Joias da poesia
contemporânea

Espírito: Cornélio Pires

 

Condenação e vida
 

Você procura notícias,

Meu caro Nuno Serrão,

Do que se diz no outro mundo

Em torno à condenação.

 

Na luta em que vamos indo,

Seu pedido, caro Nuno,

Encerra assunto excelente

Para debate oportuno.

 

Num mundo assim qual o nosso,

Onde a luta nos cativa,

Ninguém pode dispensar

A crítica construtiva.

 

Se erro e se muitos erram,

É preciso aparecer

Quem nos aponte verdade,

Quem nos convide ao dever.

 

No entanto, a crítica nobre

Que ampara, esclarece e guia,

Traz consigo a segurança

Dos golpes de cirurgia.

 

O médico em plena ação,

Não corta, nem fere à toa,

Trata ou suprime a doença

Sem desprezar a pessoa.

 

Nesse sentido assinalo

Que aprendi desde menino,

A saber o que é melhor

Pelo socorro do ensino.

 

Mas censura por si só,

Vertendo verbo infeliz,

Lembra pedrada sonora

De quem não sabe o que diz.

 

E já que a vida devolve

Aquilo que se lhe oferta,

Toda pedra que atiramos,

Volta a nós rápida e certa.

 

Note o caso de Nhô Fábio,

Moral de conversa brava,

Morreu buscando prazer

Na rua que detestava.

 

Nicota falando às soltas

Acusava a mãe doente,

Um dia fugiu de casa

Para morrer delinquente.

 

Laurentino reprovava

A trilha de Felisbela…

Foi-se o tempo e ele finou-se

Apaixonado por ela.

 

Jacó censurou o irmão

Por desposar Nhá Siluva;

Finou-se o irmão de repente…

Jacó ligou-se à viúva.

 

Falava Artur que o cigarro

É só veneno em consumo;

Depois de tanto fumar

Morreu no excesso de fumo.

 

Pregava contra a riqueza

Nosso amigo Zé Romão,

Ganhando na loteria,

Desertou da pregação.

 

Perseguido injustamente

Por jogo morreu Quim Cota…

E o filho que o acusava

Morreu na frente da sota.(1)

 

Quirino Almeida zombava

Dos passes de Nhá Mariana…

Hoje, ele mesmo procura

Vinte passes por semana.

 

A vida é assim, caro Nuno…

Condenar não vale a pena,

Porque a gente sempre cai

Naquilo que mais condena.

 

Irritação e azedume

Criam angústia e pesar;

Perante qualquer ofensa

O melhor é perdoar.

 

Julgar exige cuidado

Pelos outros e por si.

Não condene, ajude sempre,

Que este assunto é isso aí.


 

(1) Sota: a dama no jogo de cartas.

 

Do livro Retratos da vida, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita