Elucidações de Emmanuel

por Francisco Cândido Xavier

  

Mediunidade e privilégios


Todos estamos concordes em que a Doutrina Espírita revive agora o Cristianismo puro; no entanto, há muita gente que lhe estranha a organização, sem os chamados valores nobiliárquicos que assinalam a maioria das instituições terrestres.

À força de se iludirem com a idolatria, que sempre nos custa caro, muitos companheiros, menos vigilantes, desejariam condecorar trabalhadores da Nova Revelação, criando galerias para o relevo pessoal. E se pudessem determinar o rumo das coisas, no consenso opinativo, decerto que há muito estaríamos mobilizando doutrinadores-chefes e médiuns-titulares, com as nossas casas de serviço perdendo tempo em mesuras e rapapés.

Entretanto, não há uma só frase na Codificação Kardequiana em que se recomende tratamento especial a esse ou àquele médium porque fale com mestria ou materialize desencarnados, porque transmita força curativa ou psicografe livros renovadores.

A preocupação fundamental dos emissários divinos, na formação de nossos princípios, foi, aliás, edificar moralmente a instrumentação mediúnica em bases de simplicidade e desinteresse, para que ela “corresponda às vistas da Providência”.

Não existem, desse modo, médiuns maiores ou médiuns menores, favorecendo, entre nós, a constituição de prerrogativas e castas.

Tanto na mensagem do Evangelho, quanto na mensagem do Espiritismo, o que prevalece, acima de tudo, é a responsabilidade para cada um de nós.

Responsabilidade de sentir e pensar, de falar e fazer.

Não temos o direito de enfeitar os outros com os brasões da excessiva confiança, para que realizem o trabalho que nos compete.

Por essa razão, todos os operários da construção espírita são respeitáveis.

Os doutrinadores que se esmeram em socorrer um irmão obsidiado através de entendimento particular, estão fazendo obra idêntica aos que usam brilhantemente a palavra, arrebatando multidões, e os médiuns que grafam compêndios santificantes não são superiores àqueles outros que se consagram à restauração dos enfermos.

Sustentar a ideia espírita, indene de qualquer imaginária fidalguia para aqueles que a servem, é dever para todos nós.

Na formação cristã não sobraram privilégios para ninguém. O próprio Cristo, que se revelou pelo que fez e pelo que deixou de fazer, não se furtou ao sacrifício e à humilhação.

Algum tempo depois dele, Tiago, filho de Zebedeu, foi assassinado, Estêvão caiu sob injúrias e pedras, Simão Pedro foi conduzido ao martírio extremo e Paulo de Tarso tombou, sob golpes de espada, por estarem, todos eles, ensinando a verdade e praticando o bem.

Hoje, não podemos precisar de que modo desencarnarão os médiuns espíritas ocupados em tarefa libertadora das consciências, mas é importante que vivam atendendo aos próprios deveres, para que recebam corretamente a morte, quando não seja na palma do heroísmo, pelo menos na dignidade do trabalho edificante.

 

Do livro Seara dos Médiuns, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita