Civilização e solidariedade
Numerosos os companheiros que se creem modelos acabados
de humanismo. São repositórios vivos da cultura de todos
os tempos.
Descerram ilimitados horizontes à inteligência e,
debruçados sobre publicações, falam de ciência e
filosofia, dominando os mais altos conhecimentos.
Entretanto, não toleram o mínimo contato com os
sofrimentos do próximo.
Nada sabem acerca das criaturas que se arrastam, em
torno das peças primorosas que pronunciam.
Supõem-se líderes de educação e progresso, mas admitem
como sendo indignidade para eles o trato pessoal com o
homem calejado no trabalho que o alfabeto ainda não
alcançou; julgam impropriedade, na altura em que se
encontram, qualquer atenção caridosa para com as mães
abandonadas em telheiros de angustia; acreditam que lhes
é inconveniente assumir responsabilidade na proteção à
criança que abordou o plano físico pelo renascimento
considerado ilegal e categorizam por marginais pobres
irmãos que tombam na estrada, enfermos e subnutridos...
Emitem conceitos profundos, em matéria de
espiritualidade e religião, mas desconhecem totalmente
os desesperados, os ignorantes, os obsessos, os
toxicômanos, as vítimas do aborto, os desempregados, os
descrentes, os velhos banidos do lar, os recalcados
quase sempre no rumo de penitenciárias ou manicômios, os
párias sociais de todas as procedências...
Exaltemos a técnica e desenvolvamos o saber, sem os
quais a vida terrena jazeria indefinidamente na selva,
mas inclinemo-nos na direção dos que carregam fardos
mais pesados do que os nossos, honorificando a
solidariedade.
Penetremos os recessos da psicologia da nossa época,
auscultemos os problemas, as aflições, as provas e as
necessidades que nos rodeiam, oferecendo o concurso de
que sejamos capazes à solução e ao amparo de que careçam
nossos irmãos ainda infelizes.
Não somos chamados tão somente a viver e aprender, mas
também a conviver e auxiliar.
Civilização sem amor é subida espetacular para salto nas
trevas. Cultura que não guia a retaguarda, por
intermédio de compaixão e serviço, é comparável à
indiferença do pastor que entrega o rebanho aos lobos da
violência.
Do livro Seguindo Juntos, obra
mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido
Xavier.
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