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por Jane Martins Vilela

 

Bem educar


Há cerca de um mês, conversando com uma jovem senhora, ela nos falou sobre o seu velho pai, de 92 anos de idade. Ela falava dele com um amor imenso. Cuida dele e da mãe, que é um pouco mais nova. O pai, baiano, muito calmo. A mãe, nordestina também, o oposto do pai, ciumenta e autoritária. Ela tem amor por ambos, mas nota-se a inclinação pelo pai.

Comentou sobre a lucidez e memória dele. Todos os dias, decora uma poesia nova, tendo a preferência por Castro Alves. Declama Castro Alves todos os dias, a poesia inteira! E Castro Alves tem poesias enormes, belíssimas!

Isso é um grande estímulo para a memória, dissemos. Que bem faz ele!

Em seguida, começou ela a falar sobre o temperamento do pai, a calma que ele revela, a serenidade.

Estava ela muito triste. A irmã mais velha, casada, provocou-lhe uma desdita, atacando-a verbalmente com dureza, por conta de ela, por ser mais jovem, morar e cuidar dos pais, e mimá-los demais, fazendo tudo para agradá-los.

Acontece que a irmã mais jovem estava certa. Os pais são tesouros de amor que Deus nos emprestou e, amá-los, constitui uma das maiores alegrias. A mais velha, movida pelo ciúme, a agrediu verbalmente e ela sentiu uma opressão enorme no peito, embora não tenha respondido nada à irmã. Só que o sofrimento não passava. A opressão não passava. Ela ia para o quintal, sentava-se debaixo de uma mangueira e ficava ali, triste.

Os dias passavam e ela repetia aquela atitude, no quintal, deixando a tristeza eclodir. E quando estava lá, pôde sentir uma mão no ombro dela, a acariciá-la. Era seu velho pai que, observando a situação, lhe falou:

- Minha filha, quando o soldado cai ferido na luta, ele não fica deitado no chão, esperando a morte. Ele se esforça, levanta e continua na batalha. Faz quinze dias que você caiu. Quando é que você vai decidir levantar-se?

Ela respirou fundo, foi para dentro, pensou nas palavras do pai e reagiu. Jogou fora a tristeza e se revigorou.

Nós comentamos sobre a sabedoria de seu pai. Ela nos disse então: - A senhora não viu nada. Vou contar um pouco mais. E narrou: - Quando eu era pequena, nos meus nove anos, tinha uma amiga. Estávamos sempre juntas. Um dia, ela brigou feio comigo, me destratou, acabou comigo; estremecemos a amizade.

Meu pai aguardava para irmos juntos a um sítio próximo. Ao me ver sozinha, perguntou onde estava a minha amiga, pois estava combinado de ela ir junto. Ela não vem, disse eu. Brigou comigo, não é mais minha amiga. Meu pai não disse nada.

No sítio, colhemos várias frutas. Em casa, ele pegou uma caixa e colocou ali uns lindos abacates, enormes! Chamou-me. Entregou-me a caixa e me ordenou ir à casa de minha amiga levar-lhe os abacates de presente. Eu não aceitei e argumentei que a minha amiga estava brigada comigo e ele ainda queria que eu lhe desse os abacates de presente? Papai, então, disse, tranquilamente: - Não discuta, minha filha. Vá lá e faça o que estou pedindo. Então, eu fui. Toquei a campainha e quando ela atendeu, eu falei: - Tome. É um presente para você. Minha amiga pegou a caixa, extremamente pálida, balbuciou um obrigada e se afastou. Quando cheguei a casa, contei a meu pai como ela havia ficado pálida ao receber os abacates.

- Minha filha, disse ele, a vitória é de quem conquista.

Que educador, que exemplo! Essa filha nunca se esqueceu disso. A vitória é de quem conquista, jamais de quem agride.

Amélia Rodrigues, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, no livro “Trigo de Deus”, comenta que “o mal é o adversário do bem, mas não tem existência real; no entanto, entorpece os sentimentos, esfacela os ideais, desarticula as emoções. O mal desaparece ante a ação do bem. Residente no interior do homem ainda primitivo, escraviza-o, atormentando-o em profundidade e longo curso. Acendendo-se a luz, desaparecem as sombras dominantes. O mal é transitório, produz danos e não tem dignidade nem escrúpulos. O amor do Pai luariza-o, decompõe-no, anula-o, caso a criatura se deixe conduzir docilmente”.

O pai de 92 anos agiu assim. Educou essa filha na mansidão e no amor ao próximo. Hoje ela retribui. Cuida dele e da mãe com o maior carinho. Sua casa se enche de jovens que querem estar com ele, ouvi-lo declamar Castro Alves e aprender. Que bênção! Pais assim é que precisamos ser, que eduquemos para o bem, pois muitos comentam hoje sobre as dificuldades dessa geração, na educação. Diríamos que o problema é dos educadores, aqueles que são a família. Deveriam ter educado bem para que hoje fossem filhos educados, como a jovem acima demonstra ser. A irmã mais velha teve a mesma educação, mas não se mostrou um Espírito dócil para o aprendizado.

Assim são os Espíritos, que somos nós. A diversidade de caracteres é muito grande, mas a função educadora dos pais é de extrema importância!

Felizmente, estamos vendo um desejo de se recuperar o espaço perdido e os pais voltarem a educar seus filhos pequenos, no bem, na grande maioria, compreendendo que essa função é sua. A escola fortalece, complementa. A esperança de um futuro melhor existe. A educação no amor é fundamental. Jesus deve ser sempre nosso modelo e guia.
 


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita