Amor, luz que não se acaba
“Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.”
(João, 13: 34-35.)
Muitos séculos antes da vinda do Cristo, já era
ensinada no mundo a Regra Áurea, trazida por
embaixadores de Sua sabedoria e misericórdia. É
importante esclarecer que semelhante princípio
era transmitido com maior ou menor
exemplificação de seus expositores. Diziam os
gregos: “Não façais ao próximo o que não
desejais receber dele”, ou ainda, os
hebreus: “O que não quiserdes para vós, não
desejais para o próximo”. Com o Mestre,
todavia, a Regra Áurea é a novidade divina, por
ter Jesus ensinado e exemplificado não com
virtudes parciais, mas em plenitude de trabalho,
abnegação e amor, revelando-se aos olhos de toda
a humanidade.
Quando Ele pronunciava a palavra Amor, os povos
sobressaltavam-se e os mártires, ébrios de
esperança, desciam ao circo para serem
sacrificados, porque havia neles o amor, resumo
de toda doutrina trazida pelo Messias.
O espírito precisa ser cultivado como um campo;
toda a riqueza futura dependerá do labor atual
que granjearmos muito mais do que os bens
terrenos, alcançando assim a nossa elevação
gloriosa. Assim, quando rogamos a Deus que nos
abençoe é preciso que nos conciliemos a cada
manhã com todos e com todas as coisas,
agradecendo as dádivas ou lições que nos são
ofertadas. Poderemos solicitar proteção, mas é
preciso amparar os irmãos de experiência
cotidiana, dentro dos recursos que se façam
possíveis. Por vezes, suplicamos o auxílio do
Senhor na sustentação de nossa paz, contudo, é
importante não sonegarmos o amparo para que haja
sustentação na paz do outro. Afirma-nos o
Evangelho que para Deus nada é impossível, mas
decerto o Pai espera que cada um de nós faça o
possível ao nosso próprio favor.
Em qualquer parte, não poderemos agir
isoladamente em se tratando da obra de Deus,
pois Ele estabeleceu a cooperação como princípio
dos mais nobres, santificando, assim, os laços
que Jesus promoveu ao bem de nossa alma e de
todos que nos cercam. Na comemoração da Páscoa,
por exemplo, o meigo Rabi deixou o ensinamento
que marca o novo tempo: “Um mandamento vos
dou: Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos
amei. Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros”
(João, 13:31-35).
Se o amor ao próximo constitui o princípio da
caridade, amar os adversários é a sublime
aplicação deste advento, porquanto a posse desta
virtude representa uma das maiores vitórias
alcançadas contra o egoísmo e o orgulho,
lembrando que o amor que se coloca a serviço da
humildade é o amor que perdoa e é perdoado, como
esclarece o evangelista Mateus, no capítulo 6,
versículo 12.
Só o amor é bastante forte para libertar-nos do
cativeiro de nossos delitos. Por isso é
importante entendermos que, ao ferirmos o outro,
encarceramo-nos nas consequências lamentáveis da
própria atitude; porém, ao ajudarmos,
adquiriremos o tesouro da simpatia. Quem perdoa
eleva-se, mas quem se vinga desce aos
despenhadeiros das sombras. Tudo é fácil para
quem cultiva a verdadeira fraternidade, porque o
amor pensa, fala e age estabelecendo o caminho
em que se atirará livre e feliz, para a glória
da vida imortal. Se desejarmos avançar para a
luz, aprendamos a desculpar infinitamente,
porque o céu da liberdade ou o inferno da
condenação residem na intimidade de nossa
própria consciência. Por este motivo o Mestre
ensinou-nos a pedir na oração a Deus: “Pai,
perdoa as nossas dívidas, à medida que perdoamos
aos nossos devedores”. Usemos a cada hora a
compaixão sem medida e o perdão sem limites,
lembrando-nos que, perante os nossos males,
Jesus exclama complacente: “Em verdade, Eu
não vim para curar os sãos”. Recordamos,
assim, da Primeira Carta de João,
capítulo 4, versículo 18: “O perfeito amor
lança fora o temor”. Para que a nossa alma
se expanda sem receio, através das realizações
que o Senhor nos confia, não basta o imperfeito
amor que estipula salários de gratidão ou que se
isola na estufa do carinho particular. É
necessário rendermos culto ao perfeito amor que
tudo ilumina e a todos atende sem distinção, não
paralisando o impulso do amor fraterno diante
daqueles que nos parecem equivocados,
calando-nos diante da crítica destrutiva e
pronunciando o verbo que sirva de reconforto.
Ressurgindo no Espiritismo, o Evangelho nos faz
sentir que retornamos à carne para reaprender e
regenerar. Na engrenagem da vida, cada qual é
peça importante com funções específicas, pois
ninguém recebe conhecimento superior tão só para
o próprio proveito. Saibamos, pois, dividir o
tesouro da compreensão em parcelas de bondade,
revisando as sendas trilhadas, a fim de
amadurecermos no entendimento da estrada.
Reflitamos nisso e perceberemos que Deus jamais
nos deixou naufragar. Reconheceremos que a
divina Providência, que nos resguarda pelo
devotamento de braços alheios, espera agora que
sejamos a proteção aos nossos irmãos mais
fracos, porque ninguém consegue adivinhar os
prodígios do amor que poderão nascer de um
simples gesto de bondade perante um coração
infeliz.
Amando-nos uns aos outros, uma nova luz brotará
no terreno vivo da nossa alma, mostrando-nos que
só o trabalho no serviço ao próximo é capaz de
conduzir-nos à comunhão com a verdadeira
felicidade que decorre de nosso ajustamento à
Lei de Deus. Seja qual for a dificuldade, não
desertemos do amor que todos devemos ter uns
para com os outros. E caso recebamos em troca
pedra e ódio, vinagre e fel, continuemos firmes
auxiliando sempre, porque é possível que
estejamos hoje, na Terra, diante dos outros ou
os outros diante de nós, pela última vez.
Herdeiros do Pai, raios de Sua inteligência
infinita, Amor eterno de toda a criação, em tudo
e em toda parte, é da legislação por Ele
estatuída que cada Espírito reflita livremente,
transformando-se aqui e ali, na luz ou na treva,
na alegria ou na dor a que empenharmos o
coração. O apóstolo Paulo, na Carta aos
Filipenses, capítulo 1, versículo 9,
orienta: “Que vosso amor cresça cada vez mais
no pleno conhecimento e em todo o
discernimento”. Na advertência de Paulo,
fica clara a necessidade de não desviarmos do
significado do amor, deturpando-o com nossos
sentimentos menos evoluídos, que se expressariam
em relações perturbadoras como a inveja, o
ciúme, o egoísmo, o apego excessivo a coisas e
pessoas. Por isso a importância de nos
instruirmos para conhecer, educando-nos para
discernir; crescendo em valores morais e
espirituais para a eternidade, porque muitas
vezes o nosso amor é simplesmente querer, e, tão
somente com o querer, é possível desfigurar,
impensadamente, os mais belos quadros da
existência.
Somos todos Espíritos a caminho dessa luz
inesgotável que é Deus, e, como mariposas
solitárias, volitamos em torno dela, sem ainda
suportar a caridade que nos desnuda a alma de
toda a vaidade e orgulho. Não precisamos chegar
em primeiro lugar; precisamos apenas chegar,
respeitando o ritmo e a condição dos amigos
anônimos que Deus coloca em nosso caminho.
Ninguém poderá estar diante Dele com as mãos
vazias. Precisamos levar conosco as flores
sublimes da caridade, pois, jamais alguém
conseguirá, por mais rico e importante que seja,
amealhar as sementes da caridade sem aprender
primeiramente a amar a si mesmo, para então amar
o seu próximo. Tendo fé e confiança em nós
mesmos, na nossa capacidade de amar, de perdoar
e evoluir até a plenitude do ser, poderemos ir
ao encontro do Pai de amor e compaixão e
ficarmos para sempre na Sua casa, como filhos
pródigos, formando um só rebanho com um só
Pastor.
Bibliografia:
XAVIER, F. C.– Justiça Divina –
ditado pelo Espírito Emmanuel – 14ª edição –
Editora FEB – Brasília/DF - lições 19 e 22 –
2018.
XAVIER, F. C. – O Consolador –
ditado pelo Espírito Emmanuel – 29ª edição –
Editora FEB – Brasília/DF - questão 344 – 2013.
RIBEIRO, Saulo César –
coordenação – O Evangelho por Emmanuel
segundo João – 1ª edição – Editora FEB –
Brasília/DF - páginas 187, 191 e 194 – 2015.