Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Brincar é intrínseco à infância


Foi na fazenda de meu pai antigamente.

Eu teria dois anos; meu irmão, nove.

Meu irmão pregava no caixote

Duas rodas de lata de goiabada.

A gente ia viajar.

As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:

Uma olhava para a outra.

Na hora de caminhar

As rodas se abriam para o lado de fora.

De forma que o carro se arrastava no chão.

Eu ia pousada dentro do caixote

Com as perninhas encolhidas.

Imitava estar viajando.

Manuel de Barros


O ser humano nasce e cresce com necessidade de brincar, sendo uma das ações mais importantes na vida do indivíduo.

Quem educa uma criança, especialmente na primeira infância, precisa lembrar: o que realmente importa para a criança é o brincar, pois é isso que a coloca em contato com o próprio corpo e entorno, aguçando curiosidade, linguagem, atenção, concentração, inúmeras habilidades...

Quanto menor a criança, menor parece ser a importância que ela dá ao brinquedo em si. Na realidade, crianças não se importam com muitos ou poucos brinquedos, brinquedos caros ou baratos, porque o que elas querem é explorar ludicamente o mundo. Brincando, as crianças expressam seu ser integral, pondo corpo, mente, sentimentos e espírito em evidência… Por isso, na hora das brincadeiras, tão importante a necessidade do silêncio, da solidão, na contramão do excesso (de estímulos, por exemplo), e para que as crianças possam ter contato com elas mesmas.

Atividade humana interpretativa, criadora, ao brincar a criança vivencia as coisas e o mundo, assimilando a cultura do meio em que vive, a ele se integrando de maneira particular e ainda como um ser social.

Intrínseco à infância, a criança, no dia a dia, aprende brincando – massinha, peteca, boneca, carrinho, amarelinha, queimada, soltar pipa, subir em árvores, construir cabana no gramado, montar casinha embaixo da mesa da sala – e para tomar consciência de si e do mundo, preparando-se para o futuro.

Notinhas

A criança que brinca precisa ser respeitada, pois seu mundo está em constante oscilação entre fantasia e realidade.  Quando as crianças pequenas brincam, por exemplo, de ser outros – mãe, professora, médico, policial, bruxa, fada etc. – acabam por refletir sobre suas relações com esses outros, experimentando, com segurança, medo, tensão, tristeza, raiva etc.

Nas cidades, onde as crianças estão mais emparedadas e institucionalizadas, é essencial oferecer a elas mais liberdade de tempo e interação com espaços mais amplos, principalmente com a natureza, ou seja, crianças precisam brincar em parques, praças, espaços públicos, manipular barro, areia, explorar plantas, conhecer insetos...

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita