Chico trabalhava como um obcecado e queria mais. Além
dos poemas e crônicas, sonhava escrever romances do
outro mundo, como a médium Zilda Gama. Ele se colocou à
disposição de Emmanuel, mas foi desestimulado por ele. O
trabalho exigia serenidade e Chico estava longe da
tranquilidade, sempre às voltas com os catorze irmãos.
Seu pai desaparecia por algum tempo e a casa ficava por
sua conta.
Só dois anos mais tarde, no final de 1938, após assumir com
Emmanuel o compromisso de se acalmar, ele começou a preencher as
páginas em branco com "lembranças" de 2 mil anos atrás. A
primeira cena o pegou de surpresa: dois romanos envoltos em suas
túnicas trocavam ideias no jardim, refestelados em longos sofás,
quando um temporal desabou. As imagens e sons eram nítidos
demais. Chico se sentiu como se estivesse no cinema, ao mesmo
tempo como espectador e ator de um filme, dentro e fora da tela.
Parou de escrever. E ouviu a explicação de Emmanuel, o autor do
romance: - Você está sob certa hipnose. Você está vendo o que eu
estou pensando. Mas não sabe o que eu estou escrevendo.
Chico acompanhou a história como um telespectador diante de
novelas. Chegou a torcer por certos personagens. Um deles era o
próprio Emmanuel numa de suas vidas pregressas. Na encarnação
nada evangélica. Na época de Cristo, ele teria sido não um
apóstolo, mas um senador romano orgulhoso chamado Públio
Lentulus.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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