Chico Xavier e Waldo Vieira saíam das sessões públicas
e, ao chegarem em casa, costumavam datilografar os
textos ditados pelos "benfeitores espirituais". Tinham
muito trabalho pela frente: ainda estavam longe do
centésimo livro. Numa dessas jornadas noturnas, um
besouro caiu sobre a máquina do companheiro de Chico.
Waldo atirou o inseto com força na parede. O bicho voou
e tornou a cair sobre sua mesa. Waldo arremessou o
recalcitrante com violência contra o chão. Mais uma vez,
ele levantou voo. Dessa vez, aterrissou no lugar certo:
a mesa de Chico.
Com cuidado, o companheiro de Waldo pegou o inseto, abriu a
janela e o soltou lá fora enquanto comentava: - “Besouro, se
você não conseguiu desencarnar através de Waldo, é porque você é
como eu: tem uma missão a cumprir no mundo. Vá com Deus”.
Waldo olhava torto para o sentimentalismo de Chico. E evitou
fazer comentários quando soube como o parceiro tinha cuidado das
formigas em seu quintal. À noite, o batalhão avançava sobre a
horta e devorava verduras e legumes plantados para as sopas dos
pobres. Os amigos já tinham providenciado o veneno quando Chico
tentou um último recurso: dois dedos de prosa.
Ele se debruçou sobre o formigueiro e começou a conversar: -
“Vocês precisam ser mais piedosas, mais humanas. Estão faltando
com a caridade ao seu semelhante. Estão tirando o alimento de
quem precisa, e não há justificativa para tal procedimento”.
Ele usou todos os argumentos possíveis e até se deu ao trabalho
de sugerir um caminho para as adversárias: “Ao lado desta
modesta horta (e apontou) tem um enorme terreno onde estão
plantadas as mais variadas gramíneas, uma grande mata que a
natureza colocou à disposição de todos. Mudem-se e nos deixem em
paz. Caso contrário, se isso não ocorrer dentro de três dias,
tomarei enérgicas providências”.
No dia seguinte, sobrou apenas uma formiga, a "subversiva",
segundo Chico.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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