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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Parábola dos dois Fundamentos


“Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as pratica, será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou sendo grande a sua ruína.” 
(Mateus, 7:24-27)


Esta Parábola encontra-se no final do Sermão do Monte. Nesta alegoria, Jesus mostrou as duas categorias de homens: aqueles que vivenciam os ensinamentos Divinos e os que não os vivenciam. O Mestre buscava penetrar na consciência dos que O ouviam, procurando tocá-los, despertá-los e fazê-los sentir a necessidade de renovação de seus hábitos. Sabia que, trabalhados gerações pós gerações pelo farisaísmo, os homens haviam se esquecido do Decálogo que lhes fora dado, no Monte Sinai. Ficando acostumados a observar apenas práticas e cerimônias exteriores, persuadidos de que isso era o bastante para torná-los irrepreensíveis aos olhos do Senhor.

Ainda hoje, infelizmente, em todas as organizações religiosas existem muitos que incidem no mesmo erro, invertendo a hierarquia de valores, demonstrando zelo excessivo pelo que é secundário e negligenciando, por completo, o que é essencial. Desta forma, a parábola nos ensina qual o caminho que poderemos escolher para edificarmos nossa casa: sobre a rocha ou sobre a areia?

O homem sensato edifica sua vida nas virtudes e nos atos nobres, adquirindo fé, resignação e perseverança, convicto de que os sofrimentos terrenos são transitórios. Assim, conseguiremos ir nos burilando no decurso das existências depuradoras, fortalecendo-nos para resistir aos vendavais das tribulações, dos obstáculos, dos tropeços e das adversidades, levando uma vida sadia, moralizante, construindo uma base sólida para a sustentação do Espírito imortal que somos. Entretanto, quando vivemos ociosos, mergulhados nos vícios, no orgulho, no caminho do engano e da intemperança, causando quedas que levam a longas reparações, estaremos edificando nossa existência sobre a areia.

O importante é poder compreender que temos capacidade para aquisição de virtudes, destacando-nos pelo exemplo vivo do amor, através da dedicação e do desapego, elevando-nos para nos avizinharmos, em algum momento, dos Espíritos elevados. Para tal, precisaremos de vontade firme para iniciar um ciclo de atos bons e substanciais. Agindo assim, estaremos nos capacitando a continuar a edificação da nossa existência sobre terreno seguro, com bases sólidas, firmes, suscetíveis de enfrentar as contrariedades que surgirem no decurso de nossa caminhada. Todavia, se continuarmos imprevidentes, fundamentando nossa jornada sobre atos irrefletidos, como ciúmes, inveja, avareza, preocupando-nos demasiadamente com as coisas do mundo, separando-nos por completo das iniciativas que objetivam as aquisições nobres da alma, ao surgirem os ventos das tribulações, resfriaremos a fé por falta de consistência, resultando na estagnação, no atraso moral, no materialismo e na revolta. Onde, então, queremos edificar nossa casa?

O ensinamento evangélico alerta para o fato de que não devemos apenas ouvir e nada realizar, pois isso seria insensatez. Quando ouvimos e colocamos em prática a mensagem cristã, somos sábios e prudentes, porque passamos a nos orientar pelo Evangelho, colocando-nos acima das coisas transitórias, comuns da vida no plano físico, seguindo o roteiro moral seguro de combate às imperfeições. Um dos principais pontos no qual poderíamos fracassar seria a não observância das lições do Evangelho, com conhecimento de causa. Uma vez que estudamos a Lei Divina, temos a obrigação de viver de acordo com ela.

Os que propagam e ensinam o Evangelho e não vivem em harmonia com o que ensinam e pregam estão construindo sobre a areia. Todavia, sabemos que conseguiremos reverter este quadro quando quisermos. Temos exemplos vivos de criaturas nobres e altruístas no seio de todas as religiões, que fizeram suas renovações como o apóstolo Paulo de Tarso que, erigindo sua vida sobre o erro, perseguindo cristãos, defendendo uma fé cega, preocupado com as posições de mando, aprendeu na estrada de Damasco que o terreno sobre o qual estava edificando apresentava-se abalado. Decidido, fundamentou sua caminhada, então, em bases sólidas, difundindo o Evangelho, tomando a deliberação inabalável de levar a palavra do Cristo a todas as nações. Outro grande exemplo de transformação foi Santo Agostinho. Inicialmente, levava uma vida cheia, dissoluta, mas, em dado momento, decidiu dedicar-se a uma vida apostolar, entregando-se de corpo e alma à tarefa de disseminação do Evangelho. Assim também foi com Maria Madalena que, mergulhada nos vícios, no orgulho, na ostentação, construía seus alicerces no lodo. A presença de Jesus fez com que ela se renovasse e se transformasse na criatura dedicada, amorosa, exemplar, seguindo o Mestre até os últimos instantes de Sua missão na Terra.

É interessante verificarmos que os homens de fé não são apenas palavrosos e entusiastas, mas, sim, portadores de atenção e boa vontade perante as lições do Sublime Semeador, examinando o conteúdo espiritual para aplicação no esforço diário, tijolo a tijolo, com perseverança, trabalho e vigilância. Esse ensinamento é bem atual, pois vivemos uma época na qual os valores morais são muito questionados e, desta maneira, toda prudência é pouca, a fim de que, inadvertidamente, venhamos a construir nossa casa sobre a areia, fácil de desabar e, em consequência disso, acabarmos provocando grandes sofrimentos a nós mesmos e ao próximo.

Jesus veio revelar-nos que a religião pura e genuína consiste não apenas em satisfazer formalismos, mas em cumprir mandamentos da Lei, o que exigirá de cada um de nós esforço constante no sentido de vencer as imperfeições e, ao mesmo tempo, desenvolver virtudes. Então, como o homem sábio que edificou sua casa sobre a rocha, tomemos os preceitos Divinos expostos pelo Mestre como fundamento de nossa norma de vida e, não, simplesmente como norma.

As palavras Dele são eternas porque são a Verdade. Elas não são somente a salvaguarda da vida celeste, mas a garantia da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Por isso, todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas que se apoiarem sobre as Suas palavras serão estáveis como a casa construída sobre a pedra; mas, aqueles que a violarem serão como a casa construída sobre a areia, onde o vento das revoluções e o rio do progresso as carregarão.


Bibliografia:

KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo – 365ª edição – Editora IDE – Araras/SP - capítulo 18, item 9 – 2009.

GODOY, A. Paulo – As Maravilhosas Parábolas de Jesus – 7ª edição – Editora FEESP –São Paulo/SP -página 100 – 1999.

CALLIGARIS, Rodolfo – O Sermão da Montanha – 18ª edição – Editora FEB – Brasília/DF - lição 49 – 2013.



 

     
     

O Consolador
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