Revista VEJA de
29 de agosto de 2018 – págs. 54 a 57:- “Expulsar é a saída errada -
Venezuelanos em fuga incham a pequena Pacaraima, em Roraima. A cidade não tem
condições de recebê-los. O governo não age, os ânimos se acirram e a xenofobia
paira no ar." 1
A
vinda dos venezuelanos para o Brasil e em especial para a pequena cidade de
Pacaraima do estado de Roraima (12.000 habitantes segundo dados do IBGE)
nos coloca à prova de como um povo tradicionalmente acolhedor de imigrantes,
como o brasileiro, está tendo dificuldades nesse sentido, além da obrigação
legal do Brasil de acolhê-los em função de ser signatário de Leis Internacionais
sobre o assunto: “As leis internacionais rezam que é direito dos refugiados
ser recebidos no Brasil e encaminhados para locais onde haja emprego e
acomodação” 1.
Nosso país
sempre teve uma predestinação histórica de acolher os aflitos e deserdados de
suas origens e essa visão espírita é retratada na obra “Brasil Coração do Mundo
Pátria do Evangelho – autoria espiritual de Humberto de Campos, psicografia de
Chico Xavier: “Primeiramente, surgiram os índios, que eram os simples de
coração; em segundo lugar, chegavam os sedentos da justiça divina e, mais tarde,
viriam os escravos, como a expressão dos humildes e dos aflitos, para a formação
da alma coletiva de um povo bem-aventurado por sua mansidão e fraternidade...Nos
séculos futuros, essa pátria generosa será a terra da promissão para todos os
infelizes.“ 3
Nesse contexto,
tanto pelos aspectos da legislação humana vigente, quanto pela missão espiritual
do Brasil, temos a obrigação moral de acolher e, apesar das dificuldades
decorrentes, não podemos ser indiferentes.
Allan Kardec,
na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 9 – item 8, nos traz
uma mensagem de Lázaro (Espírito), em que este afirma:” (...) A
virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a
indiferença moral.(...) submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos
espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração.
(...) Toda resistência orgulhosa deverá ceder, cedo ou tarde.” 2
Conforme
retratado na reportagem: “Pacaraima é a porta de entrada no Brasil de
venezuelanos desesperados, que não têm mais como sobreviver em seu país,
esmagado pela pior crise de sua história, sem comida, remédios nem dinheiro.
Para eles, imigrar não é escolha, é imperativo.” 1
Para a ciência
econômica a crise dos venezuelanos se dá, entre outros motivos, pela
predominância da atividade extração de petróleo como sustento da economia, cuja
cotação sofreu grandes variações negativas no preço do produto no mercado
internacional nos últimos 5 anos. Aliado a esse fato, há a crise política
interna, causada pela busca do poder entre partidos rivais.
Na ótica
espírita, retratada na obra “Divaldo Franco responde - volume 2 – pág. 139”, o
que ocorre atualmente com o povo venezuelano e em especial com os imigrantes “são
provações coletivas para a sociedade, mas que um dia os governos sensatos e
honestos diminuirão, através da aplicação dos seus recursos tecnológicos e
financeiros em benefício da coletividade.” 4
Apesar de
estarmos analisando o problema da Venezuela, paralelamente temos o mesmo
problema em outras partes do mundo, principalmente na Europa, a em que pessoas
oriundas de diversos países em guerra tentam emigrar para o Velho Continente,
com vistas a obter uma vida melhor.
Considerando
que, segundo a obra espírita “Plantão De Respostas – Emmanuel e Francisco
Cândido Xavier. Pág. 16”, estamos vivendo momentos próximos da transição do
planeta Terra de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, cabe a
cada um longa e árdua tarefa de ascensão.”Trabalho e amor ao próximo com
Jesus, este é o caminho.” 5 Estamos diante de um desafio como uma
prova final desse processo, certamente elaborada pela Providência Divina para o
“Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho". 3
Nosso país
também atravessa a pior crise econômica dos últimos 10 anos, com uma taxa de
desemprego na ordem de 12%, segundo dados do IBGE. A pequena Pacaraima, no
estado de Roraima, não possui infraestrutura urbana para acolher essa leva de
imigrantes, conforme abordagem feita na reportagem de referência.
A reação dos
moradores com a situação caótica provocada pela avalanche de imigrantes que
“puseram em fuga 1.200 refugiados venezuelanos amontoados na cidade“ não
reflete, contudo, a índole tradicional de nossa gente, que sempre acolheu os
estrangeiros que vieram para o Brasil. Trata-se, pois, de um ato isolado de
desespero dos moradores desse pequeno município brasileiro.
Na visão
espírita, estamos diante de uma oportunidade histórica da prática da caridade
moral e material: “Submetei todas as vossas ações ao controle da caridade, e a
vossa consciência vos responderá: não somente ela evitará que façais o mal,
mas ainda vos levará a fazer o bem”2(ESE, cap. 15, Fora da caridade
não há salvação, item 10, Paulo,
o apóstolo), principalmente porque estamos tentando dividir aquilo que não
temos nem para nós mesmos. (Grifos nossos). “Para
agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não
pratique o mal? - Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças,
porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o
bem.” 7 (L.E.,
questão 642)
Necessário se
torna exercitar a criatividade no sentido de uma redistribuição urgente desses
imigrantes entre outros estados da Federação, compatíveis com a vocação e
habilidade dos refugiados, com a criação imediata de centros de refugiados, com
a participação de organismos internacionais da ONU/OEA e similares, como também
contar com a solidariedade de toda a população através de apelos dos órgãos de
imprensa.
À comunidade
espírita, por sua vez, além de participar dos esforços gerais da população, no
sentido das boas obras de socorro emergencial, cabe fazer mobilizações de preces
de fortalecimento moral para esses irmãos em provação coletiva: “Observando
que essa colaboração não se lhe faça possível, certamente poderá você orar pelos
irmãos “.6
A fome, a
miséria e a desesperança deles, nossos irmãos venezuelanos, não podem esperar a
conclusão das disputas políticas do seu país. Se eles aqui aportaram, é porque
nós brasileiros inspiramos neles, pela nossa “alma coletiva”, a confiança de
país acolhedor e pacífico que recebe a todos sem distinção de nacionalidade.“Ele
já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O
fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à
coragem.” 2
(ESE, capítulo V – item 18).
Que os bons
Espíritos inspirem a todos nós, os envolvidos no processo.
(*) São
coautores deste artigo Juracy de Abreu e Silva, Ioná Rosilane Valéria do
Nascimento e Gláucio Marcus do Nascimento Guerra.
Referências bibliográficas:
1 – Revista
VEJA - Edição 2597 – ano 51 – No. 35. 29 de agosto de 2018. Autores: João
Batista Jr. e Duda Teixeira.
2 – KARDEC,
Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, tradução da 3ª. Edição de 1866,
por Renata Barboza da Silva e Simone T. Nakamura Bele da Silva. São Paulo:
Editora Petit, 1997.
3 – CAMPOS,
Humberto. XAVIER, Francisco Cândido. Brasil Coração do Mundo Pátria do
Evangelho. Brasília: Editora FEB.
4 – FRANCO,
Divaldo. Divaldo Franco responde, volume 2. 1ª. Edição São Paulo. Editora
Intelitera, 2013.
5– XAVIER,
Francisco Cândido, Plantão de Respostas – Pinga fogo II –1971.
6 – XAVIER,
Francisco Cândido, Sinais de Rumo– Espíritos diversos – Editora Geem –
1979.
7 – KARDEC,
Allan, O Livro dos Espíritos, tradução de Evandro Noleto Bezerra.
Este artigo foi contemplado no concurso “A Doutrina Explica”, ocorrido em 2018,
promovido na turma do Curso de Palestrantes Espíritas do Distrito Federal, na
Federação Espírita do Distrito Federal (FEDF). Os autores são palestrantes e
articulistas espíritas em Brasília (DF).