Obesidade infantil e o papel dos pais
Os fenômenos humanos são biológicos em suas raízes,
sociais em seus fins e mentais em seus meios. Jean
Piaget
Estima-se que hoje, no Brasil, 10% das crianças estejam
obesas, sendo este número muito maior quando se
considera a faixa de sobrepeso, isto, é, de crianças que
estão acima do peso ideal para idade e altura.
A obesidade é multifatorial. Mães obesas, por exemplo,
tendem a gerar filhos que serão obesos, mas os hábitos
alimentares têm um peso muito grande. A sociedade
moderna trouxe muitas vantagens, no entanto também criou
comida de caixinha, falta de tempo para cozinhar em
casa, sedentarismo…
A causa da obesidade infantil não é só o hambúrguer com
batata frita ingerido eventualmente, depois do cinema. O
problema está nos hábitos familiares, repetidos no dia a
dia. Ou seja, o consumo exagerado de lanches gordurosos
é apenas parte de um padrão alimentar ruim, adquirido
pelas crianças obesas ainda muito pequenas, e no
cotidiano da família. Esse padrão, por exemplo, inclui
poucas frutas e vegetais, muito alimento processado e
abundância de bebidas açucaradas.
Crianças seguem exemplos, e os pais devem ter uma
atitude alimentar coerente com elas a fim de que a
educação alimentar seja saudável e eficaz. Não dá para o
pai comer um pastel e oferecer uma maçã para a criança.
Ter um comportamento alimentar e cobrar outro diferente
é incoerente e ineficaz. Repetindo: não dá para os pais
comerem mal e acharem que seus filhos vão comer legumes,
verduras e frutas se não tiverem um modelo para isso.
É comum os pais tentarem compensar um dia inteiro de
trabalho, longe dos filhos, com comidas prontas, como fast-food ou pizza.
A facilidade do acesso a produtos ultraprocessados
também é um problema.
Comer é social. E, por isso, o ato de comer faz parte do
aprendizado infantil. Pais que comem mal estão ensinando
seus filhos a comerem mal. Por sua vez, bons hábitos
alimentares implicam uma rotina familiar com “comida de
verdade”. A criança também precisa aprender a comer
junto com a família, pois nada mais atrativo para os
filhos do que ter as suas refeições divididas com os
seus pais.
Muita gente no Brasil ainda valoriza a criança gordinha,
que é vista como saudável. O que as pessoas precisam
entender, definitivamente, é que ter saúde e alimentação
saudável é um direito da criança.
Notinhas
O tratamento da obesidade infantil não pode limitar-se à
criança nem a um profissional. A obesidade surge no
contexto familiar e, por isso, a família toda precisa
ser tratada e reeducada.
A obesidade pode desencadear quadros de doenças mentais
ou problemas de relacionamento, incluindo: depressão,
isolamento social, solidão, bullying, disfunções
alimentares, como bulimia ou anorexia, baixa autoestima.
Algumas dicas que ajudam a prevenir a obesidade
infantil: introdução alimentar correta aos 6 meses de
idade – importante para a aceitação de variedade e
quantidade de alimentos com o passar dos anos; evitar a
oferta precoce de alimentos indevidos para a idade.
Exemplo: açúcar antes dos dois anos; estimular desde
cedo a atividade física para que seja feita
prazerosamente; estimular bons hábitos à mesa – sem
eletrônicos durante as refeições; não encher o prato e
exigir que coma tudo, respeitando a saciedade da
criança; estimular um tempo maior de refeição, sem
necessidade de terminar rápido; e evitar o excesso de
líquidos no momento da refeição, principalmente os
calóricos com açúcar; evitar o consumo de fast-food,
frituras, doces e bebidas calóricas (sucos e
refrigerantes, por exemplo).
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