A madrinha do Chico Xavier, por vezes, passava tempos
entregue à obsessão. Assim é que, nessas fases, a
exasperação dela era mais forte. Em algumas ocasiões,
por isso, condenava o menino a vários dias de fome.
Certa feita, já fazia três dias que a criança permanecia
em completo jejum.
À tarde, na hora da prece, ele encontrou a mãezinha desencarnada
que lhe perguntou o motivo da tristeza com a qual se
apresentava.
— Então, a senhora não sabe? — explicou o Chico. — Tenho passado
muita fome.
— Ora, você está reclamando muito, meu filho! — disse Dona Maria
João de Deus. — Menino guloso tem sempre indigestão.
— Mas hoje bem que eu queria comer alguma coisa...
A mãezinha abraçou-o e recomendou:
— Continue na oração e espere um pouco.
O menino ficou repetindo as palavras do Pai Nosso e daí a
instantes um grande cão da rua penetrou o quintal. Aproximou-se
dele e deixou cair da bocarra um objeto escuro. Era um jatobá
saboroso...
Chico recolheu, alegre, o pesado fruto, ao mesmo tempo que reviu
a mãezinha ao seu lado, acrescentando.
— Misture o jatobá com água e você terá um bom alimento. E,
despedindo-se da criança, acentuou: – Como você observa, meu
filho, quando oramos com fé viva até um cão pode nos ajudar, em
nome de Jesus.
Do livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama.
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