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por Vladimir Alexei

 

Sensacionalismo


No afã de noticiar estudos e pesquisas, diversos divulgadores espíritas têm abusado do bom senso, a ponto de transformarem a divulgação espírita em algo comum, pequeno. Não deveria ser.

Em busca de audiência, seja pelas redes sociais, Youtube e demais veículos de comunicação proporcionados pela internet, há muita gente fazendo propaganda enganosa. O título dos trabalhos diz uma coisa e o seu conteúdo versa sobre outra completamente diferente.

E não é difícil perceber, nem precisa ser da área para constatar. Palavras como “exclusivo”, “nunca visto antes”, “informações inéditas” são expressões usadas para chamar a atenção sobre um conteúdo que, não raras vezes, interessa apenas àquele que o está veiculando: na maioria das vezes não acrescenta absolutamente nada em termos de estudo e aprendizado doutrinário. Puro sensacionalismo.

O mais grave, talvez, seja a falta de ética, mesmo que o objetivo jamais seja esse. É preciso cuidado ao intitular um trabalho, seja como for e qual for, para não cair em descrédito junto ao seu público. Tem tanto lixo na internet com títulos sugestivos, que se perde muito tempo procurando, assistindo, filtrando, para encontrar algo que realmente aborde estudo doutrinário.

É comum, por exemplo, expositores convidarem para a leitura das “Revistas Espíritas” editadas por Allan Kardec. Entretanto, não explicam, não informam a origem daqueles trabalhos, não apresentam “por que” aquelas revistas funcionaram como laboratório para Allan Kardec, ou seja, aplicam o conteúdo totalmente descontextualizado, como se oferecessem algo “inédito” para o seu público. Não é inédito e muitas vezes deveria ser precedido de esclarecimentos abordados nas obras fundamentais da Doutrina Espírita (os livros de Kardec que estruturam a Doutrina dos

Espíritos).

Recentemente passamos por publicações fruto de pesquisas de fôlego, como é o caso da obra "O Legado de Allan Kardec", de Simoni Privato Goidanich. Esse trabalho é belíssimo e deveria ser lido por todos. É, de fato, uma pesquisa inédita, que revela fatos que mostram quanto o trabalho de Allan Kardec foi distorcido em sua continuação. A autora mantém canal no Youtube (convidamos a todos a assistir: vale a pena!), com a mesma sobriedade com que desenvolveu o trabalho escrito. Sem rodeios, sem falas excessivas, sem contos monótonos; vídeos curtos, porém objetivos, fruto do livro. Conteúdos que vale a pena ler (livro) e assistir (Youtube). Entretanto, fora esse trabalho da Simoni, o que se vê é mais do mesmo sensacionalismo.

A internet está repleta de leituras, releituras e interpretações de textos históricos que em nada mudam o conteúdo doutrinário. Absolutamente nada. Esse trabalho da Simoni mostra, com farta documentação, que houve supressão de conteúdo do trabalho de Allan Kardec. Fomos privados de compreender todo o conteúdo. A pesquisa percorre um caminho que é descrito no livro com muita clareza. E o que temos feito desse trabalho? Quais estudos foram produzidos, demonstrando os textos suprimidos e os impactos no aprendizado doutrinário? Nenhum. Os estudos na internet estão pobres!Chamamos a atenção para o sensacionalismo em se dar “furos” com conteúdos que em nada evidenciam contribuição ao entendimento doutrinário. 

Os demais esforços são estudos que estão na periferia da importância doutrinária para alcançar os objetivos efetivamente transformadores que os estudos das Obras de Allan Kardec proporcionam.

O mesmo sensacionalismo, com atores diferentes, que se engalfinham há anos, ocorre com a figura do Chico Xavier: pouco se estuda o trabalho vertido por sua mediunidade. Entretanto, as estantes (virtuais e físicas) estão abarrotadas de subjetividades acerca da figura do médium, seu passado, suas lutas e reveses. Saturou, de tanto sensacionalismo!

Por trás do sensacionalismo, há uma fragilidade que pode ser explicada à luz da psicologia ou mesmo doutrinária: não se discute a boa intenção de ninguém. Acredito piamente no desejo de todos fazerem algo de bom e útil. Talvez, nesse momento, o melhor agora fosse fazer silêncio. 

Sejamos críticos de todos os trabalhos, analisemos tudo à luz da doutrina espírita e tenhamos misericórdia para com os trabalhadores. Muitos são cegos guiando cegos. 

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita