Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Conte, conte, conte…


Quando uma criança se sente confiante, ela deixa de buscar a aprovação dos adultos a cada passo
. Maria Montessori


Quando um adulto conta uma história para uma criança, apresenta-se como um modelo de oralidade e expressividade, oferecendo a ela a oportunidade de imaginar, criar, desenvolvendo de modo tranquilo memória e raciocínio…

Como é do ser humano compartilhar experiências, o contar histórias gera proximidade, fortalecendo o vínculo entre a criança e o adulto. Eu, por exemplo, lembro-me dos meus avós contando casos de comunidade quando eu os visitava nas férias ou nos domingos… Tocava-me profundamente o coração ouvir a história do Negrinho do Pastoreio, resgatado por sua madrinha, a Virgem Maria, de seu terrível castigo no formigueiro – e cruelmente ordenado pelo estancieiro... E hoje, ainda que não saiba mais os detalhes dessas histórias sensíveis, aquelas vozes seguem comigo e estão na base do meu amor pela natureza e pelos livros.

Contar histórias é, sem dúvida, uma das formas de comunicação mais antigas que existem e que precisam persistir nestes tempos de alienação e aceleração... Ato de paciência e amor, é meio legítimo de ler o mundo, apresentando à criança culturas e valores diversos, advertindo-a sobre perigos e desafios, fazendo-a provar, desde cedo, curiosidade e alegria pelo viver.

As crianças que têm o costume de ouvir as histórias têm, além de um laço forte com quem conta, o gosto pela leitura aguçado...  Porque ouvir contos de fada, histórias inventadas, histórias de livros, casos de comunidade, oferece à criança um momento mágico, de encanto.

O livro, hoje, disputa a atenção com uma infinidade de adversários e muitas vezes é negligenciado pelas telas. Assim, ao criar o hábito da contação em casa, entre outros benefícios, você estimula, desde cedo, o potencial de atenção e concentração do seu filho. Afinal, toda criança adora ouvir história. E pode ser a mesma, muitas e muitas vezes.

Notinhas

Uma criança aos 3 anos, por exemplo, presta atenção na leitura, sabe a diferença entre texto e ilustração e imita a pessoa que está lendo a história, como se ela própria estivesse lendo. Aos 4 anos, memoriza a história, faz perguntas e relaciona elementos dos contos com a vida real. Aos 5 anos, a criança já identifica os títulos e os autores do livro, antecipando o que vai acontecer no conto.

Os contos de fada, por exemplo, exploram conteúdos, emoções e sentimentos que interessam muito às crianças. Como o medo, o abandono, a tristeza, o crescimento, o mal e assim por diante. Elas têm muito interesse em ouvir e conversar sobre esses temas.

Nascida durante a época da escravidão, a lenda do Negrinho do Pastoreio original é relatada carregada do típico palavreado popular do Rio Grande do Sul. Ela permite observar, por sua origem relativamente recente, o processo de incorporação por outras culturas e a ultrapassagem das fronteiras regionais. Inicialmente limitada ao Rio Grande do Sul, onde nasceu, a lenda do Negrinho do Pastoreio se espalhou pelo Paraná, São Paulo e Mato Grosso, regiões para as quais emigraram famílias gaúchas em grande quantidade nos últimos 50 anos.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita