Depois do carnaval...
Há, nas festividades de Momo, desregramentos de várias
ordens. É o momento em que os magotes, em torno de sons
estridentes, põem para fora todos os seus desejos
inconfessáveis. Cria-se, portanto, um caldo psíquico
negativo e bastante suscetível aos acontecimentos mais
infelizes.
O apóstolo já advertiu na antiguidade: “Tudo me é
permitido, mas nem tudo me convém” (1 Coríntios
6:12).
Fosse o carnaval uma reunião de pessoas para
brincadeiras sadias, sátiras aos governos, enfim, uma
reunião salutar no clima de paz, não haveria problemas.
No entanto, tais festividades são regadas por
pensamentos extremamente doentios; violentos; sensuais e
que favorecem comportamentos indignos.
Por meio da mediunidade de Raul Teixeira, o Espírito
Thereza de Brito esclarece: “Muita gente se expressa
com honestidade, asseverando que vai para o carnaval sem
intenções malévolas, que vai apenas pela distração, pela
empolgação, pelo movimento. Entretanto, a sintonização
está formada. Mergulhados nas mesmas energias em que
todos se encharcam, em franca cadeia de interesses
similares, toda a gente se mantém no mesmo caldo de
nutrição psíquica. Assim, a boa intenção contrasta com a
inutilidade e materialidade dos referidos interesses,
não tendo, então, a bem-intencionada inocência ou a
escusa que a si mesmo se atribui”. (Vereda
Familiar, p. 92).
Manoel Philomeno de Miranda, por intermédio de Divaldo
Franco, diz: “Nas proximidades do sambódromo, o local
mais parecia uma praça de guerra, burlescamente
apresentada, em que o ridículo e a dor se ajustavam em
pantomina de aflição. Dr. Bezerra disse então ao seu
amigo: Não se creia que todos quantos desfilam nos
carros do prazer se encontrem em festa. Incontáveis têm
a mente subjugada por problemas de que procuram fugir,
usando o corredor enganoso que leva à loucura; diversos
suicidam-se, propositalmente, pensando escapar às
frustrações que os atormentam em longo curso; numerosos
anseiam por alianças de felicidade que os momentos de
sonho parecem prometer, despertando, depois, cansados e
desiludidos... Raros divertem-se, descontraem-se
sadiamente, desde que os apelos fortes se dirigem à
consunção de todas as reservas de dignidade e respeito
nas fornalhas dos vícios e embriaguez dos sentidos" (Nas
Fronteiras da Loucura, p. 54).
Não nos iludamos, as consequências são muitas.
Justifica-se que o faturamento com o turismo é altíssimo
e que há uma compensação no setor de comércio, pelos
dias parados, em decorrência das festividades. Mas, será
mesmo? Em que medida os lucros advindos do turismo pagam
os atos tresloucados que vão afetar outros setores da
sociedade? Há consequências diretas e indiretas que, ao
meu ver, são impagáveis. Esclareço:
1. Perda
da produtividade. O
país, literalmente, para por 4 (quatro) dias de
carnaval. Em alguns locais do país, as festividades se
estendem e há mais dias de atividades laborais (escolas,
universidades, comércios, serviços) suspensas. Quanto
representa isso aos cofres públicos?
2. Mortes
nas estradas. Fora
de dúvidas que há um aumento absurdo de mortes violentas
nas estradas por conta do feriado prolongado de
carnaval. E, também, por um sem-número de fatores:
estradas em péssimas condições de tráfego; grande fluxo
de veículos que vão para as festividades ou que delas
querem fugir; a combinação nefasta de álcool e direção;
a irresponsabilidade na direção (excesso de velocidade,
ultrapassagens proibidas etc.).
3. Turismo
sexual. Não
sejamos ingênuos ou hipócritas para o gravíssimo
problema da exploração sexual, sobretudo, infantil. As
mulheres brasileiras, lamentavelmente, são conhecidas no
exterior pela sensualidade/sexualidade e isso é
explorado. Há um combate por parte dos órgãos do Estado.
Mas ainda muito tímidos e o turismo reprochável ainda
perdura. Muitas meninas (crianças) se enveredam pela
prostituição por falta de recursos materiais,
desestruturação familiar, falta de uma rede de apoio do
Estado, enfim. O problema existe e não se pode fechar os
olhos para isto.
4. Atentado
ao pudor. Ora,
nestes eventos momescos há claríssimos atentados ao
pudor. Pessoas mantêm relações sexuais em público. Fato
que nos dias comuns não seria tolerado, mas que no
carnaval é “aceitável” pela turba.
5. Desrespeito
às mulheres. Conforme
mencionado no item 3, a mulher é vista como objeto
sexual. Há vários homens que forçam as situações mais
constrangedoras; violentam-nas; enfim, algo ainda
deplorável e persistente na sociedade, embora haja
campanhas de conscientização para que isto não ocorra.
6. Destruição
de famílias. Relacionamentos
de vários anos, famílias inteiras são destruídas por
conta dos comportamentos espúrios no carnaval. Traições
diversas são contumazes...
7. Proliferação
de doenças sexualmente transmissíveis. Por
conta dos atos tresloucados há uma contaminação de
diversas pessoas com doenças venéreas. E, por extensão,
a contaminação da parceira ou parceiro na volta para os
lares (um efeito em cascata e criminoso). Para além
disso, vidas são geradas na loucura dos dias de carnaval
e, ao se descobrirem as gestações, algumas pessoas
retiram os fetos (na maior parte das vezes de maneira
precária, insegura e ilegal).
8. Brigas,
mortes. Envoltas
pela psicosfera deletéria, sob o efeito de álcool e
outras drogas, as pessoas partem para brigas,
utilizam-se de facas, armas de fogo, enfim, objetos
diversos para eliminar o outro. Não é difícil ver no
meio da turba pessoas a brigarem e a agredirem
covardemente uns aos outros. E se um desses asselvajados
cai ao chão, o massacre é certo! As consequências são
óbvias: mortes, paralisias, sequelas as mais variadas.
9. Depredação
do patrimônio público. Tomados
pelo ímpeto da ignorância e da truculência, muitos
vândalos destroem o patrimônio público: transportes
públicos; lojas; monumentos; entre outros. Tudo em nome
da “diversão”.
10. Corrupção. Não
precisa de muita ginástica mental para depreender que o
carnaval serve de lavagem de dinheiro; corrupção; jogo
do bicho; tráfico de drogas e armas; prostituição. É a
hipocrisia reinante na festa momesca em nome da
“diversão”...
11. Desigualdade
social. Muitos
pobres trabalham durante todo o ano nos barracões das
escolas de samba, para que outras pessoas de maior poder
aquisitivo possam desfrutar da festa. Fantasias
caríssimas são vendidas e aquele que a produziu trabalha
em condições indignas; muitas vezes voluntariamente; em
síntese: um trabalho reificado. E, lamentavelmente, o(a)
trabalhador(a) mal sabe que é um alienado e apenas uma
peça de uma engrenagem maior. Ao fim e ao cabo, quem
lucra são os poderosos da mídia; do jogo do bicho; do
tráfico; enfim. E os “trabalhadores reificados” quase
nunca podem desfrutar de tais festejos. O mesmo ocorre
em blocos com “abadás” caríssimos. É explícita a
diferença entre aqueles que podem usufruir e aqueles que
não podem ter acesso sob risco de serem violentados por
seguranças e policiais.
12. Alienação. Sim,
o carnaval serve como um momento de desforra; de
alienação; de anestesia da realidade. E de mote para
todos os desvarios. Na esteira desse processo,
importantes pautas públicas são feitas no apagar das
luzes e, quando a turba desperta para a realidade, as
medidas muitas vezes ruins já foram tomadas.
13. Suicídio. Quantos
suicídios diretos e indiretos são cometidos durante o
período de carnaval? Quantos casos tenebrosos que não
são noticiados?
14. Abortos
e Estupros. Quantos
são os casos de estupros não notificados nas secretarias
de segurança pública? Quantos são os casos de abortos
clandestinos? Quantas são as gravidezes indesejadas?
Sob o ponto de vista espiritual, a literatura espírita
demonstra de maneira fecunda que as consequências são
complexas e dolorosas. Difíceis casos de obsessão são
forjados nesses momentos; suicídios são cometidos e os
desdobramentos já conhecemos; desestruturação familiar,
enfim...
Embora a riqueza dos desfiles, as críticas por meio das
músicas e fantasias/alegorias, cumpre a pergunta:
compensa mesmo?
Será que vale realmente a pena investir nessas festas?
Felizmente, muitos grupos das mais variadas religiões
não gostam de tais energias. Preferem se reunir para
orar; outros existem que preferem estar em meditação; em
descanso em locais de natureza; ou no contato mais
próximo com a família. É uma questão de escolha.
Infelizmente ainda vai perdurar por um bom tempo na
cultura o carnaval. Muitas pessoas ainda vão morrer ou
se comprometer terrivelmente sob o ponto de vista
ético-moral.
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