Educação, obra de sacrifício no
tempo e no espaço
“Portanto, não vos inquieteis com o amanhã, pois
o amanhã se inquietará consigo mesmo! Basta a
cada dia o seu mal.” (Mateus,
6:34.)
Depois de o Mestre reportar-se aos lírios do
campo, não foram e não são poucos os que se
reconhecem na condição de flores, quando não
passam, ainda, de plantas espinhosas. Cristo
sempre aconselhou para não guardarmos na alma
qualquer impulso tóxico, negativo, relativo às
questões no campo material, asseverando que o
dia, constituindo o resultado de leis gerais do
Universo, atenderá a si próprio.
É importante compreendermos que não podemos
nutrir a pretensão de consertar o mundo de
nossos semelhantes de um dia para o outro,
atormentando-nos em aflições descabidas; para
isso, será importante cuidar-nos, melhorar-nos,
educando-nos e iluminando-nos sempre mais. Assim
perceberemos que a cólera, o desespero, a
crueldade e a intemperança criam zonas mórbidas
em nosso mundo orgânico, impondo às células
distúrbios pelos quais se anulam quase todos os
recursos de defesa. O reflexo dos sentimentos
menos dignos que alimentamos volta-se sobre nós
mesmos, depois de convertidos em ondas mentais,
e somente através do sentimento íntegro
poderemos esboçar o pensamento reto, sem os
quais a alma adoece pela carência de equilíbrio
interior, imprimindo em nós, desvarios e
perturbações.
No livro A Gênese, capítulo 2, item 24,
Kardec esclarece: “Achamo-nos constantemente
em presença da Divindade. Nenhuma de nossas
ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso
pensamento está em contato ininterrupto com o
Seu pensamento, havendo, pois, razão de
dizer-lhe que Deus vê os mais profundos refolhos
do nosso coração. Estamos Nele, como Ele está em
nós, segundo a palavra do Cristo”.
Muitas vezes nos queixamos por não
compreendermos algumas coisas, mas é curioso
repararmos como multiplicamos as dificuldades
quando temos em mãos uma explicação muito
simples e natural. Deste modo, quando a verdade
brilha em nosso caminho, notamos que os
obstáculos e sofrimentos não nos são inúteis,
mas, certamente, serão quadros preciosos de
lições sublimes que não haveremos de esquecer,
lembrando que a tribulação produz a fortaleza e
a paciência, e ninguém encontrará o tesouro da
experiência no pântano da ociosidade. Por isso,
é de suma importância refletirmos para corrigir
nossas deficiências e falhas suscetíveis de
conserto, fazendo o que melhor pudermos para o
erguimento da felicidade e do progresso de
todos, sem exigir do próximo aquilo que ele
ainda não consegue fazer, e nada pedir sem dar
de nós mesmos, respeitando os pontos de vista
alheios.
As crises externas são fenômenos necessários ao
burilamento da nossa atual existência. É quando
reequilibramos nosso mundo interior e
prosseguimos nos passos do Mestre, evitando os
desvios traiçoeiros. Por esta razão, o grande
serviço de preparação há de ser começado na
desconhecida terra de nós mesmos. Em vista
disso, o apóstolo Paulo, em sua II Carta aos Coríntios,
capítulo 4, versículo 16, pede que “sejamos
otimistas, confiantes e diligentes no bem,
porque enquanto o envoltório da carne se
corrompe pouco a pouco, a alma imperecível se
renova de momento a momento para a vida imortal”.
Façamos o melhor hoje, na certeza de que teremos
o melhor amanhã. Sempre realizando o máximo para
abreviarmos a passagem das sombras de um
pretérito mal vivido e mal aproveitado,
antecipando o amanhecer de um novo dia,
ajustando-nos aos planos abençoados que nos são
sugeridos pelo Mestre, para que passemos a viver
em condições dignas, decorrentes da aceitação da
Lei Superior, em meio aos efeitos daquilo que
lançamos no solo da evolução para que germinem e
floresçam, assegurando-nos dias melhores.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
5, itens 4 a 11, Kardec esclarece que, em
resumo, qualquer elemento dotado de boa vontade
poderá entender que estamos vivenciando hoje o
que plantamos ontem, de modo que o nosso amanhã
será o fruto de nossos investimentos nesta hora.
Às vezes precisamos nos destacar do contexto da
existência, a fim de equacionar de forma mais
clara e segura os problemas que nos envolvem.
Nada de torná-los mais cruciantes com
recordações amargas do passado ou com a
imaginação de um porvir sombrio que poderá, ou
não, concretizar-se. Desta maneira,
identificados com nossas responsabilidades,
vivamos o instante presente em intensidade e
plenitude.
Ainda hoje a Revelação Espírita, como Consolador
prometido, com todas as suas orientações sábias
e claras, direciona a atenção para o Messias que
aqui esteve há mais de dois mil anos, para que
empreendamos com êxito a luta de afirmação no
bem. Procuremos entender que as reações aos
propósitos de renovação são instrumentos de
maior valia que, com persistência, poderemos
superar, conforme Jesus ensina: “Mas aquele
que perseverar até o fim será salvo” (Mateus,10:
22). Por isso devemos viver confiantes, sempre
atentos, engrandecendo-nos na sabedoria e no
amor para a obra divina da perfeição.
A cada nova existência, o Espírito dá um passo
na senda do progresso; quando nos despojarmos de
todas as impurezas, não precisaremos mais das
provas da vida corpórea. Para a justa
compreensão dos ensinos e proposições do Mestre,
urge elevarmo-nos acima das brumas desse vale de
lágrimas que tem constituído a vida na Terra, a
fim de entendermos a lição de Jesus acerca do
desprendimento, da renúncia e da humildade,
rompendo a ignorância acerca da Lei Divina.
Consequentemente, tomando ciência do progresso
que nos assinala a jornada, as lutas e os
compromissos.
O benfeitor espiritual André Luiz, através do
saudoso médium Francisco Cândido Xavier, em
belíssima mensagem contida na introdução do
livro Nosso Lar, afirma: "Uma
existência – um ato; um corpo - uma veste; um
século - um dia; um serviço - uma experiência;
um triunfo, uma aquisição; uma morte - um sopro
renovador”. Assim, a inquietação, a
agitação, a insegurança, a ansiedade e o temor
são estados da alma que não enxergam os valores
da Providência e permanecem como cegos
espirituais, mendigando à margem do caminho
evolutivo.
Tenhamos força para tanto, abrindo os olhos para
as questões fundamentais do Espírito, aceitando
o combate em nós mesmos, reconhecendo que a
disciplina antecede a espontaneidade e não há
purificação sem aprimoramento. A educação é obra
de sacrifício no espaço e no tempo, atendendo a
Divina sabedoria que jamais nos situa à frente
dos outros sem finalidade de serviço e
reajustamento para a vitória do amor.
Amemos nossas cruzes por mais espinhosas que
elas sejam, recebendo as mais altas e mais belas
lições do Alto.
Bibliografia:
XAVIER, C. Francisco – Pensamento
e Vida – ditado pelo Espírito Emmanuel – 19ª
edição – Editora FEB – Brasília/DF -capítulo 15
– 2016.
KARDEC, Allan – O Livro dos
Espíritos – 182ª edição – Editora IDE –
Araras/SP/ questão 168 - 2009.
ABREU, O. Honório – coordenador
– Luz Imperecível – 10ª edição – Editora
União Espírita Mineira – Belo Horizonte/MG -
capítulos 41 e 123 – 2015.