Ante nosso Pai
Imaginemos um pai justo e nobre, em face dos próprios
filhos, na governança doméstica.
Desde cedo, cada dia, desvela-se na execução dos
próprios deveres, amealhando o necessário para que a
dignidade e o valor lhes não faltem à existência.
Observa-lhes o crescimento, incutindo-lhes
respeitabilidade e elevação de caráter.
Sacrifica-se, jubiloso, para que a luz lhes banhe o
ninho familiar e para que o pão lhes nutra a mesa.
Resume-se-lhe a felicidade na felicidade que lhes é
própria.
Fibras de seu coração, almas de sua alma, regozija-se na
própria renúncia e contempla-se neles para alimentar em
si próprio a razão de viver.
Entretanto, maduros de raciocínio, eis que os rapazes,
muitas vezes, confiam-se a sendas opostas.
Foragidos do bem, entregam-se ao mal e transviados da
luz, confiam-se às trevas. E porque não conseguem
esquecer o amor que lhes deu a vida, tornam, de quando
em quando, ao santuário doméstico, trazendo ao
progenitor os frutos do roubo, os remanescentes da
rapinagem, os resultados da delinquência e o dízimo da
viciação em que se comprazem.
Decerto, não multiplicariam no coração paterno mais que
a dor e a angústia, o flagelo moral e a desolação.
Eis o quadro a que se ajusta a maioria das oblatas
humanas nos recintos suntuosos, consagrados a Deus na
Terra.
Por séculos e séculos, gestos de adoração e votos de
louvor expressam-nos simplesmente o fogo e o espinheiro
de nossas negações.
Meditemos a lição singela e lembremo-nos de que, qual
acontece no lar humano, enobrecido pelo trabalho, nosso
único sacrifício abençoado nos Céus é aquele que nos
defina a extinção dos erros, a abolição da rebeldia, o
aniquilamento da vaidade, a supressão do egoísmo e a
vitória da humildade sobre o nosso orgulho, feroz e
impertinente.
O Pai Misericordioso e Sábio, Poderoso e Justo,
inegavelmente prescinde das nossas dádivas e se algo lhe
podemos oferecer, em troca do infinito amor com que nos
preserva e aperfeiçoa, é o aprimoramento de nossas
próprias almas, a fim de que no espelho cristalino da
própria consciência e na fonte limpa do coração lhe
possamos retratar a grandeza.
Do livro Seguindo Juntos, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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