Bem educar
Há cerca de um mês, conversando com uma jovem senhora,
ela nos falou sobre o seu velho pai, de 92 anos de
idade. Ela falava dele com um amor imenso. Cuida dele e
da mãe, que é um pouco mais nova. O pai, baiano, muito
calmo. A mãe, nordestina também, o oposto do pai,
ciumenta e autoritária. Ela tem amor por ambos, mas
nota-se a inclinação pelo pai.
Comentou sobre a lucidez e memória dele. Todos os dias,
decora uma poesia nova, tendo a preferência por Castro
Alves. Declama Castro Alves todos os dias, a poesia
inteira! E Castro Alves tem poesias enormes, belíssimas!
Isso é um grande estímulo para a memória, dissemos. Que
bem faz ele!
Em seguida, começou ela a falar sobre o temperamento do
pai, a calma que ele revela, a serenidade.
Estava ela muito triste. A irmã mais velha, casada,
provocou-lhe uma desdita, atacando-a verbalmente com
dureza, por conta de ela, por ser mais jovem, morar e
cuidar dos pais, e mimá-los demais, fazendo tudo para
agradá-los.
Acontece que a irmã mais jovem estava certa. Os pais são
tesouros de amor que Deus nos emprestou e, amá-los,
constitui uma das maiores alegrias. A mais velha, movida
pelo ciúme, a agrediu verbalmente e ela sentiu uma
opressão enorme no peito, embora não tenha respondido
nada à irmã. Só que o sofrimento não passava. A opressão
não passava. Ela ia para o quintal, sentava-se debaixo
de uma mangueira e ficava ali, triste.
Os dias passavam e ela repetia aquela atitude, no
quintal, deixando a tristeza eclodir. E quando estava
lá, pôde sentir uma mão no ombro dela, a acariciá-la.
Era seu velho pai que, observando a situação, lhe falou:
- Minha filha, quando o soldado cai ferido na luta, ele
não fica deitado no chão, esperando a morte. Ele se
esforça, levanta e continua na batalha. Faz quinze dias
que você caiu. Quando é que você vai decidir
levantar-se?
Ela respirou fundo, foi para dentro, pensou nas palavras
do pai e reagiu. Jogou fora a tristeza e se revigorou.
Nós comentamos sobre a sabedoria de seu pai. Ela nos
disse então: - A senhora não viu nada. Vou contar um
pouco mais. E narrou: - Quando eu era pequena, nos meus
nove anos, tinha uma amiga. Estávamos sempre juntas. Um
dia, ela brigou feio comigo, me destratou, acabou
comigo; estremecemos a amizade.
Meu pai aguardava para irmos juntos a um sítio próximo.
Ao me ver sozinha, perguntou onde estava a minha amiga,
pois estava combinado de ela ir junto. Ela não vem,
disse eu. Brigou comigo, não é mais minha amiga. Meu pai
não disse nada.
No sítio, colhemos várias frutas. Em casa, ele pegou uma
caixa e colocou ali uns lindos abacates, enormes!
Chamou-me. Entregou-me a caixa e me ordenou ir à casa de
minha amiga levar-lhe os abacates de presente. Eu não
aceitei e argumentei que a minha amiga estava brigada
comigo e ele ainda queria que eu lhe desse os abacates
de presente? Papai, então, disse, tranquilamente: - Não
discuta, minha filha. Vá lá e faça o que estou pedindo.
Então, eu fui. Toquei a campainha e quando ela atendeu,
eu falei: - Tome. É um presente para você. Minha amiga
pegou a caixa, extremamente pálida, balbuciou um
obrigada e se afastou. Quando cheguei a casa, contei a
meu pai como ela havia ficado pálida ao receber os
abacates.
- Minha filha, disse ele, a vitória é de quem conquista.
Que educador, que exemplo! Essa filha nunca se esqueceu
disso. A vitória é de quem conquista, jamais de quem
agride.
Amélia Rodrigues, pela psicografia de Divaldo Pereira
Franco, no livro “Trigo de Deus”, comenta que “o mal é o
adversário do bem, mas não tem existência real; no
entanto, entorpece os sentimentos, esfacela os ideais,
desarticula as emoções. O mal desaparece ante a ação do
bem. Residente no interior do homem ainda primitivo,
escraviza-o, atormentando-o em profundidade e longo
curso. Acendendo-se a luz, desaparecem as sombras
dominantes. O mal é transitório, produz danos e não tem
dignidade nem escrúpulos. O amor do Pai luariza-o,
decompõe-no, anula-o, caso a criatura se deixe conduzir
docilmente”.
O pai de 92 anos agiu assim. Educou essa filha na
mansidão e no amor ao próximo. Hoje ela retribui. Cuida
dele e da mãe com o maior carinho. Sua casa se enche de
jovens que querem estar com ele, ouvi-lo declamar Castro
Alves e aprender. Que bênção! Pais assim é que
precisamos ser, que eduquemos para o bem, pois muitos
comentam hoje sobre as dificuldades dessa geração, na
educação. Diríamos que o problema é dos educadores,
aqueles que são a família. Deveriam ter educado bem para
que hoje fossem filhos educados, como a jovem acima
demonstra ser. A irmã mais velha teve a mesma educação,
mas não se mostrou um Espírito dócil para o aprendizado.
Assim são os Espíritos, que somos nós. A diversidade de
caracteres é muito grande, mas a função educadora dos
pais é de extrema importância!
Felizmente, estamos vendo um desejo de se recuperar o
espaço perdido e os pais voltarem a educar seus filhos
pequenos, no bem, na grande maioria, compreendendo que
essa função é sua. A escola fortalece, complementa. A
esperança de um futuro melhor existe. A educação no amor
é fundamental. Jesus deve ser sempre nosso modelo e
guia.
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