Súplicas maternas
Foi num átrio de luz, adornado de flores,
Que acompanhei a cena.
Seguida por amigos e instrutores,
Uma assembleia reduzida
De mães que vinham da aflição terrena,
Após vencer no imenso mar da vida
Lutas de amor em bases de humildade,
Receberia certidão
Para elevar-se a mundos de eleição
Em plenitude de imortalidade.
Era um grupo de nobres heroínas
Pela fidelidade às Leis Divinas.
O Emissário do Alto, dirigente
Da bela promoção
Tomou voz e falou, fraternalmente,
Com palavras seguras
Da vida luminosa das Alturas,
Na qual toda a assembleia encontraria
Os tesouros da paz e da alegria
Em sublime ascensão.
Terminada que foi a mensagem ouvida,
Certa mulher ergueu-se enternecida
E rogou, inflamada de esperança:
- Mensageiro de Deus, tenho um filho a lutar
Num presídio do mundo...
Como seguir, além, buscando o Excelso Lar,
Se o tenho na memória a me chamar,
De segundo a segundo?
Se posso receber algum favor da Lei,
Permite-me voltar à casa em que morei;
Quero tornar à Terra... Necessito
Balsamizar-lhe o peito enfermo e aflito...
Outra pediu a desfazer-se em pranto:
- Preclaro Mensageiro do Senhor,
De que modo olvidar a filha que amo tanto,
A implorar-me socorro, em preces de amargor?...
Pobre filha estirada
Em medonha cilada
De treva, luta e lama!...
Como pode haver céu para a dor de quem ama?
Anseio regressar aos meus antigos laços
Porque, acima de tudo,
Quero a filha que Deus me colocou nos braços!...
O Embaixador ouvia triste e mudo,
Quando outra mulher se ergueu a reclamar:
- Anjo do Bem, sou mãe... Tenho um filho a chorar...
Não posso recolher-me a descanso ilusório...
Se tenho o meu rapaz num sanatório,
Não me cabe envergar os louros da subida,
Devo tornar à Terra e amenizar-lhe a vida...
Outra rogou ainda, em tom comovedor:
- Emissário Bendito do Senhor,
Ampara-me o problema,
Tenho um filho a sofrer, sob penúria extrema...
Creio que a Lei de Deus é a própria Lei do Amor.
Como largar meu filho encarcerado e louco,
Suportando remorso e a morrer pouco a pouco?
Sei que faliu e errou... É um pobre delinquente,
Pobre filho doente...
É minha obrigação aliviar-lhe as penas,
Não posso abandoná-lo às provações terrenas.
Ergueram-se outras mães, quais estrelas cativas,
Formulando, em comum, as mesmas rogativas.
Umas assinalavam filhos sob o peso
De trabalho violento,
Outras lembravam filhas em desprezo,
Escravizadas pelo sofrimento.
Concluídas as preces, o Emissário
Explicou-se, tomado de emoção:
- Irmãs, o vosso amor é aquele do Calvário,
Que nasceu do Senhor, nos tormentos da cruz,
Amor que imperará na Terra do porvir,
Que sofre sem dever e se dá sem pedir,
Bênção do coração a converter-se em luz!...
Alma que conquistou esse poder divino
Pode escolher na vida o seu próprio destino...
A vossa promoção é mantida, porém,
Não podeis alterar a Eterna Lei do Bem...
Já não mais sereis mães, sereis anjos da guarda,
Junto aos entes que amais na grande retaguarda...
Deus vos guarde e ilumine a divina missão
De renúncia e de paz, de socorro e perdão.
Companheiros na fé que nos governa,
Considerai conosco esta nota fraterna:
- Ante os irmãos que o mal espancou em caminho,
Estendei vosso amparo com carinho,
Seja por vossas mãos ou a vosso mando...
Nunca vos esqueçais de que, ao pé da criatura,
Que se atirou na prova em que se apura,
Um anjo maternal está velando...
Do livro A Vida Conta, obra psicografada pelo
médium Francisco Cândido Xavier.