da infelicidade.
É imperativo que estejamos atentos a nós para que
realmente possamos escolher o que nos convém ou não, tal
como o conselho de Paulo: “tudo me é lícito, mas nem
tudo me convém”.
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