Massa!
Passei dois dias na cidade de Juiz de Fora (MG). Fui
fazer palestra e divulgar o livro “Fome de Quê?”,
organizado e idealizado por mim.
Conheço pouco Juiz de Fora, mas como fiquei hospedado
próximo ao Parque Halfeld e à Rua Halfeld, locais nobres
e badalados, aproveitei para caminhar por eles antes de
vir embora. O Parque Halfeld (nome do fundador da
cidade) é, na verdade, uma praça muito arborizada.
A cidade é a terceira ou quarta maior do Estado. Tem uma
população de 500.000 pessoas, aproximadamente. E tem
também problemas inerentes a cidades desse porte.
Passando pelo Parque Halfeld, avistei alguns rapazes
vendendo bijuterias artesanais. Rapazes que vivem nas
praças usam roupas estilo hippie, cabelos longos ou
rastafári, alguns fumam maconha...
Grupos como esses são, em geral, invisíveis para os
cidadãos comuns. Ou seja, são ignorados, discriminados.
Devem ser malvistos devido ao estilo de vida que levam.
Eu tinha duas opções para passar pelo Parque Halfeld em
direção ao calçadão da Rua Halfeld: ir pela calçada
beirando a rua ou passar pelo caminho mais próximo ao
jardim, onde tais rapazes conversavam.
Na véspera, na palestra que proferi na Fundação Espírita
Allan Kardec (Feak), havia falado sobre gentileza, entre
outros assuntos. Abordei a questão de tratarmos bem as
pessoas, nunca discriminarmos etc. Por isso, quando
passei por entre os rapazes, sorri para todos e disse
bom-dia. Um deles arregalou os olhos, interrompeu a
conversa e, surpreso, disse: – Ô, bom-dia! Massa!
O “Massa!” é por conta de ele ter gostado muito do meu
cordial e despojado cumprimento. Sorri para ele e
atravessei a rua pensando como pequenos gestos fazem a
diferença para melhor e de como andamos endurecidos em
relação à vida. Se meu bom-dia gerou um “Massa!” dito
com tanto contentamento é porque aquele grupo já está
acostumado a ser ignorado ou maltratado. Discriminar
torna-se algo tão banal que os cidadãos de bem (odeio
isso!) já não enxergam aqueles moços, pobres moços, como
semelhantes. Se enxergassem, decerto a situação deles
seria outra. Pelo menos haveria mais sorrisos em seus
rostos, bem como a sensação de pertencimento. Nada mais
triste do que você ser alijado de um grupo social e
viver à margem, sem ao menos ser notado.
Na manhã de 31 de janeiro de 2019, no Parque Halfeld, em
Juiz de Fora (MG), sem querer abri uma janela para que
aqueles rapazes respirassem um pouco e se sentissem o
que eles são, apesar de muitos não considerarem: parte
integrante do meio social.
Massa!