Artigos

por Jane Martins Vilela

 

Temporário adeus


Sabemos que o trabalho é uma necessidade e que toda ocupação útil é trabalho, conforme disseram os Espíritos a Allan Kardec, na questão 675 de O Livro dos Espíritos.

Ao longo de muito tempo de observação, pudemos constatar, assim como a maioria dos interessados no assunto, que os grandes Espíritos não pedem facilidades durante sua encarnação, ao contrário, pedem dificuldades a vencer e muito trabalho. Sabem que o trabalho dignifica.

Tivemos a oportunidade de conhecer e conviver com Espíritos que souberam honrar o trabalho e o amor, em nossas vidas. Muitos passaram com uma roupagem humilde, anônima na reencarnação. Outros tiveram passagens que os faziam parecer as estrelas do céu. Todos deixaram saudades. Com todos aprendemos.

Nestas linhas agora, mencionaremos um Espírito com o qual estamos convivendo, que não conhece a grandeza que tem, mas essa se apresenta aos nossos olhares atentos.

Trata-se de uma auxiliar de saúde, com cerca de 55 anos. Vemos sua trajetória com admiração. No bairro onde trabalha, todos a olham com respeito e a tratam com amor, pois é assim que ela trata a todos. Assiste os acamados da área, aproximadamente 66 pessoas. Sabe as necessidades de cada um, decorou o nome dos remédios de praticamente todos. Por onde passa é saudada com carinho. Tem uma religiosidade intensa, na fé que abraça.

Soubemos por ela da vida difícil que levou e ainda leva. Muito trabalho, dificuldades a vencer e muita fé. Morava num sítio, nas proximidades de Londrina; o pai trabalhava lá. Todos os dias os irmãos e ela madrugavam e iam para a lavoura trabalhar. Trabalhavam duro.

Aos 16 anos entrou para a vida escolar e foi aprender a ler. Tornou-se auxiliar de saúde. Cuidou dos pais com extremo carinho, até a morte deles.  A irmã mais nova, cedendo às paixões da Terra, engravidou cedo, mas não assumiu os filhos. Ela foi e é a mãe dos sobrinhos, pois a irmã os abandonou quando pequenos e foi morar com um companheiro em Santa Catarina. Dois desses filhos já estão casados, e a menina, hoje com 18 anos, mora com ela. Sua filha, ela diz.

Há cerca de dois anos ela descobriu que a irmã estava muito doente em Santa Catarina e que o companheiro não tinha condições de ajudá-la. Trouxe-a para cá. Sua irmã estava com câncer de esôfago. Sua abnegação e amor com ela foram dignos de exemplo. Trabalhando de 8 a 12 horas por dia, chegava em casa e ia cuidar da “filha” e da irmã. Dava-lhe banho, remédios, ajudava-a com a consolação, quando a revolta por estar doente a atingia.

Com o tempo, foi vendo que a irmã não teria chances de sobreviver. Por mais que a medicina tentasse ajudar, foram acontecendo metástases e ela teve que ser alimentada por sonda gástrica. Ia e voltava com essa irmã ao Hospital de Câncer. Cuidava dia e noite, dormia muito pouco.

Conhecendo sua história, todos os colegas de trabalho se perguntavam intimamente como estava aguentando. A pressão arterial subiu muito, mas estava firme.

Um dia a “filha” se revoltou, pois achava que estava abandonada por ela e dizia que ela só dava atenção para aquela mulher estranha, que ela não reconhecia como mãe. Carinhosamente, ela lhe pediu desculpas: - Filha, reconheço que não estou tendo muito tempo para você, mas não se revolte. Ela é sua mãe biológica e minha irmã. Se não nos ajudarmos uns aos outros, nas horas de dificuldades, que cristãos seremos?

A jovem não aceitou muito bem os argumentos, mas, nesse mesmo dia, quando dava banho na irmã, tinha esquecido a toalha e pediu à jovem. Quando esta entrou no banheiro e viu o corpo daquela mulher, esquálida, caquética, chocou-se. Foi lá fora, buscou as sandálias e a ajudou a calçar. Daquele dia em diante tornou-se uma fiel ajudante. O amor e o exemplo venceram.

Ela nos falou sobre o dia em que sua irmã morreu. Estava no hospital de câncer. Estava com ela no quarto. Extremamente cansada, adormeceu na poltrona. Sentiu uma mão tocar-lhe o ombro e olhou. Estava dormindo, mas teve a nítida certeza da realidade. Sentiu a mão no ombro. Era sua irmã. Estava de pé, vestida com um belo vestido e muito bonita. Ela lhe disse: - Você não precisa mais cuidar de mim, estou indo embora. Ela tentou conversar: - Mas como? Você não pode ir embora. Precisa ficar e se tratar. – Não, respondeu a irmã. Você sabe que eu detesto ficar aqui, detesto hospital, vou embora, estou indo.

Ela acordou com a mão estendida para a irmã que partia. Naquele mesmo dia a irmã desencarnou.

Essa auxiliar envolveu a família no exemplo e no amor. No final, todos os filhos a estavam ajudando a cuidar da mãe biológica, sem medir esforços. Isso é grandeza. Uma nobre e anônima alma. Há muitos assim. Trabalhadores ocultos do bem.

Finados está chegando e muitos em novembro ainda choram dores amargas de saudades. Essa auxiliar não é espírita, mas tem certeza de que sua irmã vive além da morte do corpo.

A certeza da vida imortal é um grande alento. Sabermos que nos reencontraremos com os queridos que já partiram nos move de esperanças.

Pudemos apreciar a psicofonia de um jovem filho, desencarnado aos 20 anos, para a sua mãe, que é espírita, médium, e estava presente na reunião mediúnica. Nós conhecemos esse jovem. Que psicofonia emocionante! Choramos de emoção com as palavras que ouvimos. Como é belo o amor! E que grande luz é o Espiritismo para aqueles que derramam lágrimas de saudades! Trabalhemos muito, dignificando a vida e honrando os amados que partiram. Um dia, nós nos reencontraremos.

Adeus não é para sempre. É um até breve.

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita