Trabalhos mediúnicos se tornam
escassos
Em pesquisa superficial sobre os trabalhos
desenvolvidos nos Centros Espíritas, nota-se, em
grande parte, que essas atividades mediúnicas
estão desaparecendo e cedendo espaço para outras
atividades, que além de se enquadrarem em nível
menor de importância e precedência, algumas
outras nem figuram como matéria ou assunto
doutrinário, pertencentes ao Espiritismo.
Isso é de se lamentar.
E para aumentar ainda mais a surpresa, algumas
edições recentes de obras espíritas, quando
fazem ligeira abordagem sobre o assunto,
justificam que esse tempo e essa preocupação já
passou. Muito estranhas essas posições, pois
que, em todos os tempos, e não somente ontem ou
nos dias atuais, esses casos ocorrem com
frequência inimaginável.
Os trabalhos mediúnicos sempre tiveram
importante relevância, visto atuarem diretamente
em favor e benefício de Espíritos que se acham
desorientados e ainda necessitados da presença
pesada dos fluidos da Terra. Como sempre foi,
esses irmãos são trazidos até essas sessões e
recepcionados pelos doutrinadores ou dirigentes,
através dos médiuns, para uma conversa
orientadora, serena e reconfortante, os quais,
quase em sua totalidade, desconhecem a vida
atual que levam na outra margem da vida e
lamentam a indiferença das pessoas que não lhes
dão a necessária atenção. Não sabem onde estão
nem a razão de estarem nessa condição. Sentem
frio e outras necessidades materiais com sinais
ainda perceptíveis pelo Espírito, uma vez que o
corpo psicossomático possui, depois da morte,
duração variável em razão do equilíbrio emotivo
e do avanço cultural daquele que o governa, ou
seja, permanece por um tempo indeterminado em
adaptação ao novo estágio no plano espiritual.
Portanto, não vemos como pode estar superado
esse recurso dos mais importantes em uma casa
espírita, que se presta a atender irmãos
desencarnados que ali são trazidos para um
primeiro contato.
O que se sabe da parte dos próprios benfeitores
é que a Terra oferece as condições propícias ao
necessitado que ainda guarda em seu perispírito
resíduos materiais dos quais precisa livrar-se.
E para essa indispensável e necessária limpeza,
somente uma reunião mediúnica acolhedora é capaz
de promover a retomada do equilíbrio do
Espírito.
Outro detalhe não menos importante é o relato
feito pelas próprias entidades beneficiadas que
se apresentam nessas reuniões. Quando se
estabelece o diálogo e, dependendo sempre das
condições psíquicas do necessitado, o que se
observa durante os atendimentos é o progresso
conquistado quando essas reuniões mediúnicas
estão disponíveis. Com essa atividade constante
e pelas oportunidades idênticas e sucessivas que
surgem ao Espírito, este sente-se à vontade
quando pode ouvir e absorver, nas conversações
de elevado nível fraterno, as necessidades de
adaptações que lhe convêm nessa nova fase de sua
vida.
Durante os trabalhos poderão ocorrer fatos
inusitados. Tudo é possível em uma sessão dessa
natureza e útil para ambos os lados, onde estão
presentes vibrações fluídicas de toda ordem e de
onde poderão ser extraídos ensinamentos a serem
aproveitados em benefício de desencarnados e dos
próprios encarnados.
Trazemos aqui um desses exemplos que o tempo e a
perseverança atuaram favoravelmente em benefício
de visitante desencarnado e a sua confiança no
interlocutor que, desde a primeira conversa e
através das palavras equilibradas e recheadas de
harmonia fraternal, culminou em resultado feliz
e jubiloso ao Grupo de trabalhadores de uma
sessão mediúnica.
Francisco Cândido
Xavier (1910-2002) e alguns amigos, quando na
cidade de Pedro Leopoldo-MG instituíram
regularmente no Centro Espírita Luiz Gonzaga
trabalho semanal para essa finalidade, que, além
das mensagens recebidas através da psicografia e
outras anotações, a exemplo da psicofonia,
procediam à gravação do trabalho para posterior
consulta e outras destinações. Isso possibilitou
ao grupo a edição de algumas obras trazendo
importantes relatos.
Um desses personagens comunicantes, necessitado
de amparo em todas as suas modalidades e formas,
de comportamento agressivo e com recusa
inclusive em declinar a sua identidade, como
muitos fazem, após longo tempo comparecendo às
reuniões e sempre de postura rebelde, deixou
bela e emocionante prece, que fez aos prantos.
"Quantos venham a
ler a mensagem constante deste capítulo,
decerto nem de longe experimentarão a surpresa
de nosso grupo, em cuja intimidade Cerinto, o
amigo espiritual que no-la transmitiu, caminhou,
pouco a pouco da sombra para a luz.
A princípio era
um Espírito atrabiliário e
revoltado, chegando mesmo a orientar vastas
falanges de irmãos conturbados e infelizes,
ainda enquistados na ignorância.
Discutia acerbamente. Criticava. Blasfemava.
De nossos entendimentos difíceis, manda a
caridade que nos detenhamos no silêncio preciso.
Surgiu, porém, o dia em que a influência de
nossos Benfeitores Espirituais se revelou
plenamente vitoriosa.
Cerinto modificou-se e transferiu-se de plano
mental, marchando agora ao nosso lado, sedento
de renovação e luz como nós mesmos.
Foi por isso com
imensa alegria que lhe registramos a comovente
rogativa,
por ele pronunciada em nossa reunião da noite de
24 de novembro de 1955.
Prece de Cerinto:
“Senhor de Infinita Bondade.
No santuário da oração, marco renovador do meu
caminho, não Te peço por mim, Espírito
endividado, para quem reservaste os tribunais de
Tua Excelsa Justiça.
A Tua compaixão é como se fora o orvalho da
esperança em minha noite moral e isto basta, ao
revel pecador que tenho sido.
Não te peço, Senhor, pelos que choram. Clamo por
teu amor a benefício dos que fazem as lágrimas.
Não te venho pedir pelos que padecem. Suplico-te
a bênção para todos aqueles que provocam
sofrimento.
Não te lembro os fracos da Terra. Recordo-te
quantos se julgam poderosos e vencedores.
Não intercedo pelos que soluçam de fome. Rogo-te
amor para os que furtam o pão.
Senhor Todo-Bondoso!...
Não te trago os que sangram de angústia.
Relaciono diante de ti os que golpeiam e ferem.
Não te peço pelos que sofrem injustiças. Rogo-te
pelos empreiteiros do crime.
Não te apresento os desprotegidos da sorte.
Solicito teu amparo aos que estendem a aflição e
a miséria.
Não te imploro mercê para as almas traídas.
Exorto-te o socorro para os que tecem os fios
envenenados da ingratidão.
Pai compassivo!...
Estende as mãos sobre os que vagueiam nas
trevas...
Anula o pensamento insensato.
Cerra os lábios que induzem à tentação.
Paralisa os braços que apedrejam. Detém os
passos daqueles que distribuem a morte...
Ajuda-nos a todos nós, filhos do erro, porque
somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos
edificar o paraíso do bem com todos aqueles que
já te compreendem e obedecem, extinguindo o
inferno daqueles que, como nós, se atiraram
desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal!”.
Não nos esqueçamos da observação feita pelos
benfeitores de que "Os anjos choram de júbilo
nas regiões celestes, quando um coração sofredor
se levanta do abismo". Numa conclusão racional,
ganha o sofredor, ganha o doutrinador, ganha o
médium e ganha o grupo.