Sensacionalismo
No afã de noticiar estudos e pesquisas, diversos
divulgadores espíritas têm abusado do bom senso, a ponto
de transformarem a divulgação espírita em algo comum,
pequeno. Não deveria ser.
Em busca de audiência, seja pelas redes sociais, Youtube
e demais veículos de comunicação proporcionados pela
internet, há muita gente fazendo propaganda enganosa. O
título dos trabalhos diz uma coisa e o seu conteúdo
versa sobre outra completamente diferente.
E não é difícil perceber, nem precisa ser da área para
constatar. Palavras como “exclusivo”, “nunca visto
antes”, “informações inéditas” são expressões usadas
para chamar a atenção sobre um conteúdo que, não raras
vezes, interessa apenas àquele que o está veiculando: na
maioria das vezes não acrescenta absolutamente nada em
termos de estudo e aprendizado doutrinário. Puro
sensacionalismo.
O mais grave, talvez, seja a falta de ética, mesmo que o
objetivo jamais seja esse. É preciso cuidado ao
intitular um trabalho, seja como for e qual for, para
não cair em descrédito junto ao seu público. Tem tanto
lixo na internet com títulos sugestivos, que se perde
muito tempo procurando, assistindo, filtrando, para
encontrar algo que realmente aborde estudo doutrinário.
É comum, por exemplo, expositores convidarem para a
leitura das “Revistas Espíritas” editadas por Allan
Kardec. Entretanto, não explicam, não informam a origem
daqueles trabalhos, não apresentam “por que” aquelas
revistas funcionaram como laboratório para Allan Kardec,
ou seja, aplicam o conteúdo totalmente
descontextualizado, como se oferecessem algo “inédito”
para o seu público. Não é inédito e muitas vezes deveria
ser precedido de esclarecimentos abordados nas obras
fundamentais da Doutrina Espírita (os livros de Kardec
que estruturam a Doutrina dos
Espíritos).
Recentemente passamos por publicações fruto de pesquisas
de fôlego, como é o caso da obra "O Legado de Allan
Kardec", de Simoni Privato Goidanich. Esse trabalho é
belíssimo e deveria ser lido por todos. É, de fato, uma
pesquisa inédita, que revela fatos que mostram quanto o
trabalho de Allan Kardec foi distorcido em sua
continuação. A autora mantém canal no Youtube
(convidamos a todos a assistir: vale a pena!), com a
mesma sobriedade com que desenvolveu o trabalho escrito.
Sem rodeios, sem falas excessivas, sem contos monótonos;
vídeos curtos, porém objetivos, fruto do livro.
Conteúdos que vale a pena ler (livro) e assistir
(Youtube). Entretanto, fora esse trabalho da Simoni, o
que se vê é mais do mesmo sensacionalismo.
A internet está repleta de leituras, releituras e
interpretações de textos históricos que em nada mudam o
conteúdo doutrinário. Absolutamente nada. Esse trabalho
da Simoni mostra, com farta documentação, que houve
supressão de conteúdo do trabalho de Allan Kardec. Fomos
privados de compreender todo o conteúdo. A pesquisa
percorre um caminho que é descrito no livro com muita
clareza. E o que temos feito desse trabalho? Quais
estudos foram produzidos, demonstrando os textos
suprimidos e os impactos no aprendizado doutrinário?
Nenhum. Os estudos na internet estão pobres!Chamamos a
atenção para o sensacionalismo em se dar “furos” com
conteúdos que em nada evidenciam contribuição ao
entendimento doutrinário.
Os demais esforços são estudos que estão na periferia da
importância doutrinária para alcançar os objetivos
efetivamente transformadores que os estudos das Obras de
Allan Kardec proporcionam.
O mesmo sensacionalismo, com atores diferentes, que se
engalfinham há anos, ocorre com a figura do Chico
Xavier: pouco se estuda o trabalho vertido por sua
mediunidade. Entretanto, as estantes (virtuais e
físicas) estão abarrotadas de subjetividades acerca da
figura do médium, seu passado, suas lutas e reveses.
Saturou, de tanto sensacionalismo!
Por trás do sensacionalismo, há uma fragilidade que pode
ser explicada à luz da psicologia ou mesmo doutrinária:
não se discute a boa intenção de ninguém. Acredito
piamente no desejo de todos fazerem algo de bom e útil.
Talvez, nesse momento, o melhor agora fosse fazer
silêncio.
Sejamos críticos de todos os trabalhos, analisemos tudo
à luz da doutrina espírita e tenhamos misericórdia para
com os trabalhadores. Muitos são cegos guiando cegos.
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