Quem educa?
Nunca ajude uma criança enquanto ela estiver executando
uma tarefa na qual ela sente que pode ser bem sucedida.
Maria Montessori
Nenhuma criança nasce sendo um tirano, mas existem pais
que não agem como adultos educadores e, por isso, fazem
todo o tipo de concessões para não ter problemas e, no
final, o que geram é um problema e assim se tornam
reféns de seus filhos (pequenos ou grandes).
Sobre os filhos tiranos, os pais reféns se justificam:
“ele só come o que quer…”, “ela fica assistindo à TV até
tarde e só dorme de madrugada…”, “ele chora e faz birra
quando não fazemos o que ele quer…”. “Ele detesta ser
interrompido quando está no celular.” E “ele” ou “ela”
diz respeito a crianças de 2, 3, 4, 8, 9 anos…
Muitos pais e mães precisam entender que um pressuposto
básico relacionado à maternidade ou à paternidade
significa assumir responsabilidade pela vida de uma
criança, guiando-a durante seu crescimento, pois a
infância é um período crucial na formação da
personalidade de uma pessoa, de sua autoestima, ou seja,
da visão de mundo e de hábitos que vão estruturar seu
modo de gerir mais tarde a própria vida e definir seu
papel na sociedade.
Educar não é permitir tudo. Regras de conduta e
proibições são essenciais para o desenvolvimento de uma
criança. Ademais, não dar aos filhos uma clara
consciência de limites significa criar pessoas egoístas,
intolerantes, despreparadas e, ainda, extremamente
suscetíveis a graves riscos e dificuldades no futuro.
A quem enganar? Crianças não têm maturidade suficiente
para decidir pautas sobre o seu cotidiano, saúde,
bem-estar. Não têm noção, por exemplo, sobre a hora
adequada para dormir, o que precisa comer no desjejum ou
no jantar; o lanche ideal para levar à escola; o tempo
que pode passar diante da televisão... Nem crianças na
segunda infância ou adolescentes, na realidade, têm
total capacidade de decidir essas coisas sozinhos. Os
filhos necessitam, por isso, de alguém que tenha
condições de orientá-los com bom senso e disciplina, e
também de repreendê-los quando cometerem erros, pois é
essa dinâmica que contribuirá para que se tornem pessoas
capazes de cuidarem de si mesmas e agregarem na vida
adulta valor à sociedade…
É importante deixar claro que educar é saber dizer
“sim”, mas também conseguir, sem medo, dizer “não”. Pois
crescer significa também passar por frustração,
decepção, raiva, tristeza. Pais que amam, pais
suficientemente competentes não temem contrariar a
vontade do filho com três ou onze anos.
Obviamente, bons pais são atenciosos e presentes. Sabem,
no entanto, que é um erro dar poder a uma criança
ingênua, que precisa ser orientada. Sem usarem da
rigidez, são firmes, coerentes e se dedicam com
paciência a ajudar o filho ou a filha a crescer bem e se
tornar um ser humano consciente de seus direitos e
deveres.
De um modo simples, mas persistente, a clareza de
limites e barreiras, o reforço positivo e,
principalmente, a presença atenciosa dos pais dará aos
filhos a segurança para desenvolverem-se como pessoas
autônomas e felizes.
Notinha
Em um artigo para o jornal britânico The Independent,
o jornalista Steve Connor fala de um “exército chinês de
pequenos imperadores”, fruto da superproteção do filho
único por parte de pais e avós, que querem dar-lhe os
luxos e privilégios que a eles foram negados. Isso,
somado ao aumento da renda per capita das famílias,
multiplicou os “pequenos tiranos” até limites
imprevistos. Connor afirma que as crianças chinesas
atuais são “menos altruístas e confiantes, mais tímidas,
menos competitivas, mais pessimistas e menos atenciosas
com os demais”.
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