Cinco-marias

por Eugênia Pickina

Criança precisa de poesia


Quando eu ainda não sabia ler, brincava com os livros e imaginava-os cheios de vozes, contanto o mundo
. Cecília Meireles


Além de livros de histórias e contos, poemas podem fazer parte da rotina infantil, porque a poesia ajuda as crianças a descobrirem formas, sons e interpretações de palavras distintas, dando-lhes também repertório estético e cultural desde cedo.

Versos e rimas naturalmente cativam as crianças. Não é sem razão que Carlos Drummond de Andrade escreveu que “as crianças, de modo geral, são poetas” e, por isso, a meninazinha, por exemplo, brinca contente inspirada pelo ritmo das palavras, enquanto o meninozinho inventa sons engraçados no quintal, experimentando a sonoridade da comunicação humana – uma brincadeira muito interessante.

Sempre insisto com os pais: leiam poesia para os seus filhos, deem a eles livros de poesia. Temos, no Brasil, inúmeros poetas que escreveram lúdicos poemas para as crianças: Cecília Meireles, Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira…

Sei de pessoas que, por exemplo, aos 40 anos, 50 anos, percebem-se desmotivadas, ressequidas do ponto de vista criativo. O terapeuta lhes indica alguma oficina de arte e, no meio de uma atividade de costura ou dobradura, um deles descobre a existência da poesia; e, depois, exercitando poesia amadora em casa, nota-se abastecido do lúdico, e, de novo inspirado, retorna à rotina alegre e determinado, pois a vida é tanto para viver como para ser reinventada…

Repito aos pais: quando a criança tem contato com a poesia, ela tem a chance de considerar as palavras também como brinquedos interessantes e, por isso, sujeitas a improvisações, percepções melódicas, inusitados achados verbais... E isso faz parte das felizes descobertas na infância…

Hoje, ou em algum tranquilo instante, leia, e  cheio de alegria, para o seu filho ou a sua filha:

 

As meninas

 

Arabela

abria a janela.

Carolina

erguia a cortina.

E Maria

olhava e sorria:

“Bom dia!”

Arabela

foi sempre a mais bela.

Carolina,

a mais sábia menina.

E Maria

apenas sorria:

“Bom dia!”

 

Pensaremos em cada menina

que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,

uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade

é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:

“Bom dia!”

(Cecília Meireles)

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita