Como
deixar de feder
Em relação ao corpo, só
temos duas alternativas:
tomar banho e melhorar a
alimentação; outros
recursos de fora para
dentro são os
desodorantes e perfumes.
Em relação aos vícios, é
necessário mudanças de
atitude. E ter boa
vontade com isso. Como
deixar de fumar, por
exemplo? Algumas coisas
são boas e auxiliam, por
exemplo: começar com
atividades físicas ou
esportivas, dormir o
suficiente e melhorar a
alimentação, cortar
bebidas alcoólicas (elas
são uma ponte que liga
ao cigarro); em suas
atividades, aja com
equilíbrio e também com
determinação.
Se você quer uma vida
melhor, cuidado ao
adquirir hábitos não
saudáveis, pois alguns
são infelizes e causam
muita dor física e
moral, além de ser
difícil se libertar
deles. Por exemplo: o
doutor Dráuzio Varella,
cancerologista, confessa
em depoimento de um
viciado arrependido que
fumou por 19 anos, e se
lamenta, agora com 20
anos sem o cigarro: “Por
que eu demorei tanto
tempo para parar de
fumar?”.
Porque a síndrome de
abstinência não permite.
O hábito virou um vício
e uma doença, a da
dependência química.
As pessoas, além do
desejo de parar e da boa
vontade, também precisam
de acompanhamento
psicológico e médico,
algumas vezes.
Nenhum vício é fácil de
mudar ou deixar. Mas
nenhum é impossível.
Lembro-me do depoimento
de outro médico que
fumava e só tinha filhas
mulheres. Uma delas,
adolescente, estava com
uma mania de subir ou
ajustar a calcinha em
público.
Num domingo no almoço,
estavam indo da sala
para a cozinha. O pai e
a jovem se levantaram do
sofá, e a menina regulou
a roupa. O pai, que não
aprovava o “hábito” da
jovem, não se exasperou,
mas creio que, no desejo
de mostrar que não era
legal esse
comportamento, disse-lhe:
– Minha filha, você
precisa mudar esse
costume de acertar a
lingerie em público,
isso é feio.
Ao que a garota
respondeu na “lata”:
– O seu hábito de fumar
também é feio, e ainda fede.
Numa situação
constrangedora diante da
esposa e filhas, o
médico se penitenciou e
disse: “Desculpe, minha
filha, a partir de hoje
não fumo mais. E espero
que você mude sua
atitude”.
Ele cumpriu a promessa,
apesar de a esposa
continuar a fumar. (A
mulher não tinha entrado
na conversa.)
Mahatma Gandhi difundiu
os princípios da não
violência e da busca da
verdade, defendeu os
direitos das mulheres e
as relações
inter-religiosas, e
também é lembrado como
sendo o autor dessa tese
de que estamos todos
evoluindo em fila
indiana.
Nessa fila evolutiva, as
pessoas estão em níveis
evolutivos desiguais,
cada qual carregando
duas mochilas: na
frente, a de suas
virtudes e qualidades, e
atrás a mochila de suas
imperfeições e vícios.
Então somos assim,
esquecidos do
ensinamento de Jesus,
que nos recomenda: “Não
julgueis”. Vendo os
defeitos alheios,
estamos a cobrá-los,
esquecidos de que não
conseguimos ainda
perceber os nossos, que
muitas vezes fedem.
Arnaldo
Divo Rodrigues de
Camargo é bacharel em
direito com
especialização em
dependência química pela
USP-SP/GREA.