Dra. Márcia Léon: “A
família representa nossos primeiros ensaios dentro da
vivência do amor universal em direção ao Criador”
Aconteceu de 22 a 24 de novembro o II Seminário da
Família da AME-Brasil, em Maceió (AL). Com a
participação de cerca de 80 pessoas, o Lar São Domingos
abriu suas portas para palestras que abordaram todas as
etapas da vida em família, passando pelas necessidades
infantis, as relações amorosas e o acolhimento à vida
adulta intermediária e tardia saudável.
|
A Dra. Márcia Léon, gastropediatra e membro do
Departamento de Família, falou um pouco sobre os temas
|
e desafios que as famílias estão enfrentando nos
últimos tempos. |
Como foram elaborados os temas?
- Os temas do seminário foram elaborados a partir do
tema principal “Reconectando Almas”. Sabemos que a
família é a célula mater da construção da sociedade.
Partindo do princípio de que uma família estruturada,
sabedora do seu papel de construção de valores
individuais para se inteirar do todo social, consegue na
sua coletividade familiar superar os desafios, já
considerados na programação reencarnatória de cada um de
seus membros. Quando cientes desta abordagem, tendo as
Leis Morais, trazidas por Jesus, como base desta
formação, a superação das dificuldades naturais que cada
um enfrenta, se torna mais fortalecida e mais ajustada à
colaboração de cada um de seus pares no avanço do
conjunto familiar. Porém, sabemos também, que esta
consciência não é rotina comum, pois, enquanto
mergulhados na vestimenta carnal, nem sempre conseguimos
visualizar esta problemática de uma forma racional ou
clara; as emoções falam alto, e os reajustes
interpessoais a serem considerados muitas vezes se
fazem distantes. Mas, é importante lembrar que a semente
evangelizadora de Jesus foi semeada em cada um de nós.
Portanto, a floração dos talentos de cada um é eminente
e pode acontecer a qualquer momento, sendo o agente
facilitador da reconexão das almas em família.
Por que a atenção voltada para a família?
- Estamos vivendo um momento crucial na trajetória
planetária, onde os valores morais se encontram
dispersos e lateralizados por muitos que congregam a
família humana. Focar na Família é focar na construção
coletiva, a partir da valorização da vida em
seu continuum, como sempre nos lembraram a Dra. Marlene
Nobre, Dr. Bezerra de Menezes e tantos ícones da nossa
querida Doutrina Espírita. A partir do núcleo familiar é
que temos a oportunidade de crescer e avançar em nossa
trajetória coletiva. Por isso a necessidade de voltar a
nossa atenção a este tema, que sempre foi muito caro ao
Departamento de Família da AME Brasil, pois tendo a
família como o cadinho de reconstrução de ideais morais,
temos a oportunidade de florescer este tema no coração
de cada um daqueles que estarão conosco nestes dias do
Seminário da Família em Maceió e por sua vez, cada um
poderá replicar em seus locais de origem.
Qual a importância dos laços familiares para a saúde? E
para o Espiritismo?
- Importância crucial, pois a saúde da família reflete a
saúde mental de cada um de seus membros, através dos
vínculos dos laços familiares. Allan Kardec, em o Evangelho
Segundo o Espiritismo, no capítulo IV, “Ninguém
poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo”, e no
capitulo XIV, “Honrai vosso pai e vossa mãe”, nos traz
argumentos extremamente fortalecidos na coerência do
raciocínio e na amorosidade do coração, de que apenas os
laços de família, são capazes de reerguer o espírito
decaído em suas dificuldades ascensionais da estrada
evolutiva. Quando temos a oportunidade do bom convívio,
temos a sanidade mental, condição sine qua non para
o bem viver do ser humano integrado à sociedade. Os
laços consanguíneos oportunizam o reajuste de ideias,
reformulando conceitos e permitindo novos hábitos e
ações individuais que influenciem na harmonia coletiva e
no bem conviver, reintegrando cada um dos membros da
família ao todo social. Apesar da sua fragilidade,
quando estes laços consanguíneos são bem sentidos e
vivenciados, se fortalecem gradualmente e
consequentemente se direcionarem para os laços
espirituais, mais fortalecidos e inquebrantáveis.
Como tem sido a recepção do público quanto ao tema?
- A nosso ver, de maneira excelente tem sido a
receptividade. Estamos todos ansiosos pela melhoria
social, e sem a estruturação familiar adequada
dificilmente alcançaremos este intento. Joanna de
Angelis, em seu livro Constelação Familiar, pela
psicografia de Divaldo Franco já nos diz: “A família é a
base fundamental sobre a qual se ergue o imenso edifício
da sociedade. No pequeno grupo doméstico inicia-se a
experiência da fraternidade universal, ensaiando-se os
passos para os nobres cometimentos em favor da sociedade
equilibrada. Em razão disso, toda vez que a família se
enfraquece, a sociedade experimenta conflitos, abalada
nas suas estruturas”.
As especialidades médicas e psicológicas têm benefício
com a inserção do olhar espiritual sobre a família?
- Sempre este benefício será alcançado, quando
observamos o SER que está à nossa frente como um todo.
Quando um paciente adentra o nosso consultório, é
importante saber que além da vestimenta física, existe
um espírito caminhando e buscando a sua melhoria
enquanto ser imortal, através do tempo, a partir de suas
vidas sucessivas. É sabido, que nem todos apresentam
esta consciência da caminhada evolutiva, mas quando o
profissional é imbuído deste olhar, aos poucos ele
consegue direcionar o paciente para a sua busca
interior, atravessando os seus “desertos” em busca da
descoberta de sua Espiritualidade. Jesus já dizia, que a
caminhada com ELE é mais leve, e isso é confortador.
Dessa forma, as especialidades de saúde, podem
contribuir e muito, como agentes facilitadores desta
busca pessoal e, consequentemente, a busca de saúde
física, mental e espiritual.
Quais as necessidades urgentes da família contemporânea?
- São inúmeras as necessidades, mas poderíamos focar em
duas em especial, que são agentes deflagradores de
reparação de todas as outras: a busca do amor fraternal
verdadeiro e a descoberta do Evangelho de Jesus. Uma vez
Chico Xavier quando interpelado por um confrade
espírita, durante o lançamento de alguns livros da
Coleção André Luiz, de qual seria a maior
novidade naqueles dias, o querido médium respondeu: “A
maior novidade? O Evangelho de Jesus, meu filho!” Ao
pensar sobre esta resposta sabemos nos dias atuais, em
pleno século XXI, que é ainda uma novidade e uma
descoberta para muitos, um consolo para outros tantos e
o sedimento de vida para todos. Sem a fala do Cristo em
nossas mentes, as dificuldades parecem ser maiores do
que realmente são, as dores são intermináveis, e a falta
de perspectiva se estabelece, não se tendo a certeza da
vida futura e da transitoriedade de nossa trajetória
como viajores na materialidade. Sendo assim, na busca do
Evangelho, encontramos o verdadeiro Amor que ELE nos
oferece. Mas acima de tudo, encontramos a lição maior
que ELE nos trouxe sobre a prática deste AMOR e esta
prática, na revelação do entendimento de Jesus a
respeito da Caridade, respondida a Allan Kardec, na
questão 886 de O Livro dos Espíritos: Benevolência
para com todos, indulgência para as imperfeições dos
outros, perdão das ofensas. Aí, se encerra a necessidade
maior de todos nós. A família representa o cadinho e o
laboratório da caridade, nossos primeiros ensaios dentro
da vivência do amor universal em direção ao Criador.
Nota da Autora:
O próximo seminário do Departamento de
Família da AME-Brasil será em Brasília (DF) em 2020, em
data ainda a ser definida.