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por Rogério Coelho

 

O argueiro e a trave


Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever


“Decerto, a ninguém é defeso ver o mal quando ele existe. Fora mesmo inconveniente ver em toda a parte só o bem.” 
- S. Luís[1]


Existe uma regra básica para ser obedecida ao formularmos uma censura a alguém: é dirigi-la (a censura) a nós próprios em primeiro lugar, procurando avaliar se não a teremos merecido também...

Necessário que cada criatura trabalhe não só pelo próprio progresso, mas também pelo de todos, e principalmente dos que se encontram sob nossa tutela, e, por isso mesmo, muitas vezes a repreensão é um dever que a caridade manda seja cumprido com todo o cuidado possível.

De um modo geral, as falhas existentes na tão delicada área do relacionamento humano vinculam-se ao fato de fazer com que a observação, a admoestação ou a repreensão redundem em prejuízo do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião geral.

São Luís afirma ser“(...) igualmente repreensível invectivar apenas para dar expansão a um sentimento de malevolência e à satisfação de apanhar os outros em flagrante delito. Mas dá-se inteiramente o contrário quando, estendendo um véu sobre o mal, para que o público não o veja, aquele que note os defeitos do próximo o faça em seu proveito pessoal, isto é, para se exercitar em evitar o que reprova nos outros. Essa observação, em suma, não é proveitosa ao moralista? Como pintaria ele os defeitos humanos, se não estudasse os modelos?

Mas haverá casos em que convenha desvendar o mal de outrem?

Aí está uma questão muito delicada, cuja resolução depende da perfeita compreensão da caridade. Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá em divulgá-las. Se, porém, podem acarretar prejuízos a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes”.

Observemos que toda a atuação nessa área deve ser pautada por muita reflexão, discernimento e caridade, além de apurada observação, escrúpulo e acentuada noção de pesos e medidas a fim de que não sejam danosos os desdobramentos de nossa interferência.

Com tal procedimento estaremos não só auxiliando-nos mutuamente a progredir, como também mostramos ter entendido em espírito e verdade as palavras de Jesus: “(...) Tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão”. (Mateus, 7:5). 


           


[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. X, itens 20 e 21.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita