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por Marcelo Teixeira

 

Aprendendo o que é amar o próximo


A primavera de 2019 andou alternando dias quentes e frios aqui na Região Serrana do Rio de Janeiro. Isso mexe com o organismo de muita gente, inclusive com o meu. A rinite alérgica ameaçada, bem como uma possível gripe que ataque a sinusite. Fico, portanto, em estado de alerta.

Para intensificar o combate, decidi ir à farmácia comprar o antialérgico que sempre tomo, bem como acetilcisteína solúvel em água. Dr. Juarez, médico e amigo de longa data, sempre me recomenda tais medicamentos para que minhas vias aéreas não entupam e eu não precise entrar no antibiótico.

A atendente perguntou se eu tinha o cartão de descontos da farmácia. Respondi que sim e apresentei o dito cujo. Em seguida, disse o nome dos medicamentos que queria. O que deve ser diluído em água eu pedi pelo nome específico, mas como o genérico é mais barato, optei pelo dito cujo, mas não me lembrava do nome que ora cito – acetilcisteína. Já o antialérgico eu pedi pelo nome mesmo. Notei, no entanto, que ela titubeava ante a tela do computador em busca do nome do genérico do composto solúvel. Tanto que teve de recorrer a uma colega. Eu ia para um encontro com amigos de infância para o qual havia feito um bolo de chocolate com especiarias. Por isso, carregava o mesmo em embalagem específica.

Percebi que a demora da moça em me atender estava aumentando a fila atrás de mim. Além disso, estava começando a me cansar, já que eu segurava um bolo, estava em pé e sabia que meus amigos esperavam por mim.

Pensei em dar as costas e ir embora. Ou então, reclamar ou fazer cara de enfado. Só que a moça encontrou finalmente a acetilcisteína. Todavia, já havia esquecido o nome do antialérgico e pediu para repeti-lo. Atendi. Aí, ela me pediu para que o soletrasse. Novamente meu pensamento foi invadido pela ideia de ir embora, apressar a moça ou pedir que outro balconista me atendesse. No entanto, notei o nervosismo da moça e pensei: – Ela deve ser nova na função. Está aprendendo. Também já tive meus períodos de treinamento e sei que ficamos nervosos mesmo, principalmente quando se atende ao público.

Mesmo eu tendo soletrado o nome do antialérgico, ela não o estava encontrando no sistema. Continuou procurando. Quando o encontrou, disse que havia faltado um “L” quando soletrei, já que o remédio contém dois “L” seguidos em uma sílaba. Mesmo assim, a dúvida persistia, pois havia mais de um. – É o que termina com um “D” maiúsculo separado do nome; disse eu. Quando finalmente ela o encontrou, entregou-me ambos e pediu desculpas. Estava nervosa por estar em treinamento e ainda não dominar totalmente os requisitos da função. Respondi que tudo bem e que era assim mesmo. Afinal, completei, eu também já havia tido meus dias de profissional iniciante e sabia que era normal ficarmos nervosos. Sorri para ela, ela sorriu para mim, desejei boa-noite e dirigi-me ao caixa.

A Regra Áurea do ensinamento cristão diz que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. Se eu fosse embora ou mostrasse descontentamento, estaria faltando com amor. Apesar de ter tido vontade de desistir da compra e buscar outra farmácia, preferi ter paciência e aguardar. Percebi que a moça era nova na função e que estava atrapalhada. Quem sabe até, fazendo de tudo para acertar e garantir a vaga de balconista, talvez conquistada depois de um período de desemprego. Pois é, eu estava praticando o exercício de amar ao próximo como a mim mesmo e de fazer a esse mesmo próximo o que eu gostaria que fizessem comigo: ter paciência para esperar, ser compreensivo com quem é novo na árdua tarefa de lidar com o público e ser cordial no trato.

Toda vez que faço palestra em centros espíritas ou escrevo um artigo, tento mostrar que os ensinamentos trazidos pelo Cristo não devem ficar circunscritos ao discurso religioso. Podem – e devem – ser aplicados no cotidiano.

Acho que consegui mais uma vez. Tanto, que fui embora em paz!


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita