Divaldo Franco: “Um
dos caminhos para a paz é o amor”
No dia 28 de julho de 2019, a praça Pádua Salles acolheu
a 7ª edição do Movimento Você e a Paz realizada
na cidade de Amparo (SP).
Foram mais de 4.000 inscrições para a Caminhada da Paz,
trazendo para o centro da cidade inúmeras pessoas que
reafirmaram, como anualmente ocorre, o desejo de
concretização da não violência.
O evento foi aberto com palavras de paz propostas pelo
orador Divaldo Franco, que convidou os presentes a
realizar o encontro da consciência individual, aquela
que nasce entre o sujeito e ele mesmo. Lembrou, também,
ao público, que a paz é fundamental para a vida e tão
importante quanto a alimentação, porque a paz é a
nutrição do ser profundo. Para que se possa mudar o
mundo de agressões, é necessário que cada ser humano
mude em si mesmo as disposições da violência para a
realização da plenitude. A paz começa em cada criatura
e, no momento quando se instala, irradia-se e conquista
o mundo.
Em seguida, a Sra. Ana Maria Veroneze Beira agradeceu
às pessoas que auxiliaram para que o movimento pudesse
ser realizado a contento, contribuindo para a promoção
de uma cultura de paz.
Após a caminhada, várias atividades programadas pela
organização do evento ocorreram na praça, tornando o dia
mais propício à solidariedade e à fraternidade.
Ocorreram aconselhamentos jurídicos gratuitos aos
transeuntes, o “espaço da saúde”, com diversos serviços
como aferição da pressão arterial, acuidade visual,
teste de glicemia e medição de IMC. Houve, também, roda
de capoeira, pelo grupo Abadá; danças diversas, com o
Conservatório Integrado e a Academia Ponto de Dança;
apresentação do Canil da Guarda Municipal de Amparo,
distribuição de livros e abraços pelo Rotary Club, além
de brinquedos e contação de histórias para as crianças.
Às 18 horas, deu-se início às mensagens de paz
proferidas pelos líderes religiosos Dom
Luiz Gonzaga Fechio,
bispo diocesano de Amparo; pastor José Lima, da
Assembleia de Deus Ministério do Belém de Amparo, e o
orador espírita Divaldo Pereira Franco, fundador do
Movimento Você e a Paz.
A mensagem do pastor
O pastor Lima proferiu sua mensagem de paz fazendo votos
de que o movimento continue dando seus frutos e
lembrando aos presentes que Jesus é o Príncipe da Paz.
No calvário, Cristo, ao se despedir de seus discípulos,
em seu maior momento de dor, disse: “Deixo-vos a paz, a
minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”,
certo de que no futuro a paz milenar reinará.
O pastor continuou sua reflexão demonstrando uma relação
da Paz de Jesus com os três reinos presentes na Terra:
no animal, Ele é o Cordeiro da Paz; no vegetal, a rosa
de Saron, e no mineral, a rocha que acompanhou o povo
hebreu durante os quarenta anos no deserto. O orador
finalizou sua fala afirmando que em Cristo estamos
seguros, e que com ele podemos ter a tão sonhada paz de
Deus, mesmo em meio às aflições mundanas.
A fala do bispo diocesano
Logo após, Dom Luiz Gonzaga Fechio iniciou sua
exposição, conclamando a todos que se comportassem como
aprendizes da paz e não apenas sentissem a paz de um
lugar de fala e de conveniência, em que o egoísmo se
materializa. Para ele, a paz é o bem mais desejado de
todos os tempos, mas também o mais ameaçado. Mencionou
que não poucas vezes as convenções de paz lembram os
falsos profetas do Antigo Testamento, que abriam os
ouvidos de seu povo pregando pela paz, quando, na
verdade, o que produziam era a guerra. Mencionou que
talvez o mais grave e desafiador conflito que a criatura
viva sejam as diferenças sociais e as discriminações
étnicas, sexuais, entre outras.
A palavra Shalon, etimologicamente, não significa apenas
a ausência de guerra, mas refere-se, também, a uma
vivência coletiva, regada de bem-estar. A verdadeira paz
nunca estará desligada da justiça. Jesus veio entre nós
para proclamar o reino de Deus como alternativa para um
mundo injusto. Ele trabalha pela paz e sua resposta será
sempre a paz de Deus como reconciliação universal.
Quando Jesus menciona o amor ao inimigo, Ele refere-se a
um amor criativo, ativo, libertador do outro e de si
mesmo. A paz não desemboca na injustiça, mas numa
maneira de não revidar o mal, de não se vingar. É um
amor que procura instaurar uma nova atitude no agressor.
Para todos os males, só existe um medicamento
eficaz: continuar na paz.
A palavra de Divaldo
Divaldo Franco iniciou sua fala referindo-se ao
psicanalista junguiano inglês Dr. James Hollis, que,
mesmo sem ter uma postura religiosa, acreditava
fundamentalmente no ser humano. Certa feita, seu filho
lhe perguntou por que os indivíduos matam uns aos outros
e o renomado psicanalista explicou-lhe que era a
natureza animal e herança primitiva do homem. E, ainda,
que caberia ao homem e à mulher contemporâneos encontrar
a pacificação interior.
Esse mesmo psicanalista escreveu um dos livros que se
encontra entre os mais complexos da modernidade: Os
pantanais da alma: nova vida em lugares sombrios,
chegando à conclusão de que não era o reino dos céus que
o indivíduo trazia no inconsciente profundo, mas o
instinto de sobrevivência, atavismo que leva ao homem à
competição. Nesse livro, Dr. Hollis narra a história
verídica de Ilse, uma senhora com mais de sessenta anos
de idade, que o procurou solicitando-lhe uma consulta,
tendo como premissa o desejo de somente ser ouvida por
um período de duas horas. Para tanto, enviou junto ao
pedido uma fotografia de um jornal antigo.
Ilse, certo dia, durante a Segunda Guerra Mundial, fazia
compras no centro de Lublin, quando foi levada para o
campo de concentração de Majdanek. Mesmo sendo cristã e
polonesa, os soldados nazistas não acreditaram em sua
palavra e a colocaram no meio dos judeus. Ao chegar ao
campo de concentração, puseram-na à fila de triagem de
onde seria enviada para a câmara de gás ou para o
barracão de prisioneiros. Antecipando seu destino, que
seria a morte pelo gás, uma mãe judia, que também estava
na fila, tentou deixar com Ilse suas duas crianças, para
que pudessem escapar da morte terrível pela asfixia.
Temendo por sua vida, Ilse devolveu as crianças à
verdadeira mãe, que já se distanciava em direção à
execução, a mesma em que os três morreriam na câmara de
gás. Esse momento foi eternizado pelos alemães em uma
fotografia impressa no jornal e levada por Ilse ao Dr.
Hollis.
Passaram-se os anos, findou-se a guerra e Ilse foi
liberada do campo de concentração, indo morar nos
Estados Unidos. Contudo jamais se perdoara pelo seu ato
de não ter tentado salvar as duas crianças da morte,
convivendo com essa culpa por anos, sem obter a paz para
a sua consciência. Tornou-se judia e entre o povo judeu
consta uma lenda que diz que, quando alguém revela seu
“crime” ou “culpa” para 24 pessoas justas, obtém o
perdão. Dr. Hollis era o primeiro homem justo de sua
lista a quem viera confessar-se, em busca da paz.
Caminhos para a paz
Divaldo Franco aponta que o mundo não pode dar
a verdadeira paz, pois não tem os valores éticos para
harmonizar a criatura com sua própria consciência. O ser
humano menciona demasiadamente a paz, mas deseja que os
outros façam a paz para si, ao invés de realizá-la.
Um dos caminhos para a paz é o amor. Divaldo convida o
público a amar as pessoas difíceis, o que não significa
concordar com elas, mas, sim, não devolver aquilo
que elas têm de desequilíbrio. Jesus deixou o legado do
amor para o ser humano encontrar a paz. É necessário
amar, o que não significa conivir com o erro do outro,
mas dar a ele o direito de ser como é.
“Seja você aquele que tem a honra de amar. Se alguém não
o ama o problema é dele, mas quando você não ama, o
problema é seu”, afirmou Divaldo. “O amor é a solução
para a paz. Não importa qual a religião em que o
indivíduo se encontre, o que importa é a conduta que ele
tem na religião e fora dela, na vida comum.”
Fazendo referência ao nome da cidade que abrigou o
Movimento Você e a Paz, o orador convidou a
multidão presente para que se torne o amparo de si
próprio e de seu próximo. Solicitou também que não
deixe, nunca, que alguém saia de sua companhia sem que
leve algo bom, uma palavra gentil, um aperto de mão ou
um pouco de esperança.
Homenagens
Finda as exposições, foram feitas as homenagens de
praxe, com o troféu “Você e a Paz”, sendo agraciados os
bombeiros militares que fizeram parte da equipe de
regaste das vítimas do rompimento da barragem
em Brumadinho (MG); dona Aparecida Conceição Ferreira (in
memoriam), fundadora do Lar da Caridade de Uberaba,
também conhecido como Hospital do Fogo Selvagem; o
Instituto Maurício de Sousa; a professora Heley de Abreu
Silva Batista (in memoriam), que faleceu ao
auxiliar no resgate das crianças durante o ataque à
creche Gente Inocente, em de Janaúba (MG); e
os líderes religiosos Dom Luiz Gonzaga Fechio, pastor
José Lima, Divaldo Pereira Franco e a Sra. Ana Maria
Veroneze Beira.
No encerramento do encontro, houve ainda a apresentação
do grupo musical Roupa Nova.