Brincar é intrínseco à infância
Foi na fazenda de meu pai antigamente.
Eu teria dois anos; meu irmão, nove.
Meu irmão pregava no caixote
Duas rodas de lata de goiabada.
A gente ia viajar.
As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:
Uma olhava para a outra.
Na hora de caminhar
As rodas se abriam para o lado de fora.
De forma que o carro se arrastava no chão.
Eu ia pousada dentro do caixote
Com as perninhas encolhidas.
Imitava estar viajando.
Manuel de Barros
O ser humano nasce e cresce com necessidade de brincar,
sendo uma das ações mais importantes na vida do
indivíduo.
Quem educa uma criança, especialmente na primeira
infância, precisa lembrar: o que realmente importa para
a criança é o brincar, pois é isso que a coloca em
contato com o próprio corpo e entorno, aguçando
curiosidade, linguagem, atenção, concentração, inúmeras
habilidades...
Quanto menor a criança, menor parece ser a importância
que ela dá ao brinquedo em si. Na realidade, crianças
não se importam com muitos ou poucos brinquedos,
brinquedos caros ou baratos, porque o que elas querem é
explorar ludicamente o mundo. Brincando, as crianças
expressam seu ser integral, pondo corpo, mente,
sentimentos e espírito em evidência… Por isso, na hora
das brincadeiras, tão importante a necessidade do
silêncio, da solidão, na contramão do excesso (de
estímulos, por exemplo), e para que as crianças possam
ter contato com elas mesmas.
Atividade humana interpretativa, criadora, ao brincar a
criança vivencia as coisas e o mundo, assimilando a
cultura do meio em que vive, a ele se integrando de
maneira particular e ainda como um ser social.
Intrínseco à infância, a criança, no dia a dia, aprende
brincando – massinha, peteca, boneca, carrinho,
amarelinha, queimada, soltar pipa, subir em árvores,
construir cabana no gramado, montar casinha embaixo da
mesa da sala – e para tomar consciência de si e do
mundo, preparando-se para o futuro.
Notinhas
A criança que brinca precisa ser respeitada, pois seu
mundo está em constante oscilação entre fantasia e
realidade. Quando as crianças pequenas brincam, por
exemplo, de ser outros – mãe, professora, médico,
policial, bruxa, fada etc. – acabam por refletir sobre
suas relações com esses outros, experimentando,
com segurança, medo, tensão, tristeza, raiva etc.
Nas cidades, onde as crianças estão mais emparedadas e
institucionalizadas, é essencial oferecer a elas mais
liberdade de tempo e interação com espaços mais amplos,
principalmente com a natureza, ou seja, crianças
precisam brincar em parques, praças, espaços públicos,
manipular barro, areia, explorar plantas, conhecer
insetos...
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