Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

O espírita mais famoso do país vivia em outro mundo e, a cada ano, ficava mais íntimo dos mortos. Em fevereiro de 1948, Rômulo Joviano abriu sua casa para exibições extravagantes. A sala sobre o porão onde Chico Xavier escreveu Paulo e Estêvão seria usada para as "mágicas" do médium carioca Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, um expert em fenômenos de materialização. Após assombrar céticos e espíritas em várias capitais do Brasil, o visitante do Rio emprestaria seu ectoplasma aos seres invisíveis em Pedro Leopoldo. Com sua energia, os mortos ganhariam consistência física e poderiam ser vistos, e até tocados, por qualquer mortal.

No dia da reunião, marcada para um sábado, nenhum dos espectadores da sessão privê comeu carne, fumou ou bebeu. Todos cumpriram os pré-requisitos do ritual. Rômulo Joviano reservou um quarto só para Peixotinho e o transformou, com a ajuda de uma cortina, numa cabine própria para as materializações. A escuridão ali tinha de ser absoluta e a janela deveria estar trancada. Na sala, a pouco mais de dez metros de distância, ficariam os espectadores.

Às oito da noite em ponto, uma lâmpada vermelha iluminou a plateia. Mais de quinze pessoas, entre elas Chico Xavier, iniciaram o rito, de acordo com o regulamento espírita: leitura de trechos evangélicos, seguida de comentários, "para atrair espíritos de ordem superior", acompanhada por música clássica, "para facilitar a aglutinação fluídica" e conduzir os participantes a uma vibração positiva. Ave Maria, de Gounod, tomou conta do ambiente.

Da cabine onde estava Peixotinho saíram clarões coloridos. O corredor foi atingido por reflexos verdes, roxos e azuis. De repente, apareceu na sala um visitante fluorescente. Diante de olhos atônitos, alguns deles desconfiados, começou o desfile de assombrações. Um dos perplexos na plateia era o delegado de polícia paulista R. A. Ranieri. Naquela noite, ele foi surpreendido pela visita de uma réplica iluminada de sua filha, Heleninha, morta três anos antes, com dois anos de idade. A garota "saiu" do corpo de Peixotinho e "ressuscitou", quase em neon, com a mesma fisionomia e estatura dos tempos de viva e com a voz semelhante à original. Cumprimentou o pai e colocou nas mãos dele uma flor brilhante.

Era ela, sem dúvida nenhuma – garantiu Ranieri. E exigiu credibilidade. Ficou tão convencido da autenticidade dos fenômenos que escreveu um livro sobre o assunto, intitulado Materializações Luminosas. Naquela noite, todos ficaram impressionados com o respeito demonstrado pelas aparições quando se aproximavam de Chico Xavier. Muitos dos seres fluorescentes só faltavam se curvar diante do matuto de Pedro Leopoldo.

 

Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita