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por Vladimir Polízio

 

A ponte de luz  


É natural que os religiosos de todos os cantos do mundo aguardem, após a passagem de um plano a outro, pelo que sempre sonhou na vida, que se resume na sua condução pelos caminhos mais iluminados, mais floridos, onde anjos e arcanjos circulem volitando entre a exuberante Natureza... É assim que muitos imaginam, criando em suas mentes poderosas o quadro e a paisagem com a cor que desejam... Contudo, durante nossa jornada na Terra nos envolvemos em demasia com as benesses que encontramos e acabamos nos esquecendo das lições do Evangelho, nos lembrando que poucos, como disse Jesus, se acertam com a porta estreita. Por isso, vale a pena sonhar como vale a pena mudar nossa conduta enquanto ainda estivermos a caminho.

Maria Dolores, por meio da mediunidade de Chico Xavier, enviou-lhe pela psicografia esta bela página que conta, em versos, o diálogo de Pedro com Jesus, interrogando o Mestre sobre os caminhos que nos levarão às regiões da eterna felicidade junto dos entes queridos. 'A ponte de luz':

Terminara Jesus a prédica no monte. Nisso, o apóstolo Pedro aproxima-se e lhe diz: "‒ Senhor, existe alguma ponte// Que nos conduza ao Alto, ao Céu que brilha muito acima?// Conforme ouvi de tua própria voz,//Sei que o Reino do Amor está dentro de nós...// Mas deve haver, no Além, o País da Beleza,// Mais sublime que o Sol, em fulgor e grandeza...// Onde essa ligação, Senhor, esse divino acesso?

Jesus silenciou, como entrando em recesso// Da palavra de luz que lhe fluía a jorro...// Circunvagou o olhar pelas pedras do morro// E, depois de comprida reflexão,// Falou ao companheiro: ‒ Ouve, Simão,// Em verdade, essa ponte que imaginas// Existe para a Vida Soberana,// Mas temos de atingi-la por estrada// Que não é bem a antiga estrada humana.

‒ Como será, Senhor, esse caminho?// Tornou Simão a perguntar.// E Jesus respondeu sem hesitar: ‒ Coração que a escolha, às vezes, vai sozinho,// E quase que não tem// Senão renúncia e dor, solidão e amargura...// E conquanto pratique e viva a lei do bem,// Sofre o assédio do mal que o vergasta e procura// Reduzi-lo à penúria e ao desfalecimento.

Quem busca nesta vida transitória// Essa ponte de luz para a eterna vitória// Conhecerá, de perto, o sofrimento// E há de saber amar aos próprios inimigos.

Não contará percalços nem perigos// Para servir aos semelhantes,// Viverá para o bem todos os instantes// E mesmo quando o mal pareça o vencedor,// Confiando-se a Deus, doará mais amor...

E ainda que a morte, Pedro, se lhe imponha,// Na injustiça ferindo-lhe a vergonha,// Aceitará pedradas sem ferir,// Desculpará injúria e humilhação// Se deseja elevar o coração// À ponte para o Reino do Porvir...

Alguns dias depois, o Cristo flagelado,// Entregue à própria sorte// Encontrava na cruz o impacto da morte,// Silencioso, sozinho, desprezado...

Terminada que foi a gritaria// Da multidão feroz naquele dia,// Ante o Céu anunciando aguaceiro violento,// Pedro foi ao Calvário, aflito e atento,// Envergando disfarce...

Queria ver o Mestre, aproximou-se// Para sentir-lhe o extremo desconforto...// Simão chorou ao ver o Amigo morto.

E ao fitá-lo, magoado, longamente// Ele ouviu, de repente,// Uma voz a falar-lhe das Alturas: ‒ Pedro, segue, não temas, crê somente!...// Recorda os pensamentos teus e meus...// Esta cruz que me arrasa e me flagela// É a ponte que sonhavas, alta e bela,// Para o Reino de Deus."


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita