Eça de Queirós, o escritor português, autor de "pecados"
como O Crime do Padre Amaro, dava mostras não só
de sarcasmo como também de boas doses de informação
sobre a polêmica em torno do Parnaso de Além-Túmulo.
Após listar a série de teorias usadas pelos críticos para
decifrar o enigma Chico Xavier – consciência, mediunidade,
psicopatia, loucura, simulação, anormalidade, fenômeno,
estupidez, espiritomania – o autor invisível não resistiu e
voltou à boa e velha ironia: "Vai continuando até que te
receitem a enxovia ou o manicômio. No cárcere ou no sanatório,
alcançarás um período de repouso. Não te apavores".
Semanas depois, o rapaz colocou no papel um alerta sobre os
riscos da vaidade e da ambição. Desta vez, quem assinava o texto
era Maria João de Deus, sua mãe. Chico Xavier decorou cada
palavra. Muitas delas eram golpes secos contra sua autoestima.
Para começo de conversa, ele não deveria encarar a própria
mediunidade como uma dádiva, porque, imperfeito como era, não
merecia favores de Deus. Uma metáfora barroca marcou sua
história: "Seja tua mediunidade como harpa melodiosa; porém, no
dia em que receberes os favores do mundo como se estivesses
vendendo os seus acordes, ela se enferrujará para sempre".
Chico ficou atento às lições e passou a exercitar tanto o bom
humor como a humildade ao longo dos anos.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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