Peixotinho, o maior médium de efeitos físicos nascido no
Brasil
Em fevereiro comemora-se no meio espírita mais um
aniversário de nascimento de Francisco Peixoto Lins,
famoso médium de efeitos físicos, mais conhecido pelos
espíritas brasileiros pelo carinhoso nome Peixotinho.
Nascido no dia 1º de fevereiro de 1905 na cidade de
Pacatuba (CE), Peixotinho desencarnou na cidade de
Campos (RJ) aos 61 anos de idade, no dia 16 de junho de
1966.
Filho de Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto,
Peixotinho passou a infância em Fortaleza, capital do
Ceará, no convívio dos tios, visto que sua mãe
desencarnou precocemente.
Aos 14 anos de idade, saiu do Ceará e foi para o
Amazonas, àquela época o Eldorado dos povos do Norte e
do Nordeste. Ali, durante dois anos trabalhou na
extração de borracha nos seringais amazonenses.
De volta ao Ceará, foi então que lhe surgiram os
primeiros indícios da mediunidade, mas em feição
obsessiva, visto que se via, não raro, envolvido por
Espíritos sofredores que o tornavam um valentão. Apesar
do seu físico frágil, era dotado de grande força de
vontade e, sabendo o que lhe poderiam fazer os
obsessores, procurou reagir evitando sair de casa,
depois de um episódio em que, após travar luta com
vários homens, foi transportado para uma praia deserta e
distante.
Os obsessores, porém, não desanimaram ante sua
disposição de não sair de casa, sobrevindo-lhe, então,
um caso de desprendimento que fez com que fosse
considerado morto, estado do qual despertou mais de 20
horas depois de amortalhado.
Na sequência, foi ele acometido de uma paralisia que o
prostrou por seis meses. Embora a família, por ser
católica praticante, não houvesse procurado ajuda dos
espíritas, um dia, cientes do caso, confrades ligados à
Federação Espírita Cearense foram visitá-lo e, mediante
passes e preces, conseguiram que ele se libertasse da
falsa enfermidade. Foi aí, então, que se iniciou seu
aprendizado na Doutrina Espírita, sendo Viana de
Carvalho um dos seus orientadores.
Aos 21 anos, Peixotinho mudou-se para o Rio de Janeiro,
então capital da República, e se apresentou para servir
ao Exército, na Fortaleza de Santa Cruz. Corria o ano de
1926. Algum tempo depois foi removido para a cidade de
Macaé, no estado do Rio de Janeiro, onde iniciou,
propriamente falando, suas atividades como trabalhador
espírita. Em Macaé fundou com um grupo de companheiros o
Grupo Espírita Pedro e, no ano de 1933, casou-se com
Benedita (Baby) Vieira Peixoto.
Em face da carreira militar, Peixotinho residiu em
inúmeras cidades: Imbituba (SC), Santos, Campos, Rio de
Janeiro etc. Em 1945 foi removido para a Fortaleza de
São João, no Rio de Janeiro, época em que pôde
reencontrar vários companheiros da época de Macaé, como
o confrade Antônio Alves Ferreira, que com ele atuou no
Grupo Espírita Pedro. Das reuniões semanais na
residência desse confrade nasceu um culto doméstico que,
em poucos meses, se transformou no Grupo Espírita André
Luiz, cuja sede provisória era, então, o escritório de
representações do confrade Jaques Aboab.
Em 1948 passou a trabalhar na cidade de Santos, onde
frequentou o Centro Espírita Ismênia de Jesus.
Foi nesse
mesmo ano que se deu seu primeiro e sonhado encontro com
Chico Xavier, com quem iria encontrar-se muitas vezes,
tantas foram as reuniões de materialização e de
tratamento por ambos realizadas.
Grande número das
sessões realizadas no Grupo André Luiz e em Pedro
Leopoldo (MG) foram descritas por R. A. Ranieri no
livro Materializações Luminosas.
Em fins de 1949 o médium foi removido para Campos (RJ),
iniciando seus serviços no Grupo Espírita Joana d’ Arc.
Pouco depois, com o crescimento da frequência no culto
doméstico que fazia para seus familiares, nasceu o Grupo
Espírita Aracy, seu guia espiritual e que, na última
encarnação, fora sua filha. Ao Grupo Aracy dedicou seus
últimos anos de vida terrena.
Apesar de sua eficiência no receituário, Peixotinho
enfrentou a dureza da asma, que ele entendia ser sua
provação na atual existência. Mas esse fato nunca
impediu que fosse um indivíduo alegre e brincalhão.
Vivendo exclusivamente dos seus vencimentos de oficial
da reserva do Exército, reformado que foi no posto de
capitão, como médium soube viver sem jamais
comercializar seus dotes mediúnicos, mantendo sempre
grande zelo pelos princípios ensinados por Kardec, de
modo que nos Grupos ou Centros por ele fundados jamais
permitiu a intromissão de rituais ou quaisquer
influências alheias à doutrina espírita.
Na atividade espírita, além das sessões de
materialização que o tornaram conhecido em todo o país,
dedicou-se também ao tratamento de casos de obsessão,
chegando mesmo por inúmeras vezes a levar doentes ao seu
próprio lar, onde os hospedava junto de sua família. E,
como todo grande missionário do bem, também teve de
passar por testemunhos sérios e enfrentar ingratidões,
que soube perdoar, não desanimando nunca de servir.
Como surgiu o hino composto por Scheilla
Certa vez, precisando descansar, Peixotinho foi
aconselhado por um amigo médico a passar alguns dias em
Astolfo Dutra (MG), onde funcionava a Fundação Espírita
Abel Gomes, instituição que acolhia meninas desamparadas
e onde se realizavam, em julho de cada ano, as Semanas
Espíritas da cidade.
Na Fundação, às terças-feiras e aos sábados, de oito às
dez horas da noite, realizava-se um trabalho de
vibrações a que se chamava, à época, sessão de cura. Era
um trabalho leve, sem comunicação de Espíritos
desequilibrados, com preces, leituras, pequenos
comentários e cantos, a que compareciam companheiros
que, durante o dia, não tivessem feito uso de carne,
fumo e álcool, nem houvessem abrigado pensamentos menos
dignificantes. Isso foi por volta de 1946-1947.
Anita Borela de Oliveira era uma das beneficiárias
daquele trabalho: estava chegando o termo de sua jornada
na Terra. Ela ficava deitada num quarto contíguo à sala
de reunião. Peixotinho, então presente na cidade, também
necessitado de ajuda, ocupou o outro quarto, ao lado do
quarto dela.
Em artigo publicado nesta revista, Arthur Bernardes de
Oliveira escreveu:
“Reunião que segue, meu pai, dirigente do trabalho,
sente leve mão pousada sobre sua cabeça. Pensando que
fosse o Diogo, excelente médium passista que participava
da reunião, abre os olhos, volta a cabeça e se encanta
com a figura luminosa de Abel Gomes, materializado ali,
na sua frente! Emocionado, pede aos companheiros que
abram os olhos e testemunhem aquele momento histórico do
Espiritismo em Astolfo Dutra.
Abel Gomes deslizou (Abel não andava como a gente;
deslizava, como se flutuasse no ar) pelo assoalho e se
dirigiu ao quarto onde estava minha mãe (Anita Borela),
com ela conversando por alguns instantes, permitindo-nos
ouvir a sua voz e a voz dela.
Sai Abel para que pudessem chegar sucessivamente
Fidelinho, Célia e Taninha, duas jovens de Astolfo
Dutra, desencarnadas na flor da idade, e Scheilla, a
enfermeira alemã, última a se materializar, que, ao se
despedir, dissera ter deixado uma lembrança pra nós, na
primeira gaveta, fechada a chave, da escrivaninha que
servia à secretaria da Fundação.
Curiosos, fomos ver o presente. Era, em escrita direta,
com sua letrinha de moça caprichosa, em alto relevo, a
letra do Hino da Juventude Espírita Francisco Cândido
Xavier, de Astolfo Dutra, que, musicada por Francisco
Guércio, filho da terra, está se tornando o hino da
juventude espírita brasileira.”
Aqui está – graças à mediunidade de Peixotinho e ao
talento de Scheilla – a letra do hino ali transmitido
pelo fenômeno da escrita direta:
Somos os jovens cristãos
Que ao bom Jesus
escolhemos
E com Ele seguiremos
Combatendo o comodismo,
Tendo o Evangelho na mão,
No coração a verdade,
Cheios de fraternidade
Divina do Espiritismo.
Juventude Cristã de
Jesus,
Nossa fé simboliza
harmonia.
Nossa vida é um rastilho
de luz,
Dessa luz que traduz
energia.
Juventude Cristã de
Jesus,
Nossa fé simboliza
harmonia.
Nossa vida é um rastilho
de luz.
Dessa luz que traduz
energia.
Protege-nos, Mestre
amado,
Contra os males da
incerteza.
Que sintamos a grandeza
Sublime de teu amor.
Que a nossa vida na Terra
Seja a grande
indumentária
Da existência milenária
Servindo ao Consolador.
Juventude Cristã de
Jesus,
Nossa fé simboliza
harmonia.
Nossa vida é um rastilho
de luz,
Dessa luz que traduz
energia.
Juventude Cristã de
Jesus,
Nossa fé simboliza
harmonia.
Nossa vida é um rastilho
de luz.
Dessa luz que traduz
energia.
Oh! meu Cordeiro querido,
Te imploramos proteção
Para sem vacilação
Testemunhar a nossa fé.
Que o teu Evangelho de
luz
Ilumine a nossa mente,
Que sejamos Teu somente,
Meu Jesus de Nazaré.
Juventude Cristã de
Jesus,
Nossa fé simboliza
harmonia.
Nossa vida é um rastilho
de luz,
Dessa luz que traduz
energia.
Juventude Cristã de
Jesus,
Nossa fé simboliza
harmonia.
Nossa vida é um rastilho
de luz.
Dessa luz que traduz
energia.
O hino foi gravado na
abertura da Semana Espírita de Astolfo Dutra realizada
em julho de 2016. Os intérpretes são Pacelli Vaz (ao
violão) e Lorrane Barbosa, acompanhados pelo público
presente na Fundação Espírita Abel Gomes, de Astolfo
Dutra (MG). O
leitor poderá ouvir a gravação clicando
aqui
Menos de vinte anos depois, Peixotinho retornou à pátria
espiritual, às seis horas da manhã do dia 16 de junho de
1966, em Campos, cercado do carinho da família.
O grande médium cumpria assim sua missão, deixando viúva
a Sra. Benedita (Baby) Vieira Peixoto e nove filhos.