O autor do Parnaso de Além-Túmulo, mulato,
malvestido, com expressão atordoada, virou atração.
Intelectuais mineiros se reuniam em torno dele e
comentavam, diante de seus olhos arregalados, os estudos
de Crookes e Richet sobre a mediunidade, os pastiches de
Paul Reboux, os poemas de Baudelaire, Musset, Bilac,
Augusto dos Anjos.
Importante lembrar que Chico contava na época 22 anos de idade.
O matuto acompanhava tudo em silêncio. Uma vez ou outra,
respondia com monossílabos a perguntas sobre os poemas ditados
do outro mundo. Tinha medo de cometer disparates. No meio da
noite, sozinho no quarto, respirava aliviado diante das visões
do guia e da mãe. As aparições repetiam conselhos sobre a
prudência e o respeito aos outros e Emmanuel ainda aproveitava
para tirar dúvidas literárias do protegido. Explicava, por
exemplo, que Paul Reboux era mestre em imitar o estilo de outros
poetas. Enquanto esperava o serviço prometido, Chico
acompanhava, à distância, entre as árvores da chácara, a
construção de um sanatório em terreno vizinho.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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