Espíritos da Natureza
Consta das tradições mais antigas que, diante dos
fenômenos da Natureza, principalmente os que causavam
danos (devastação e mortes coletivas, quase sempre), o
homem imaginou, como a única forma de se defender,
demonstrar submissão irrestrita aos responsáveis
invisíveis (considerados “seres da Natureza”).
Vem daí, diante de praticamente todos os acontecimentos
naturais, a criação de deuses, bons e maus, poderosos,
todos. Inaugurando de forma rústica a prece, as tribos
imploravam proteção a tais divindades, com
demonstrações, ora de medo e respeito, ora de amor, não
raro com sacrifícios de animais e até de humanos.
O número desses seres da natureza, no caminhar
incessante do progresso, multiplicou-se folcloricamente
quase que ao infinito, segundo as várias
crenças/religiões, sendo impraticável citar todos,
apenas num artigo.
Cito alguns, dos mais conhecidos, com seus
comportamentos:
● duendes: entidades fantásticas das lendas
bretãs, brincalhonas, amigáveis, com capacidade de
atravessar paredes, teletransportar objetos e pessoas,
dotados de alta velocidade;
● gnomos: representados
como pequenos humanoides, vivendo sob a terra, em minas
ou em ocos de troncos de árvores, onde guardam seus
tesouros;
● fadas:
cuidam das flores e dos frutos, ligados à terra;
● elfos: gênios do folclore escandinavo,
sensíveis, de
longa vida ou imortalidade, com poderes mágicos de curar
pessoas, eram divindades maiores da natureza e da
fertilidade;
● ninfas, ondinas, sereias: vivem
em rios, ou lagos, ou mares.
Esse imaginário místico e folclórico (aqui com registro
sintético de suas peculiaridades) sofreu inflexãoquando
foi substituído pelas reflexões dos sábios da
Antiguidade, na Grécia Antiga, na China, na Índia, e
outros que, estudando as tradições relativas à origem e
formação do mundo, deduziram haver regência de quatro
elementos naturais, essenciais à vida humana no planeta
Terra:
● Fogo: estado de plasma, regente do Reino
Mineral, do Verão e da Lua Nova;
● Terra: estado sólido, regente do Reino Vegetal,
da Primavera e da Lua Crescente;
● Ar: estado gasoso, regente do Reino Animal, do
Outono e da Lua Minguante;
● Água: estado líquido, regente do Reino Humano,
do Inverno e da Lua Cheia.
Em nova inflexão, indo dos sábios da Antiguidade ao
século XIX, faço parada junto à monumental obra de
ensinamentos e premissas doutrinárias/cristãs de
Espíritos sábios e protetores que, por delegação do
Excelso Mestre Jesus, fizeram aportar na Terra o
Espiritismo.
Para organizar e metodizar tal aporte, sublime, contendo
incontáveis ensinamentos trazidos por Espíritos
superiores, foi delegada a respectiva codificação a um
influente educador, autor e tradutor francês, culto
membro das sociedades científicas francesas: Hippolyte
Léon Denizard Rivail (1804-1869) que, para tanto,
adotou o pseudônimo de Allan Kardec e escreveu vários
livros, com o que diferenciou suas obras pedagógicas
desse novo abençoado projeto.
O primeiro livro de Allan Kardec, sobre a Codificação
espírita é ”O Livro dos Espíritos” (“OLE”) econtém:
os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade
da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os
homens, as Leis Morais, a vida presente, a vida futura e
o porvir da humanidade.
Em “OLE” há capítulo
específico sobre os
fenômenos da natureza. Com todo respeito às crenças e
tradições, esclarece:
Questão nº 536:
- tudo
tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de
Deus;
- na maioria dos casos, tais acontecimentos têm por
único motivo o restabelecimento do equilíbrio e da
harmonia das forças físicas da Natureza;
- os
Espíritos que exercem ação sobre a matéria são os
agentes da vontade de Deus, existentes em todos os graus
da escala dos mundos;
Questão nº 537:
- os Espíritos que presidem os fenômenos geológicos não
habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e
os dirigem de acordo com as atribuições que têm;
- dia
virá em que recebereis a explicação de todos esses
fenômenos e os compreendereis melhor;
Questão nº 538:
- os Espíritos
que presidem aos fenômenos da Natureza foram, ou serão,
encarnados como nós;
Questão nº 539:
- tempestades,
por exemplo, são produzidas por massas inumeráveis de
Espíritos;
Questão nº 540:
- alguns Espíritos (nem todos) que exercem ação nos
fenômenos da Natureza usam do livre-arbítrio e operam
com conhecimento de causa.
Nota: Nas questões 737 a 741, ainda de “OLE”, em
paralelo ao tema dos fenômenos na Natureza, estão
registradas as respostas dos Espíritos superiores
sobre o motivo dos “Flagelos destruidores”,
invariavelmente alicerçadas no Amor de Deus pela
Humanidade, contendo ensinamentos utilíssimos sobre as
Leis Divinas de Justiça e de Progresso.
Em complemento aos ensinamentos da Codificação do
Espiritismo, dou outro
salto cronológico, para extrair mais apontamentos sobre
o tema tratado neste artigo, contidos na série “A vida
no mundo espiritual”. Refiro-me à maravilhosa obra de
autoria espiritual de André Luiz, psicografia de
Francisco C. Xavier (em todos os 13 livros) e do Dr.
Waldo Vieira (em alguns), todos com edição da FEB
(Federação Espírita Brasileira):
a. Livro “Nosso Lar”: no cap. 50, p. 279, 48ª Ed.,
1.998, Narcisa (Espírito protetor em “Nosso Lar”) atende
solicitação de André Luiz, para atender Ernesto,
encarnado, atual marido de sua viúva... Narcisa conduz
André à Natureza e diz que colherá remédio das árvores,
enormes frondes; a seguir chama alguém e atendem-na oito
entidades espirituais, servidores comuns do reino
vegetal que informam onde havia mangueiras e
eucaliptos, dos quais a Mensageira colheu e manipulou
emanações que, aplicadas ao enfermo, proporcionaram-lhe
melhoras sensíveis;
b. Livro “Os Mensageiros”, cap. 41, p. 216, 9ª Ed.,
1975, o Espírito Aniceto, Instrutor espiritual em “Nosso
Lar”, e André, chegam à noite numa propriedade rural,
com incontáveis árvores frutíferas, em ambiente de paz!
Ali estava grande quantidade de trabalhadores
espirituais, servidores que cooperam com o reino
vegetal. O Instrutor presta inédita informação:
“existem irmãos que se preparam para o mérito de nova
encarnação no mundo, prestando serviço aos reinos
inferiores;
c. Livro “Libertação”, cap. IV, p. 60, 6ª Ed., 1974,
Instrutor espiritual Gúbio conduz André a uma “Cidade
estranha”, onde havia extensa comunidade de sofredores.
O Instrutor esclarece: “Quem não cumpre aqui dolorosa
penitência regenerativa, pode ser considerado
inteligência sub-humana. Milhares de criaturas,
utilizadas nos serviços mais rudes da natureza,
movimentam-se neste sítio em posição infraterrestre;
d. Livro “Evolução em
dois Mundos”, 1ª Parte, cap. XVII, p. 134, 11ª Ed.,
1989, consta que na fase primária da mediunidade,
durante o sono, no repouso físico, os médiuns, em corpo
espiritual, retornam aos objetos que lhes tomam o
interesse: o lavrador, por exemplo, retorna ao campo em
que semeia, entrando em contato com as entidades que
amparam a Natureza.
Apenas essas breves notas, na minha opinião, dissipam
racionalmente quaisquer vestígios de deuses, ou outros
autores, para os acontecimentos naturais, ou
“sobrenaturais”, e também, principalmente, substituem a
noção de “Espíritos da Natureza” por: Espíritos que
servem, cuidam e cooperam com a Natureza.
Inflexão:
mudança da direção ou da posição normal; desvio.
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