Há 93 anos desencarnou Léon Denis, o
maior escritor espírita depois de Kardec
Quando se fala em divulgação espírita, um nome que
ninguém pode ignorar é o de Léon Denis, que desencarnou
num dia como hoje – 12 de abril – há 93 anos, ou seja,
em 1927.
Natural de Foug, França, Denis foi, ao lado de Gabriel
Delanne e Camille Flammarion, um dos principais
continuadores da obra iniciada por Allan Kardec e autor
de clássicos como No Invisível, Depois da
Morte, Cristianismo e Espiritismo e O
Problema do Ser, do Destino e da Dor, entre outros.
A aldeia em que nasceu no dia 1º de janeiro de 1846 –
Foug – situava-se nos arredores de Tours.
Nascido em uma família de poucos recursos, cedo
conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os
pesados encargos da família. Mas, desde seus primeiros
passos no mundo, sentiu que os amigos invisíveis o
auxiliavam. Em vez de participar em brincadeiras
próprias da juventude, procurava instruir-se o mais
possível. Lia muito, sobretudo livros sérios, com o que
conseguiu, com esforço próprio, desenvolver sua
inteligência, tornando-se um autodidata aplicado e
competente.
Com 18 anos, tornou-se representante comercial da
empresa onde trabalhava, fato que o obrigou a viajar com
frequência, situação que se manteve ao longo da vida,
mesmo após aposentar-se.
Adorava música e, desde que surgisse oportunidade,
gostava de assistir a óperas e concertos. Por hobby,
costumava dedilhar, no piano, árias conhecidas e de
tirar acordes para seu próprio devaneio. Não fumava, era
quase vegetariano e não fazia uso de bebidas
fermentadas. A água era sua bebida ideal.
Iniciação no Espiritismo
Tendo por hábito visitar as livrarias das cidades aonde
ia, por força do ofício, certo dia sua atenção foi
despertada para a obra que deu origem à doutrina
espírita: O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Ele a adquiriu e, recolhendo-se imediatamente ao lar,
entregou-se com avidez à leitura. Denis contava, então,
18 anos de idade.
Anos depois, em 1882, iniciou seu apostolado nas lides
espíritas, durante o qual teve de enfrentar inúmeros e
sucessivos obstáculos vindos de intelectuais partidários
do materialismo e do positivismo, bem como de
profitentes de diferentes correntes religiosas, que não
tinham pudor em aliar-se aos ateus, com o objetivo de
ridicularizá-lo e pô-lo fora de ação.
Eles não sabiam, porém, com quem estavam lidando, e Léon
Denis, como bom paladino, enfrentou a tempestade, com o
apoio dos companheiros invisíveis que o encorajavam e
exortavam à luta. "Coragem, amigo − disse-lhe o Espírito
de Jeanne − estaremos sempre contigo para te sustentar e
inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em
tempo, para bem cumprires a tua obra.”
No dia 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um fato de
capital importância produziu-se na sua vida: a
manifestação, pela primeira vez, de um Espírito que
haveria de ser seu guia, seu melhor amigo, seu pai
espiritual: Jerônimo de Praga, que então lhe disse:
“Vai, meu filho, pela estrada aberta diante de ti.
Caminharei atrás de ti para te sustentar”.
A obra de Denis
Dentre os grandes apóstolos do Espiritismo, a figura
exponencial de Léon Denis merece referência toda
especial, principalmente em vista de ter sido o
continuador lógico da obra de Allan Kardec. É possível
afiançar mesmo que constitui tarefa sumamente difícil
tentar biografar essa grande vida, dada a magnitude de
sua missão terrena, na qual muito há para salientar: a
sua personalidade contagiante, o bom senso de que era
dotado, a operosidade no trabalho, a dedicação ímpar aos
seus semelhantes e o depurado amor que devotava aos
ideais que esposava.
Léon Denis foi o consolidador do Espiritismo. Não foi
apenas o substituto e continuador de Allan Kardec, como
geralmente se pensa. Denis tinha uma missão quase tão
grandiosa quanto a do Codificador. Cabia-lhe desenvolver
os estudos doutrinários, dar continuidade às pesquisas
mediúnicas, impulsionar o movimento espírita na França e
no mundo, aprofundar o aspecto moral da Doutrina e,
sobretudo, consolidá-la nas primeiras décadas do século
20.
Sua bibliografia é bastante vasta e composta de obras
monumentais que enriquecem as bibliotecas espíritas.
Deve-se a ele a oportunidade ímpar que os espíritas
tiveram de ver ampliados novos ângulos do aspecto
filosófico da Doutrina Espírita, pois suas obras de um
modo geral focalizam numerosos problemas que assolam os
homens e também a sempre momentosa questão da
sobrevivência da alma humana em seu laborioso processo
evolutivo. Léon Denis imortalizou-se na gigantesca
tarefa de dissecar problemas atinentes às aflições que
acometem os seres encarnados, fornecendo valiosos
subsídios no sentido de lançar novas luzes sobre a
problemática das tribulações terrenas; deixou de lado os
conceitos até então prevalecentes para apresentá-la
aureolada de ensinamentos altamente consoladores,
hauridos nas fontes inesgotáveis da Doutrina dos
Espíritos.
Dedicando-se ao estudo aprofundado do Espiritismo, em
seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião,
demorou-se com maior persistência na abordagem do seu
aspecto filosófico. Concomitantemente com os seus
profundos estudos nesse campo, também deu a sua
contribuição valiosa na abordagem e no estudo de
assuntos históricos, fornecendo importantes subsídios no
sentido de esclarecer as origens celtas da França e no
tocante ao dramático episódio do martírio de Joana
d'Arc, a grande médium francesa. Seus estudos não
pararam aí; ele preocupou-se sobremaneira com as origens
do Cristianismo e seu processo evolutivo através dos
tempos.
Dentre as suas múltiplas ocupações, foi presidente de
honra da União Espírita Francesa, membro honorário da
Federação Espírita Internacional, presidente do
Congresso Espírita Internacional, realizado em Paris, no
ano de 1925. Teve também a oportunidade de dirigir,
durante longos anos, um grupo experimental de
Espiritismo, na cidade francesa de Tours.
A desencarnação
Quando estava com 64 anos, isto é, a partir de 1910, a
visão de Léon Denis foi, dia após dia, enfraquecendo. A
operação a que se submetera, dois anos antes, não
surtira efeito, mas ele suportava com calma e resignação
a difícil prova. Seus companheiros jamais o viam
queixar-se, porque ele nunca se aborrecia, era inimigo
da tristeza e possuía a alegria da alma. O mal físico
certamente era para ele bem menor do que a angústia que
experimentava pelo fato de não mais poder manejar a
pena. Secretárias substituíam-no nesse ofício. Mas era
grande a dificuldade que ele enfrentava para rever e
corrigir as novas edições de seus livros e de seus
escritos.
Finda a 1ª Guerra Mundial em 1918, Léon Denis aprendeu
braile. Ele contava então 72 anos. Graças a esse
expediente, pôde registrar em papel os elementos de
capítulos ou artigos que lhe vinham ao Espírito, visto
que nessa época de sua vida ele estava praticamente
cego.
Em março de 1927, com 81 anos de idade, ele concluiu o
manuscrito que intitulou de O Gênio Céltico e o Mundo
Invisível. Nesse mesmo mês, a Revue Spirite publicou
seu último artigo.
No dia 12 de abril de 1927, respirava Denis com grande
dificuldade. A pneumonia o havia atacado novamente. A
vida parecia abandoná-lo, mas seu estado de lucidez era
perfeito. Suas últimas palavras, pronunciadas com
extraordinária calma, apesar da muita dificuldade, foram
dirigidas à sua funcionária Georgette: “É preciso
terminar, resumir e... concluir”. Era uma alusão ao
prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Nesse
preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças,
para que pudesse articular outras palavras. Às 21h seu
Espírito desprendeu-se, mas seu semblante parecia ainda
em êxtase.
As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de abril. A
seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de
qualquer Igreja confessional. Seu corpo está sepultado
no cemitério de La Salle, em Tours.
Nota da Redação:
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