Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

A infância não acabou


Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso. (Manoel de Barros)


É muito comum ouvirmos que as crianças de hoje não têm infância ou que a infância acabou… Será que isso é uma questão pertinente?

Certamente a infância mudou, o que não quer dizer que acabou. Muitas crianças são hoje mais sedentárias, menos livres em termos de espaço, sobretudo as que vivem nas grandes cidades, e mais conectadas a equipamentos tecnológicos. Contudo, dado o caráter social e histórico da infância, ela está sujeita a transformações contínuas, sendo impossível dar-lhe um significado único ou fechado.

No nosso século, ao pensar na criança, não há como escapar a cenários plurais e desiguais. Na realidade, temos, por isso, muitas infâncias e crianças. Há, por exemplo, a criança que não tem vida de criança (explorada pelo trabalho) ou a criança que tem vida de criança, contando com seus familiares, brincando com seus pares, tendo acesso à natureza.

No Brasil, depois da escola, assistir aos programas da TV é ainda hoje a atividade predominante das crianças. Também ganharam popularidade videogame e demais dispositivos eletrônicos. Ora. Em uma sociedade em constante processo de urbanização e redução da Natureza, para promover os sentidos de infância, é fundamental assegurar ambientes naturais para as crianças gastarem o tempo com brincadeiras livres e as invencionices quando não estão na creche ou na escola.

A ausência de verde ou de ambientes naturais no cotidiano das crianças prejudica seu desenvolvimento, afeta a saúde, pois fortalece o sedentarismo, a obesidade, a apatia, a ansiedade, tirando delas a inclinação natural para comportamentos proambientais.

A infância, como fase expressiva do desenvolvimento do ser humano, não está perdida. Entretanto, no mundo contemporâneo, conectar infância e natureza é mais do que nunca um aspecto essencial da vida das crianças e em direção a um futuro sustentável.

Notinha

Jardins e quintais, por exemplo, incentivam nas crianças o explorar livre, intuitivo, sem um roteiro predefinido por adultos. Nesta situação, o brincar integra a criança ao ambiente, dando-lhe espaço e elementos vivos para ricas vivências e aprendizados.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita