Internacional
por Thiago Bernardes

Ano 14 - N° 665 - 12 de Abril de 2020

Há 93 anos desencarnou Léon Denis, o maior escritor espírita depois de Kardec


Quando se fala em divulgação espírita, um nome que ninguém pode ignorar é o de Léon Denis, que desencarnou num dia como hoje – 12 de abril – há 93 anos, ou seja, em 1927.

Natural de Foug, França, Denis foi, ao lado de Gabriel Delanne e Camille Flammarion, um dos principais continuadores da obra iniciada por Allan Kardec e autor de clássicos como No InvisívelDepois da MorteCristianismo e Espiritismo e O Problema do Ser, do Destino e da Dor, entre outros.

A aldeia em que nasceu no dia 1º de janeiro de 1846 – Foug – situava-se nos arredores de Tours.

Nascido em uma família de poucos recursos, cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os pesados encargos da família. Mas, desde seus primeiros passos no mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Em vez de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia muito, sobretudo livros sérios, com o que conseguiu, com esforço próprio, desenvolver sua inteligência, tornando-se um autodidata aplicado e competente.

Com 18 anos, tornou-se representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o obrigou a viajar com frequência, situação que se manteve ao longo da vida, mesmo após aposentar-se.

Adorava música e, desde que surgisse oportunidade, gostava de assistir a óperas e concertos. Por hobby, costumava dedilhar, no piano, árias conhecidas e de tirar acordes para seu próprio devaneio. Não fumava, era quase vegetariano e não fazia uso de bebidas fermentadas. A água era sua bebida ideal.

Iniciação no Espiritismo

Tendo por hábito visitar as livrarias das cidades aonde ia, por força do ofício, certo dia sua atenção foi despertada para a obra que deu origem à doutrina espírita: O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Ele a adquiriu e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se com avidez à leitura. Denis contava, então, 18 anos de idade.

Anos depois, em 1882, iniciou seu apostolado nas lides espíritas, durante o qual teve de enfrentar inúmeros e sucessivos obstáculos vindos de intelectuais partidários do materialismo e do positivismo, bem como de profitentes de diferentes correntes religiosas, que não tinham pudor em aliar-se aos ateus, com o objetivo de ridicularizá-lo e pô-lo fora de ação.

Eles não sabiam, porém, com quem estavam lidando, e Léon Denis, como bom paladino, enfrentou a tempestade, com o apoio dos companheiros invisíveis que o encorajavam e exortavam à luta. "Coragem, amigo − disse-lhe o Espírito de Jeanne − estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a tua obra.”

No dia 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um fato de capital importância produziu-se na sua vida: a manifestação, pela primeira vez, de um Espírito que haveria de ser seu guia, seu melhor amigo, seu pai espiritual: Jerônimo de Praga, que então lhe disse: “Vai, meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar”.

A obra de Denis

Dentre os grandes apóstolos do Espiritismo, a figura exponencial de Léon Denis merece referência toda especial, principalmente em vista de ter sido o continuador lógico da obra de Allan Kardec. É possível afiançar mesmo que constitui tarefa sumamente difícil tentar biografar essa grande vida, dada a magnitude de sua missão terrena, na qual muito há para salientar: a sua personalidade contagiante, o bom senso de que era dotado, a operosidade no trabalho, a dedicação ímpar aos seus semelhantes e o depurado amor que devotava aos ideais que esposava.

Léon Denis foi o consolidador do Espiritismo. Não foi apenas o substituto e continuador de Allan Kardec, como geralmente se pensa. Denis tinha uma missão quase tão grandiosa quanto a do Codificador. Cabia-lhe desenvolver os estudos doutrinários, dar continuidade às pesquisas mediúnicas, impulsionar o movimento espírita na França e no mundo, aprofundar o aspecto moral da Doutrina e, sobretudo, consolidá-la nas primeiras décadas do século 20.

Sua bibliografia é bastante vasta e composta de obras monumentais que enriquecem as bibliotecas espíritas. Deve-se a ele a oportunidade ímpar que os espíritas tiveram de ver ampliados novos ângulos do aspecto filosófico da Doutrina Espírita, pois suas obras de um modo geral focalizam numerosos problemas que assolam os homens e também a sempre momentosa questão da sobrevivência da alma humana em seu laborioso processo evolutivo. Léon Denis imortalizou-se na gigantesca tarefa de dissecar problemas atinentes às aflições que acometem os seres encarnados, fornecendo valiosos subsídios no sentido de lançar novas luzes sobre a problemática das tribulações terrenas; deixou de lado os conceitos até então prevalecentes para apresentá-la aureolada de ensinamentos altamente consoladores, hauridos nas fontes inesgotáveis da Doutrina dos Espíritos.

Dedicando-se ao estudo aprofundado do Espiritismo, em seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, demorou-se com maior persistência na abordagem do seu aspecto filosófico. Concomitantemente com os seus profundos estudos nesse campo, também deu a sua contribuição valiosa na abordagem e no estudo de assuntos históricos, fornecendo importantes subsídios no sentido de esclarecer as origens celtas da França e no tocante ao dramático episódio do martírio de Joana d'Arc, a grande médium francesa. Seus estudos não pararam aí; ele preocupou-se sobremaneira com as origens do Cristianismo e seu processo evolutivo através dos tempos.

Dentre as suas múltiplas ocupações, foi presidente de honra da União Espírita Francesa, membro honorário da Federação Espírita Internacional, presidente do Congresso Espírita Internacional, realizado em Paris, no ano de 1925. Teve também a oportunidade de dirigir, durante longos anos, um grupo experimental de Espiritismo, na cidade francesa de Tours.

A desencarnação

Quando estava com 64 anos, isto é, a partir de 1910, a visão de Léon Denis foi, dia após dia, enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos antes, não surtira efeito, mas ele suportava com calma e resignação a difícil prova. Seus companheiros jamais o viam queixar-se, porque ele nunca se aborrecia, era inimigo da tristeza e possuía a alegria da alma. O mal físico certamente era para ele bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias substituíam-no nesse ofício. Mas era grande a dificuldade que ele enfrentava para rever e corrigir as novas edições de seus livros e de seus escritos.

Finda a 1ª Guerra Mundial em 1918, Léon Denis aprendeu braile. Ele contava então 72 anos. Graças a esse expediente, pôde registrar em papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao Espírito, visto que nessa época de sua vida ele estava praticamente cego.

Em março de 1927, com 81 anos de idade, ele concluiu o manuscrito que intitulou de O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Nesse mesmo mês, a Revue Spirite publicou seu último artigo.

No dia 12 de abril de 1927, respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia o havia atacado novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas seu estado de lucidez era perfeito. Suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar da muita dificuldade, foram dirigidas à sua funcionária Georgette: “É preciso terminar, resumir e... concluir”. Era uma alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Nesse preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças, para que pudesse articular outras palavras. Às 21h seu Espírito desprendeu-se, mas seu semblante parecia ainda em êxtase.

As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de abril. A seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de qualquer Igreja confessional. Seu corpo está sepultado no cemitério de La Salle, em Tours.

 

Nota da Redação:

O leitor encontrará mais informações sobre a vida e a obra de Léon Denis, inclusive a relação de seus livros, clicando aqui

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita