Aprendendo o que é amar o próximo
A primavera de 2019 andou alternando dias
quentes e frios aqui na Região Serrana do Rio de
Janeiro. Isso mexe com o organismo de muita
gente, inclusive com o meu. A rinite alérgica
ameaçada, bem como uma possível gripe que ataque
a sinusite. Fico, portanto, em estado de alerta.
Para intensificar o combate, decidi ir à
farmácia comprar o antialérgico que sempre tomo,
bem como acetilcisteína solúvel em água. Dr.
Juarez, médico e amigo de longa data, sempre me
recomenda tais medicamentos para que minhas vias
aéreas não entupam e eu não precise entrar no
antibiótico.
A atendente perguntou se eu tinha o cartão de
descontos da farmácia. Respondi que sim e
apresentei o dito cujo. Em seguida, disse o nome
dos medicamentos que queria. O que deve ser
diluído em água eu pedi pelo nome específico,
mas como o genérico é mais barato, optei pelo
dito cujo, mas não me lembrava do nome que ora
cito – acetilcisteína. Já o antialérgico eu pedi
pelo nome mesmo. Notei, no entanto, que ela
titubeava ante a tela do computador em busca do
nome do genérico do composto solúvel. Tanto que
teve de recorrer a uma colega. Eu ia para um
encontro com amigos de infância para o qual
havia feito um bolo de chocolate com
especiarias. Por isso, carregava o mesmo em
embalagem específica.
Percebi que a demora da moça em me atender
estava aumentando a fila atrás de mim. Além
disso, estava começando a me cansar, já que eu
segurava um bolo, estava em pé e sabia que meus
amigos esperavam por mim.
Pensei em dar as costas e ir embora. Ou então,
reclamar ou fazer cara de enfado. Só que a moça
encontrou finalmente a acetilcisteína. Todavia,
já havia esquecido o nome do antialérgico e
pediu para repeti-lo. Atendi. Aí, ela me pediu
para que o soletrasse. Novamente meu pensamento
foi invadido pela ideia de ir embora, apressar a
moça ou pedir que outro balconista me atendesse.
No entanto, notei o nervosismo da moça e pensei:
– Ela deve ser nova na função. Está aprendendo.
Também já tive meus períodos de treinamento e
sei que ficamos nervosos mesmo, principalmente
quando se atende ao público.
Mesmo eu tendo soletrado o nome do antialérgico,
ela não o estava encontrando no sistema.
Continuou procurando. Quando o encontrou, disse
que havia faltado um “L” quando soletrei, já que
o remédio contém dois “L” seguidos em uma
sílaba. Mesmo assim, a dúvida persistia, pois
havia mais de um. – É o que termina com um “D”
maiúsculo separado do nome; disse eu. Quando
finalmente ela o encontrou, entregou-me ambos e
pediu desculpas. Estava nervosa por estar em
treinamento e ainda não dominar totalmente os
requisitos da função. Respondi que tudo bem e
que era assim mesmo. Afinal, completei, eu
também já havia tido meus dias de profissional
iniciante e sabia que era normal ficarmos
nervosos. Sorri para ela, ela sorriu para mim,
desejei boa-noite e dirigi-me ao caixa.
A Regra Áurea do ensinamento cristão diz que
devemos amar ao próximo como a nós mesmos. Se eu
fosse embora ou mostrasse descontentamento,
estaria faltando com amor. Apesar de ter tido
vontade de desistir da compra e buscar outra
farmácia, preferi ter paciência e aguardar.
Percebi que a moça era nova na função e que
estava atrapalhada. Quem sabe até, fazendo de
tudo para acertar e garantir a vaga de
balconista, talvez conquistada depois de um
período de desemprego. Pois é, eu estava
praticando o exercício de amar ao próximo como a
mim mesmo e de fazer a esse mesmo próximo o que
eu gostaria que fizessem comigo: ter paciência
para esperar, ser compreensivo com quem é novo
na árdua tarefa de lidar com o público e ser
cordial no trato.
Toda vez que faço palestra em centros espíritas
ou escrevo um artigo, tento mostrar que os
ensinamentos trazidos pelo Cristo não devem
ficar circunscritos ao discurso religioso. Podem
– e devem – ser aplicados no cotidiano.
Acho que consegui mais uma vez. Tanto, que fui
embora em paz!