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por Bruno Abreu

 

A que velocidade vou?


A forma que vivemos mentalmente é através do movimento incessante do pensamento, com base no passado, elaborando o futuro.

Esta caixa mental, onde somos prisioneiros, é a nascente criativa que nos guia ao longo da vida terrena. É através desta ferramenta que somos muitas vezes dirigidos pelas influências energéticas e mentais que se impõem escondidas dos sentidos.

Jesus aconselha-nos a um vigiar constante deste fluxo mental de forma a aprender a criar tempo entre o pensamento e a ação, para que possamos impedir os atos errados, eliminando a forma impulsiva de funcionarmos, o que nos leva a uma vida mecanizada dirigida pelos liames terrenos. A falta de consciência do funcionamento mental exerce em nós uma cegueira autodirigida, inconsciente, levando-nos a campos inesperados de uma vida que, temos a sensação, fugiu ao nosso controle.

No caso da obsessão, facilmente poderemos perceber que este estado de funcionamento inconsciente é o terreno mais fértil à manipulação de um obsessor, não se apercebendo o obsidiado da influência exercida sobre si, de tal forma que, por vezes, é dirigido.

Voltando ao conselho do Mestre Jesus, vigiar nossa cabeça é de extrema importância para que o nosso livre-arbítrio seja exercido. Abdicarmos disto, pela falta de atenção, não faz com que sejamos ilibados da responsabilidade por seguir atrás de um impulso mental entrando em tentação; toda a responsabilidade é nossa porque escolhemos exercer nosso livre-arbítrio mais cedo, não nos preocupando com o que é gerado nesta oficina de pensamento, onde sabemos que muitos nem são de nossa autoria.

Sabemos o quanto é difícil estarmos conscientes do funcionamento mental; diz a ciência psíquica que geramos entre quarenta mil a sessenta e cinco mil pensamentos por dia. Nossos irmãos das Doutrinas Orientais, como o Budismo, dedicam-se à meditação há dois mil e quinhentos anos, tentando desta forma compreender a mente e diminuir seu fluxo de funcionamento. Para eles, o caminho do Nirvana ou Iluminação é a conquista da liberdade das amarras do Ego ou pensamentos.

Os benefícios desta prática são tão fortes que ela se espalhou pelo globo, passando a ser incentivada no mundo ocidental através da sua forma original ou com novas técnicas como o Mindfulness, criado por alguns psicólogos norte-americanos há duas décadas. No fundo é uma adaptação dos exercícios meditativos do Oriente e um caminhar em direção à atenção plena.

Na Doutrina Espírita, vemos Joanna de Ângelis a apontar nesta direção através da sua série psicológica.

Na verdade, o que é chamado de meditação são simples exercícios que nos levam a estar atentos a determinado objeto, sendo a mais conhecida a da atenção na respiração, prendendo a nossa mente àquele movimento, obtendo uma diminuição do fluxo mental de pensamentos. A intenção é ficar livre de pensamentos, em silêncio mental.

Muitos dos mais experientes e Mestres destas doutrinas que utilizam a meditação dizem-nos que meditar não é um exercício, mas uma forma de estar mental de plena atenção ao presente, sendo transportado para o dia a dia em todas as ações, o que poderíamos traduzir com uma única palavra: “Vigiai”.

Por que motivo pensamos tanto, de forma tão intensa?

Passamos o tempo em construções mentais em relação ao nosso futuro, mesmo quando olhamos para trás; se gostamos do que relembramos, então, fazemos planos para repetir, e, se nos trouxe sofrimento, construímos mentalmente uma forma de fugir a este no nosso futuro. Raramente estamos no presente tempo.

Podemos ver em Mateus 6:25 que Jesus Cristo aconselhou-nos “não vos preocupeis pela vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo…”, nós temos muitas dificuldades em perceber este conselho de valor inestimável. Será que o Mestre nos aconselhava a inércia?

Claro que não: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”. Esta frase demonstra claramente a importância do trabalho; o que Jesus nos aconselha é não nos preocuparmos, ou seja, não vivermos tão aflitos com o futuro, ocupando a nossa mente com o fluxo desorganizado e desmedido de pensamentos, mas manter a Fé do silêncio sobre os desejos de amanhã.

Esta forma “sossegada” de viver, baseada na Fé da certeza que Deus tudo sabe e gere, trará uma diminuição clara do movimento dos pensamentos, tornando mais simples a tarefa de “Vigiar” para que não caiamos em tentação, evitando os dissabores da infelicidade.

É imperativo que estejamos atentos a nós para que realmente possamos escolher o que nos convém ou não, tal como o conselho de Paulo: “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.  


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita